APRENDER PORTUGUÊS... A LER

Desenvolva a sua competência de leitura em português, através dos recursos que o Centro Virtual Camões disponibiliza nesta secção, organizados por níveis de dificuldade, para poder escolher os que melhor se adequam ao seu nível de competência linguística.

Augusto Abelaira

Augusto Abelaira


Augusto Abelaira (1926), ficcionista de renome durante os anos sessenta (Cidade das Flores, 1959, As Boas Intenções, 1963), correspondeu aos anseios de uma geração que propunha a renovação social e política num contexto cultural de consciencialização e responsabilidade, no qual a arte e a literatura ocupavam lugar determinante. Bolor, 1968, é um romance que manifesta a desagregação dos sentimentos e a oscilação das convicções, numa escrita narrativa profundamente inovadora que o seu autor continuaria a desenvolver subsequentemente, questionando a lógica da comunicação e da sucessão do tempo, e por isso mesmo afirmando a fidelidade a valores fundamentais como o amor e a criatividade (O Bosque Harmonioso, 1982, Outrora Agora, 1996).

Agora, ele (ele, o Jerónimo) ali à varanda, trinta anos depois, a gozar o sol, os olhos no mar («la mer, toujours recommencée»). Mas lá em baixo, acinzentado, na avenida paralela à praia, um automóvel chega e, a curva rápida, sem hesitações, enfia-se entre dois carros -, manobra fulminante, milimétrica. O Jerónimo tê-lo-ia arrumado mais devagar, avaliando, atento, o estreito espaço disponível - daí a curiosidade com que espera o aparecimento do herói (será certo que a civilização chinesa, ao contrário da europeia, não celebrou os heróis guerreiros, considerava-os até seres inferiores? Esparta, modelo secreto da civilização ocidental. Herói sem penacho na cabeça, como Heitor, o do capacete fulgente. Telefonar à Marta (esqueci-me de pagar o telefone, o aviso ficou em cima do frigorífico).

Outrora Agora

© Instituto Camões, 2001