titletitleAprender a brincar <subtitle type="text"></subtitle> <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt"/> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/</id> <updated>2025-06-10T22:35:14+00:00</updated> <author> <name>Centro Virtual Camões</name> <email>naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt</email> </author> <generator uri="http://joomla.org" version="1.6">Joomla! - Open Source Content Management</generator> <link rel="self" type="application/atom+xml" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/a-choca-dp5.html?format=feed&type=atom"/> <entry> <title>Quem escreveu <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/a-choca/quem-escreveu-42671-dp8.html"/> <published>2011-03-28T08:29:58+00:00</published> <updated>2011-03-28T08:29:58+00:00</updated> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/a-choca/quem-escreveu-42671-dp8.html</id> <author> <name>Luís Morgado</name> <email>luis.morgado@instituto-camoes.pt</email> </author> <summary type="html">QUEM ESCREVEU?<br /><br />Trindade Coelho<br /><br /><br />José Francisco Trindade Coelho nasceu em Mogadouro a 18 de junho de 1861. Ficou órfão de mãe ainda e criança e partiu para o Porto com o pai onde fez os estudos liceais num colégio interno. Estudou Direito em Coimbra, onde iniciou a sua atividade literária, colaborando em diferentes periódicos e fundando outros.<br /><br />Em 1895 era juiz em Lisboa. À carreira jurídica juntou, na altura, a atividade literária e jornalística, bem como uma importante atividade pedagógica. Nesta sequência, publicou, entre várias, o <em>ABC do Povo </em>(1901), livro adotado oficialmente nas escolas públicas.<br /><br />Em <em>Os meus amores </em>observa-se a recriação de gentes e lugares, motivada pela saudade. O próprio autor esclarece, em <em>Autobiografia</em>, que os contos não teriam existência se vivesse na sua terra.<br /><br />A obra literária de Trindade Coelho revela a tendência de um certo neorromantismo nacionalista e neogarretista.<br /><br />Suicidou-se em Lisboa a 9 de junho de 1908.<br /><br /><br />Algumas obras:<br /><br /><em>Os Meus Amores</em>, 1891<br /><br /><em>A ABC do Povo</em>, 1901<br /><br /><em>In Illo empore</em>, 1902<br /><br /><em>O Primeiro Livro de Leitura</em>, 1903<br /><br /><em>Manual Político do Cidadão Português</em>, 1906<br /><br /><em>Autobiografia e Cartas</em>, 1910<br /><br /><br /><br /><br /><br /><em>Os Meus Amores</em> - contos de Trindade Coelho [encontrar link para Os Meus Amores] http://www.ficcoes.net/biblioteca_conto/os_meus_amores.htm;<br /><br type="_moz" /></summary> <content type="html">QUEM ESCREVEU?<br /><br />Trindade Coelho<br /><br /><br />José Francisco Trindade Coelho nasceu em Mogadouro a 18 de junho de 1861. Ficou órfão de mãe ainda e criança e partiu para o Porto com o pai onde fez os estudos liceais num colégio interno. Estudou Direito em Coimbra, onde iniciou a sua atividade literária, colaborando em diferentes periódicos e fundando outros.<br /><br />Em 1895 era juiz em Lisboa. À carreira jurídica juntou, na altura, a atividade literária e jornalística, bem como uma importante atividade pedagógica. Nesta sequência, publicou, entre várias, o <em>ABC do Povo </em>(1901), livro adotado oficialmente nas escolas públicas.<br /><br />Em <em>Os meus amores </em>observa-se a recriação de gentes e lugares, motivada pela saudade. O próprio autor esclarece, em <em>Autobiografia</em>, que os contos não teriam existência se vivesse na sua terra.<br /><br />A obra literária de Trindade Coelho revela a tendência de um certo neorromantismo nacionalista e neogarretista.<br /><br />Suicidou-se em Lisboa a 9 de junho de 1908.<br /><br /><br />Algumas obras:<br /><br /><em>Os Meus Amores</em>, 1891<br /><br /><em>A ABC do Povo</em>, 1901<br /><br /><em>In Illo empore</em>, 1902<br /><br /><em>O Primeiro Livro de Leitura</em>, 1903<br /><br /><em>Manual Político do Cidadão Português</em>, 1906<br /><br /><em>Autobiografia e Cartas</em>, 1910<br /><br /><br /><br /><br /><br /><em>Os Meus Amores</em> - contos de Trindade Coelho [encontrar link para Os Meus Amores] http://www.ficcoes.net/biblioteca_conto/os_meus_amores.htm;<br /><br type="_moz" /></content> <category term="A Choca" /> </entry> <entry> <title>Ler o texto 2011-03-28T08:24:31+00:00 2011-03-28T08:24:31+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/a-choca/ler-o-texto-24993-dp9.html Luís Morgado luis.morgado@instituto-camoes.pt <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">A Choca</span></p> <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></p> <div style="text-align: right;"><i><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Ao Senhor Emídio Navarro</span><br /></i><br /></div> <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Aquela tarde, a Choca recolhera ao poleiro mais cedo do que o costume. Atrás dela, lembrando doze novelitos de ouro a mexerem-se como por milagre, os doze filhinhos tinham seguido a mãe, – e lá dentro, qual deles com mais dificuldade, um a um tinham-se encarrapitado no velho cesto de palha onde faziam a cama, aninhando-se, o melhor que puderam, debaixo da asa materna.