Almeida Faria
Almeida Faria (1943)
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Muito jovem, publicou dois excelentes romances, Rumor Branco, 1962, e A Paixão, 1965 que revelam um talento seguro na arte de narrar, praticando simultaneamente inovações espetaculares, de desarticulação discursiva e de hibridez de modalidades, na escrita romanesca. A sua carreira posterior tem-se mantido regular, sublinhando os efeitos intertextuais (nomeadamente incluindo textos da arte e da comunicação em geral) e uma aguda ironia que afirma uma vocação satírica na observação de costumes e de ambientes político-sociais, nomeadamente na transição do 25 de Abril (Lusitânia, 1980, O Conquistador, 1990).
A morte os aflorou, com sua negra asa, com seu mistério fino e arrepiante e cavo, e então os homens viram quão sós e só entregues a si mesmos estavam e ao seu nada; mas o perigo passou, ou pensam que passou, e as bocas, ainda há pouco pejadas de desgraça, unem-se já para soltar um uivo ou um soluço, o uivo de cada cão que escapou à tormenta e sente o sabor da morte ainda em cima, o soluço de alívio e também de tristeza daqueles que se livram dum infinito túnel.
A Paixão
© Instituto Camões, 2001