Mário de Sá-Carneiro
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
É um dos nossos maiores poetas do Modernismo, talvez o que melhor exprime a cisão do sujeito na enunciação de si próprio e na formulação da sua perceção do mundo, ora decetiva ao jeito simbolista-decadentista, ora inebriada pelas sensações e entusiasmos do futurismo.
"Cristo Vermelho", de Amadeo de Souza-Cardoso [1887-1918] |
A sua poética afasta-se de uma preocupação meramente formal da experiência literária, centrando nela embora o seu discurso, mas nela fundamentando as interrogações e a afirmação de anseios que dão sentido a uma existência que no entanto as não encontra. O poeta põe termo aos seus dias, suicidando-se em Paris.
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida... (...)
Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.
«Dispersão»
© Instituto Camões, 2001