<br /><br />Eles mesmos tinham estranhado recolher tão cedo aquela tarde, os pequenitos; – mas, cá fora, o rancho das outras galinhas atribuía isso à doença da Choca, porque a pobre, com o gogo, metia dó com tamanho sofrer! Um pouco aterradas, tinham assistido havia três dias a essa operação que a Choca sofrera, e que certas delas, na grei, sabiam muito dolorosa. A pena que lhe espetara no pescoço a velha que cuidava delas, fora o mesmo que nada, – e se mal estava, pior ficara, a pobre! Ainda a trazia, essa pena, mas quase seca porque não purgava; e entretanto, sem bem lhe fazer, afligia-a como se fosse um estigma, – tanto ou mais que a própria doença...<br /><br />Por isso recolhera cedo, a <em>Choca</em>; deixando fora, pelo terreiro, gozando ainda o seu resto de tarde, o rancho das companheiras.<br /><br />Ai, eram bem felizes, essas! Pelo buraco do poleiro, sentia-as agora cacarejar, – e não tardaria que o milho do recolher, que a velha, todas as tardes, trazia para elas no seu mandil, alvoroçasse no prazer do costume, em que por via de um grão, às vezes, havia entre todas rixas alegres, o bando das companheiras...<br /><br />Só ela, doente, quase já não sabia o que era comer; – e ainda essa tarde, morta de sede, invejara a gotinha de água que um ou outro dos seus pintainhos, beberricando na pia, deixava, depois de saciado, cair do biquinho como uma pérola.<br /><br />Mas nem comer nem beber, ela, que era muita a gosma, e não podia! E pelo que tocava a cacarejar, nem o bastante para a ouvirem os filhos, para os admoestar, para os dirigir, – quanto mais para uma dessas tiradas que outrora lhe haviam feito, ao romper da manhã, a sua fama de cantadeira! Galos que ela apaixonara, ciúmes em que fizera arder tantas rivais, ralhos, intrigas, combates, – como tudo isso ia longe, agora! Nos bebedouros, ela mesma se namorara da sua figura esbelta, muitas vezes; – e que o não adivinhara na devoção dos galos, de tantos que a tinham amado, e que ao aclarar das manhãs, todos os dias, lhe declaravam o seu amor dos poleiros à roda,– adivinhara-o na inveja das outras, esse prestígio mágico da sua beleza...<br /><br />Certo galo, sobretudo, agora já velho, – e, como ela, agora já também sem entusiasmos, dir-se-ia que o enfeitiçara; e agora mesmo, vendo-a recolher cedo com a ninhada, esse velho e trôpego apaixonado (mas belo, ainda assim, na sua justa decrepitude) não tardara a recolher-se também. Subtil, passara, sumira-se ao fundo na sombra densa; e erguendo um voo pesado, sentira-o aninhar-se onde passava as noites, numa trave a um canto do poleiro. Cansaço talvez da vida, talvez doença também, – quem lhe dizia a ela, entretanto, que ele se não recolhera por a ver recolher, por a ver doente, por um impulso de compaixão, que era agora, talvez, como a agonia do seu velho amor?!<br /><br />Pelo que respeitava às companheiras, as da sua geração eram já poucas; e essas, como ela própria, mais saudosas da mocidade, do que lembradas; e quanto às novas, muitas criara-as ela, – e, sobretudo, não era já dela que tinham ciúmes...<br /><br />De resto, ela mesmo era boa companheira; e tirante algum fogacho de génio por amor dos filhos, se tinha de os proteger ou se lhos ofendiam, até no comedouro era moderada e no bebedouro; – e muitos pintainhos doutras ninhadas queriam-lhe como se fosse avó, e os frangos, uma vez por outra, ela própria, de manhã, ensinava-os a cacarejar.<br /><br />Ah, mas esse bom tempo ia passado! Já chocara a ninhada com pouca saúde; e surpreendendo-se, às vezes, sem paciência para aturar os filhos, ignorava se seria por isso, se por a verem talvez doente, que eles mesmos, coitadinhos, pareciam às vezes também doentes!<br /><br />...Entretanto, eles tinham-se aninhado todos, o melhor que lhes fora possível, debaixo da asa materna; – e embora muito enferma, ela era feliz, ainda assim, por ter tão quentes os seus pequeninos, – e agora, por certo, todos a dormir e talvez sonhando..