Aprender a brincar http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim-dp4.html Tue, 02 Apr 2024 18:07:01 +0000 Joomla! - Open Source Content Management pt-pt naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt (Centro Virtual Camões) Sabia que? http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/sabia-que-43941-dp6.html http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/sabia-que-43941-dp6.html O movimento surrealista marcou a literatura e a pintura dos anos 40 e 50 em Portugal. Na literatura, salienta-se pelo estilo irónico e sarcástico, evidenciando uma subversão das normas.

Muitos dos textos poéticos encontram-se arquivados na Biblioteca Nacional, em Lisboa. Para os conhecer, poderá consultar os documentos autênticos de poetas surrealistas que foram divulgados ao público numa exposição organizada por Mário Cesariny:

Artur do Cruzeiro de Seixas:
http://acpc.bnportugal.pt/colecoes_autores/n38_seixas_cruzeiro.html

Pedro Oom caracterizou o pintor surrealista Artur do Cruzeiro de Seixas:
http://www.cidadevirtual.pt/up-arte/dois/seixas-i.html

Mário Henrique Leiria:
http://acpc.bnportugal.pt/colecoes_autores/n03_cesariny_mario.html

Poderá conhecer os quadros dos pintores surrealistas que se encontram no museu de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa:

António Pedro da Costa
http://www.cam.gulbenkian.pt/index.php?article=60246&visual=2&langId=1&ngs=1

António Dacosta
http://www.cam.gulbenkian.pt/index.php?article=60254&visual=2&langId=1&ngs=1

Mário Cesariny
http://www.cam.gulbenkian.pt/index.php?article=60261&visual=2&langId=1&ngs=1]]>
luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) A viagem, enfim Mon, 28 Mar 2011 10:03:46 +0000
Quem escreveu http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/quem-escreveu-78573-dp4.html http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/quem-escreveu-78573-dp4.html Mário Henrique Leiria (1923-1980)

Mário Henrique Leiria nasceu em Lisboa em 1923. Frequentou por pouco tempo a Escola de Belas Artes. Entre 1949 e 1951 participou nas atividades da movimentação surrealista em Portugal. Teve vários empregos: marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil. Viajou. Em 1961 foi para a América Latina onde desenvolveu várias atividades, entre as quais a de encenador de teatro e de diretor literário de uma editora. Voltou nove anos depois. Colaborou em várias revistas e jornais nacionais.
Obras principais: A Afixação Proibida (manifesto surrealista de vários autores), 1949; Contos do Gin Tonic, 1973; Novos Contos do Gin, 1978; Imagem Devolvida, 1974.

Para saber mais sobre o poeta e o pintor:

http://acpc.bnportugal.pt/espolios_autores/e22_leiria_mario_henrique.html

Para ler:
Mais  Contos do Gin Tonic:
http://www2.dem.ist.utl.pt/~jsantos/Literature/Mario_p.html

Poema musicado e cantado por Fausto:
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html//fausto-flober.html

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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) A viagem, enfim Mon, 28 Mar 2011 09:56:08 +0000
Ler o texto http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/ler-o-texto-70081-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/a-viagem-enfim/ler-o-texto-70081-dp8.html A Viagem, enfim

Isto de ter sempre o mesmo sonho todas as noites torna-se aborrecido.
Era assim: saía de casa, ia até ao carro e dizia à família «vamos lá fazer essa viagem». Primeiro entravam a mulher e as duas crianças, depois os pais, ele instalava-se ao volante e pronto, não havia lugar para os sogros! Era sempre a mesma coisa. Por mais que empurrassem, não conseguiam metê-los lá dentro.
Acordava a suar, empurrando ainda qualquer coisa que não estava lá.
A mulher aconselhou-lhe uns calmantes, para ver se o sonho se ia.
Mas nada. Lá vinha sempre, todas as noites. É verdade que empurrava menos, talvez os calmantes, mas continuava naquele desespero de não conseguir enfiar os sogros no carro alucinante.
Os sogros disseram-lhe que não se interessavam em ir, não faziam questão, já estavam velhos para viagens.
Os pais prontificaram-se a ceder os lugares deles.
Toda a família colaborava, mas o sonho continuava.
Chegou a fazer experiências, a meter a família completa no velho Citroën arrastadeira. E conseguia, lá se metiam todos, mais ou menos apertados mas entravam. Mas no sonho não.
A coisa tornava-se desesperante.
- Porque é que não vais ao Mora? Ele é psicanalista, explica-te, tira-te isso – insistia a mulher, já arreliada, e preocupada também, com aquelas viagens nocturnas e frustradas em que ele se envolvia sem culpa.
O Mora era amigo de infância, nem sequer permitia que ele pagasse, era extraordinário! Às vezes até ia lá jantar. E respondeu à mulher:
- Tens razão, Xuxa, vou mesmo, que isto assim não pode ser. Tens sempre razão menina.
Contou tudo. O Mora mandou-lhe contar mais, o passado continua sempre oculto, ao que disse. Deitado, contou-lhe o que ele precisava era de derivar, sabem, encontrar qualquer coisa além do carro e da viagem que não fazia em sonhos. Derivar. Substituir o carro. Agradeceu e convidou o Mora para jantar no sábado. O Mora não podia e deu-lhe uma palmada nas costas.
Chegou a casa aliviado e esclareceu a Xuxa:
- Vou derivar, menina.
- Derivar?
Sim, substituir o carro e tudo o mais, excepto tu, as crianças, os velhos e a casa.
(...)
À noite não sonhou. No dia seguinte a Xuxa disse-lhe que até parecia dez anos antes.
Tudo voltou à normalidade, os sogros deixaram de se preocupar com a viagem, as crianças entusiasmaram-se com os estoiros da moto. E o carro na garagem.
E, de repente, tornou a sonhar. O sonho.
Assim: saiu de casa, foi até ao carro e disse à família «vamos lá fazer essa viagem». A mulher e as crianças entraram, depois os pais, e ele instalou-se ao volante. E não havia lugar  para os sogros! Começaram a empurrar para os meter lá dentro, e nada. Então virou-se para a garagem. Estava um pouco diferente mas a moto continuava lá dentro. Deixou tudo, montou a moto, pôs o chapéu de palha e avançou pela estrada. Uma estrada larga, muito aberta a tudo. Pareceu-lhe já a ter visto alguma vez. Olhou para  trás e lá ao longe, à porta da casa, continuavam a empurrar-lhe os sogros. Acenou uma despedida, acelerou e continuou, olhando árvores e nuvens. Ainda não voltou.

Mário Henrique Leiria,  Contos do Gin-Tonic, pp. 117-119
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luis.morgado@instituto-camoes.pt (Luís Morgado) A viagem, enfim Mon, 28 Mar 2011 09:55:09 +0000