Albernaz, Família
Albernaz, Família
Esta família de cartógrafos entronca-se na dos Teixeira, sendo os irmãos João Teixeira Albernaz (I) e Pedro Teixeira Albernaz filhos de Luís Teixeira. Além de outros autores de trabalhos menores, como Estevão Teixeira, integra também esta família João Teixeira Albernaz (II), neto do seu homónimo.
O primeiro membro referido, João Teixeira Albernaz I, terá desenvolvido o seu trabalho já no século XVII, tendo recebido carta de ofício a 29 de Outubro de 1602, tendo sido examinado pelo cosmógrafo-mor João Baptista Lavanha, e três anos depois é nomeado cartógrafo da Casa da Mina e Índia. No Arquivo das Índias, em Sevilha, um documento regista a presença deste cartógrafo e de seu irmão Pedro em Madrid, a fim de executar as cartas náuticas representando os Estreitos de S. Vicente e Magalhães. Numa relação de viagem levada a cabo pelos irmãos Bartolomeu e Gonçalo Nodal, aos referidos Estreitos, existe uma carta executada por Pedro Teixeira Albernaz, que contou com a colaboração de seu irmão João Teixeira. Ainda em relação ao seu percurso profissional, poderemos acrescentar que em 1622 apresenta uma petição para ser provido do lugar de Cosmógrafo-Mor, tendo sido preterido a favor de Valentim de Sá, com quem colabora no ano seguinte ao fazer parte do júri que passará carta de ofício a João Baptista de Serga. Em finais do século XVII, num parecer emitido por Manuel Pimentel sobre o Atlas do Brasil de 1642, existente na Biblioteca da Ajuda, este advertia para erros constantes na primeira carta do referido Atlas, o qual não respeitava a linha de demarcação acordada entre Portugal e Espanha. Concluía Manuel Pimentel que o livro não tinha mais que boas pinturas e iluminações.
A obra deste cartógrafo tem um acentuado interesse, tanto pela sua amplitude e variedade, como pelo registo do progresso dos descobrimentos e explorações, quer marítimas quer terrestres, mormente, no que respeita ao Brasil. A sua produção conta 19 Atlas, um grupo de 4 cartas, 2 cartas soltas, para além de uma incluida num Atlas de outra origem. Existem mais 8 cópias de dois dos 19 Atlas, num total de duzentas e quinze cartas, mais duas gravadas. Algumas destas obras são dignas de registo: na Biblioteca Pública Municipal do Porto, existe uma cópia do códice intitulado “Rezão do Estado do Brasil”, de c. de 1616, de autor anónimo, mas atribuido a João Teixeira Albernaz I. Segundo a opinião de Varnhagen, Köpke e Hélio Viana, apenas as cartas deste códice são da autoria de JoãoTeixeira, sendo o texto da autoria do sargento-mor Diogo de Campos Moreno; o “Livro que dá Rezão do Estado do Brasil”, de c. de 1626, contém 22 cartas, constituindo uma cópia do anterior, mas de maiores dimensões; o Atlas do Brasil, de 1631, existente, em 1960, no Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro, abrange 36 cartas, que têm a particularidade de exibir quadros para legendas, e para escudos dos donatários ou da Coroa, que não estão preenchidos. Terá sido mandado organizar por D. Jerónimo de Ataíde, donatário da Capitania dos Ilhéus. Contém muitos elementos que nos dão informação sobre a indústria açucareira, para além de representar os estuários dos rios Prata e Amazonas, evidenciando os padrões de demarcação entre Portugal e Espanha; composto de 32 cartas, um outro Atlas do Brasil, de 1640, do qual existem sete cópias, encontra-se à guarda do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. Tem a particularidade de cada carta ser precedida de uma folha com texto explicativo; o Atlas Universal, de 1643, com 8 cartas, é uma obra de excepcional valor artístico, e é bastante diferente dos outros Atlas do mesmo autor, porque tem um carácter basicamente hidrográfico. Estas são algumas das obras mais significativas da autoria de João Teixeira Albernaz I.
