Coutinho, Luís da Fonseca

Coutinho, Luís da Fonseca

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Viveu entre a segunda metade do século XVI a primeira metade do século XVII, sendo filho de Simão Botelho Correia e de Isabel Saraiva da Fonseca («cristãos limpos das Beiras», como se lhes refere a sua certidão de nascimento, conservada nos Reservados da Biblioteca Nacional de Lisboa), muito provavelmente natural do lugar do Souto, na comarca e bispado de Lamego (onde seus pais eram moradores) foi, no dizer de Diogo Barbosa Machado, homem versado em Matemática e Filsofia, responsável pela composição da «Arte da Agulha fixa e modo de saber por ela a longitude», actividade em que empenhou mais de 4000 cruzados, para além de significativo lapso de tempo. Com efeito, procurou Luís da Fonseca Coutinho resolver, por meio da criação de uma agulha magnética, um dos problemas com que os navegadores europeus se debateriam até 1762 (altura em que ficou comprovada a fiabilidade do cronómetro inventado pelo relojoeiro inglês John Harrison)  - a  determinação exacta da longitude.

No ano de 1598, pouco antes de falecer, Filipe II de Espanha abrira um concurso destinado, precisamente, a solucionar esta questão, atribuindo boa recompensa a quem inventasse um modo eficaz de medir a longitude. Nesse sentido, Coutinho construiu uma agulha «fixa em todas as partes do Mundo» (apontando sempre o Norte magnético), a qual seguiu a bordo de uma das naus da «Carreira da Índia», a S. Roque, capitaneada por um tal Constantino Menelau; ao regressar este do Oriente, em 1604, com resultados promissores, decidiu Luís Coutinho dirigir-se junto do monarca (então, Filipe III), com o intuito de lhe comunicar a sua descoberta. O soberano remeteu o assunto para o cosmógrafo-mor do Reino de Portugal, João Baptista Lavanha, o qual solicitou ao matemático português que lhe enviasse a dita agulha para Valladolid (onde então se achava a Corte), para que se pudesse testar com exactidão o invento. Embora a experiência tenha sido bem sucedida, Lavanha não ficou inteiramente convencido de que a agulha fosse eficaz no Oriente; ainda assim ordenou que Coutinho expedisse as suas agulhas nas embarcações que iam partir para a Índia nesse ano, para que pudes-sem ser experimentadas a bordo.

Só em 1607, porém, Luís Coutinho voltou a falar com o monarca, tendo Filipe III - impressionado com o talento do matemático português e já amplamente convencido das virtudes da sua agulha fixa -, ordenado em Fevereiro de 1608 a constituição de uma Junta de especialistas, para discutirem o problema, não só da agulha fixa, como também das agulhas regulares (a de Norte-Sul, para medir a distância entre longitudes, e a de Leste-Oeste, para medir a distância entre latitudes), concebidas por Coutinho. Pouco depois, o Rei fixou em 6000 ducados anuais o valor da tença a atribuir ao vencedor do prémio aberto por seu pai.

Com o parecer favorável de Lavanha, a agulha acabou por seguir, desta feita, para as Índias Ocidentais. Contudo, os resultados a bordo da nau Nuestra Señora de los Remedios foram pouco favoráveis à invenção de Luís Coutinho, que entretanto fora convidado a integrar uma nova Junta. Desta última faziam também parte Hernando de los Rios Coronel (que havia estado a bordo da N. S. de los Remedios, transportando a agulha de Coutinho) e o licenciado Antonio Moreno, os quais se esforçaram por desacreditar ao máximo o matemático português, bem como a sua invenção.

Em 28 de Setembro de 1610, Coutinho revelava à Junta o segredo da sua invenção num peque-no «livrinho encadernado», iniciando-se no dia seguinte o seu exame. Contudo, as objecções de Rios Coronel e de Antonio Moreno impediram-no de ganhar o tão cobiçado prémio (que desejaria, provavelmente, empregar como dote para uma sua filha em idade casadoira); ainda se defendeu, mantendo-se na disputa até 1612, altura em que se retirou, infrutiferamente, da corrida.

André Leitão


Bibliografia

GUEDES, Max Justo, «Luís da Fonseca Coutinho», Dicionário de História dos Descobrimentos Por-tugueses. Dir. de Luís de Albuquerque e coord. de Francisco Contente Domingues, vol. I, Lisboa, Edi-torial Caminho, 1994, pp. 313-315.

LEITÃO, Humberto, Uma carta de João Baptista Lavanha a respeito das agulhas de Luís da Fonseca Coutinho, Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar, 1966, separata da Revista da Faculdade de Ciências, vol. XXXIX.

MACHADO, Diogo Barbosa, «Luiz da Fonseca Coutinho», Bibliotheca Lusitana: Historica, Critica, e Cronologica, na qual se Comprehende a Noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras que Compuserão desde o Tempo da Promulgação da Ley da Graça até o Tempo Prezente, vol. III, fac-símile da edição de Lisboa, Na Oficina de Ignácio Rodrigues, 1762, Coimbra, Atlântida, 1967, p. 95.