Helena Almeida

Helena AlmeidaLisboa ¶ 1934

 

  Helena Almeida
  Créditos fotográficos / Photographic credits:
Abílio Leitão

Formou-se como pintora na ESBAL e é como pintora que expõe na sua primeira individual na Galeria Buchholz, em 1967, denunciando, de imediato, a sua preocupação conceptual com o estatuto do suporte: as suas telas, geométricas e tendencialmente monocromáticas, insinuam a fuga ao limite da tela. Na década de 70 a sua obra começa a romper com os formatos e métodos mais tradicionais. A artista interrompe a superfície da tela com vários acidentes, como sejam objectos de uso quotidiano ou fio de crina, que confundem a definição disciplinar da sua prática artística imiscuindo o desenho, a instalação e a escultura na superfície pictórica. É, no entanto, a adopção da fotografia como medium privilegiado que inscreve Helena Almeida no âmbito da vanguarda internacional, ao mesmo tempo que inscreve a fotografia num plano de protagonismo no contexto das artes plásticas. Desde então até à actualidade, em que a artista conhece um novo impulso de consagração nacional e reconhecimento internacional, o seu trabalho terá como base fotografias de si própria registadas no decurso da execução de um conjunto de movimentos performativos realizados no seu estúdio. A obra de Helena Almeida é portanto uma vasta investigação sobre o estatuto do suporte. Seja como fotografia, vídeo ou pintura o que está em causa é a tela e o corpo como suportes e a tensão entre ambos. A tensão entre o mundo aquém e além dessa fronteira imponderável que se ergue entre a representação e o representado, e a tentativa de superar essa fronteira através de uma prática de transgressão. Em Helena Almeida o corpo quer ser tela tanto quanto a tela quer ser corpo, no sentido em que o corpo anseia pela fixidez canónica da tela enquanto a tela anseia pela corruptibilidade dissoluta do corpo. Na dialéctica resultante do cruzamento desses impulsos contraditórios, paradoxais mesmo, entrevemos um efeito cinematográfico, bem como entrevemos que o caótico mais não é que o resíduo do canónico. Entre o aqui e o além, o corpo da artista joga com a ambiguidade, invertendo o eixo entre representante e representado e devolvendo-nos o olhar que lhe lançamos como um olhar sobre nós próprios.


Bibliografia

 

 

Ficha Técnica | Credits