Carlos de Oliveira

Carlos de Oliveira (1921-1981)

Carlos de Oliveira


É um dos grandes poetas deste século, combinando a preocupação de intervenção social (neorrealismo) com a reflexão sobre a escrita no próprio processo da sua produção, o que confere à sua obra grande densidade e agudeza nos efeitos diversificados da sua leitura (Mãe Pobre, 1945, Entre Duas Memórias, 1971).

O mesmo se pode dizer em relação aos seus romances, nos quais se deteta uma evolução da problemática neorrealista mais pura (Casa na Duna, 1943) até à sua elaboração através da sobriedade do sentimento e do protesto (Uma Abelha na Chuva, 1953), culminando na complexidade de Finisterra (1978), composto a partir de mecanismos de repetição ficcional e de decalque temático e descritivo, que emerge na fronteira da oscilação da modernidade na nossa história literária.


Aço na forja dos dicionários
as palavras são feitas de aspereza:
o primeiro vestígio da beleza
é a cólera dos versos necessários.

Mãe Pobre

seguindo o fio
da tinta
que desenha
as palavras
e tenta
fugir ao tumulto
em que as raízes
grassam,
engrossam, embaraçam
a escrita
e o escritor:

Micropaisagem, 1969


© Instituto Camões, 2001