<br /><br /></span></p> <div style="text-align: right;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Trindade Coelho, <em>Os Meus Amores</em>, Lisboa, 1891 </span></div> <p></p> <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">A Choca</span></p> <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></p> <div style="text-align: right;"><i><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Ao Senhor Emídio Navarro</span><br /></i><br /></div> <p><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Aquela tarde, a Choca recolhera ao poleiro mais cedo do que o costume. Atrás dela, lembrando doze novelitos de ouro a mexerem-se como por milagre, os doze filhinhos tinham seguido a mãe, – e lá dentro, qual deles com mais dificuldade, um a um tinham-se encarrapitado no velho cesto de palha onde faziam a cama, aninhando-se, o melhor que puderam, debaixo da asa materna.<br /><br />Eles mesmos tinham estranhado recolher tão cedo aquela tarde, os pequenitos; – mas, cá fora, o rancho das outras galinhas atribuía isso à doença da Choca, porque a pobre, com o gogo, metia dó com tamanho sofrer! Um pouco aterradas, tinham assistido havia três dias a essa operação que a Choca sofrera, e que certas delas, na grei, sabiam muito dolorosa. A pena que lhe espetara no pescoço a velha que cuidava delas, fora o mesmo que nada, – e se mal estava, pior ficara, a pobre! Ainda a trazia, essa pena, mas quase seca porque não purgava; e entretanto, sem bem lhe fazer, afligia-a como se fosse um estigma, – tanto ou mais que a própria doença...<br /><br />Por isso recolhera cedo, a <em>Choca</em>; deixando fora, pelo terreiro, gozando ainda o seu resto de tarde, o rancho das companheiras.<br /><br />Ai, eram bem felizes, essas! Pelo buraco do poleiro, sentia-as agora cacarejar, – e não tardaria que o milho do recolher, que a velha, todas as tardes, trazia para elas no seu mandil, alvoroçasse no prazer do costume, em que por via de um grão, às vezes, havia entre todas rixas alegres, o bando das companheiras...<br /><br />Só ela, doente, quase já não sabia o que era comer; – e ainda essa tarde, morta de sede, invejara a gotinha de água que um ou outro dos seus pintainhos, beberricando na pia, deixava, depois de saciado, cair do biquinho como uma pérola.<br /><br />Mas nem comer nem beber, ela, que era muita a gosma, e não podia! E pelo que tocava a cacarejar, nem o bastante para a ouvirem os filhos, para os admoestar, para os dirigir, – quanto mais para uma dessas tiradas que outrora lhe haviam feito, ao romper da manhã, a sua fama de cantadeira! Galos que ela apaixonara, ciúmes em que fizera arder tantas rivais, ralhos, intrigas, combates, – como tudo isso ia longe, agora! Nos bebedouros, ela mesma se namorara da sua figura esbelta, muitas vezes; – e que o não adivinhara na devoção dos galos, de tantos que a tinham amado, e que ao aclarar das manhãs, todos os dias, lhe declaravam o seu amor dos poleiros à roda,– adivinhara-o na inveja das outras, esse prestígio mágico da sua beleza...<br /><br />Certo galo, sobretudo, agora já velho, – e, como ela, agora já também sem entusiasmos, dir-se-ia que o enfeitiçara; e agora mesmo, vendo-a recolher cedo com a ninhada, esse velho e trôpego apaixonado (mas belo, ainda assim, na sua justa decrepitude) não tardara a recolher-se também. Subtil, passara, sumira-se ao fundo na sombra densa; e erguendo um voo pesado, sentira-o aninhar-se onde passava as noites, numa trave a um canto do poleiro. Cansaço talvez da vida, talvez doença também, – quem lhe dizia a ela, entretanto, que ele se não recolhera por a ver recolher, por a ver doente, por um impulso de compaixão, que era agora, talvez, como a agonia do seu velho amor?!<br /><br />Pelo que respeitava às companheiras, as da sua geração eram já poucas; e essas, como ela própria, mais saudosas da mocidade, do que lembradas; e quanto às novas, muitas criara-as ela, – e, sobretudo, não era já dela que tinham ciúmes...<br /><br />De resto, ela mesmo era boa companheira; e tirante algum fogacho de génio por amor dos filhos, se tinha de os proteger ou se lhos ofendiam, até no comedouro era moderada e no bebedouro; – e muitos pintainhos doutras ninhadas queriam-lhe como se fosse avó, e os frangos, uma vez por outra, ela própria, de manhã, ensinava-os a cacarejar.<br /><br />Ah, mas esse bom tempo ia passado! Já chocara a ninhada com pouca saúde; e surpreendendo-se, às vezes, sem paciência para aturar os filhos, ignorava se seria por isso, se por a verem talvez doente, que eles mesmos, coitadinhos, pareciam às vezes também doentes!<br /><br />...Entretanto, eles tinham-se aninhado todos, o melhor que lhes fora possível, debaixo da asa materna; – e embora muito enferma, ela era feliz, ainda assim, por ter tão quentes os seus pequeninos, – e agora, por certo, todos a dormir e talvez sonhando..<br /><br /></span></p> <div style="text-align: right;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Trindade Coelho, <em>Os Meus Amores</em>, Lisboa, 1891 </span></div> <p></p>