Seu irmão Pedro Teixeira, nasceu em Lisboa nos finais do século XVII, tendo desenvolvido a sua actividade em Espanha, a partir de 1619, quando aí se dirigiu com seu irmão João, a fim de cartografarem os locais constantes da relação de viagem dos irmãos Nodal. Enquanto seu irmão regressou a Portugal, findo o trabalho, Pedro optou por ficar em Madrid, onde viria a falecer em 1662. É escassa a sua produção conhecida, mas sabemos que desapareceram várias cartas deste cartógrafo. Entre elas, é justo destacar uma que continha a representação do Delta do Amazonas, para além da descrição da costa de Espanha, da qual existem várias cópias, mas que não incluem as cartas. Em 1623 vêmo-lo, juntamente com seu irmão, a examinar João Baptista de Serga. Dedicou-se principalmente a executar levantamentos topográficos, talvez por influência de João Baptista Lavanha.
A sua produção compõe-se: da Carta dos Estreitos de S. Vicente e Magalhães, de 1621, executada em colaboração com seu irmão; de uma Planta de Madrid, de 1656, existente na Biblioteca Nacional de Paris; e da Carta de Portugal, gravada em Madrid em 1662. Em 1722 Manuel de Azevedo Fortes, afirmava que esta última ainda era a melhor carta de Portugal. Foi acabada no ano da sua morte, mas os levantamentos necessários teriam sido executados entre 1622 e 1630. Desconhecemos porque motivo levou tanto tempo a elaborar esta carta, que serviu de modelo a várias cartas de Portugal impressas no estrangeiro.
São escassos os dados biográficos sobre o cartógrafo João Teixeira Albernaz II, sendo que alguns já foram referidos quando tratamos de Albernaz I, que, por vezes, se confundem na documentação. No parecer de Manuel Pimentel a que já fizemos referência, este indica que João Teixeira Albernaz II, é neto de Albernaz I, dizendo, também, que fazia cartas com perfeição. Sabemos igualmente que ainda se encontrava vivo em 1699.
Na sua obra, nota-se a grande influência recebida de seu avô, que foi seu mestre, mas o traçado da letra e iluminuras são menos cuidados. Os Atlas do Brasil repetem, embora com alguns progressos, o que seu avô já tinha desenhado, embora tenham o mérito de ter influenciado a cartografia holandesa. A sua obra mais importante é o Atlas de África de 1665, única no seu género, tendo sido encomendada por um francês, o que demonstra a procura da cartografia portuguesa no estrangeiro, ainda nesta época. Uma carta sua foi usada na Conferência de Badajoz (1681), a propósito da questão da Colónia do Sacramento, afirmando os seus membros que João Teixeira Albernaz II era conhecido em toda a Europa.
É bastante vasta a sua produção cartogáfica, sendo de destacar as seguintes Cartas: a Carta de 1655; a Carta de 1665; a Carta de 1667, que terá influenciado, possivelmente, o desenho holandês da Terra Nova; a Carta de 1675; a Carta de 1676, que tal como a de 1655, representa o Atlântico e o Índico, na qual estão marcadas as posições de um navio, o que indica que foi usada para a navegação; a Carta de 1677; a Carta de 1679, que foi usada na Conferência de Badajoz; e um fragmento de uma Carta de 1681, existente em Évora.
Para além das cartas atrás referidas, vários Atlas são da sua autoria: o Atlas de África, de 1655, que se encontra em Paris, é bastante preciso e o seu levantamento foi feito por ordem Real. Esta obra de 62 folhas e 29 cartas foi usada para publicações francesas; o Atlas do Brasil, de 1666, com 31 cartas, encontra-se no Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro; o Atlas de c. de 1666 contém 29 cartas, fez parte do códice de Diogo Barbosa Machado, Mappas do Reino de Portugal, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. É muito semelhante às outras obras deste autor, mas não está assinado; um Atlas de c. de 1675, composto por 32 cartas, que pertenceu ao Cosmógrfo-Mor Manuel Pimentel.
Os quatro Atlas são muito semelhantes, abrindo com uma carta geral do Brasil, seguindo-se depois as particulares. João Teixeira Albernaz II segue em geral o padrão desenhado por seu avô, João Teixeira Albernaz I.
Augusto O. Quirino de Sousa
Bibliografia
CORTESÃO, Armando, e MOTA, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vols. IV, V, Lisboa, INCM, 1987.
MOTA, A. Teixeira da, Cartas Portuguesas Antigas na Colecção de Groote Schuur, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga/Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1977.
VITERBO, Sousa, Trabalhos Náuticos dos Portugueses, Séculos XVI e XVII, Lisboa, INCM, 1988.