APRENDER PORTUGUÊS... A OUVIR

Desenvolva a sua competência de expressão oral em português, através dos recursos que o Centro Virtual Camões disponibiliza nesta secção, organizados por níveis de dificuldade, para poder escolher os que melhor se adequam ao seu nível de competência linguística.

Dourado, Fernão Vaz

Dourado, Fernão Vaz


A África no atlas de 1571 de Fernão Vaz Dourado
A África no atlas de 1571 de Fernão Vaz Dourado
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O Historiador da Cartografia Armado Cortesão inclui este cartógrafo no que chamou o "terceiro período da cartografia portuguesa". Este período receberia o nome de Lopo Homem, e caracterizar-se-ia pelo fim da influência de Ptolomeu na representação do Extremo Oriente, e por um maior rigor na representação das terras e continentes. As grandes legendas desaparecem para surgirem nomes de locais e pequenas indicações e descrições históricas. Aparecerem agora os Atlas e quarteirões, enquanto que as grandes cartas se vão tornando cada vez mais raras. Ora esta escola, segundo o mesmo autor, teria início em Lopo Homem (que lhe dá o nome), mas podemos dizer que o seu expoente máximo é Fernão Vaz Dourado, cuja obra denota a presença de todas as características imputáveis à escola..

Da sua biografia sabemos pouco, sendo as as datas extremas dos trabalhos que lhe conhecemos 1568 e 1580. Sabemos ainda com certeza que foi Fronteiro da Índia, pois é assim que se identifica em alguns frontispícios dos seus Atlas. Alguns outros documentos dão-nos pequenas indicações do que poderá ter sido a sua vida: Assim, supõe-se que seria filho de Francisco Dourado, que aparece num documento como indo para a Índia em 1513, casando-se aí em 1519. Teria pois Fernão Vaz nascido pelos anos de 1520. Em 1547 temos a certeza que está presente no 2º Cerco de Diu, pois é ferido na explosão do baluarte de S. João (a documentação aponta-o como ferido nas pernas). Por esta altura viaja até Bengala com Vasco da Cunha, ou em 1543-44, ou em 1547; o certo é que a viagem é referida nas "Derrotas de Portugal para a Índia e desta para Malaca, Java, Sunda, Molucas, etc", do Livro de Marinharia de João de Lisboa. As indicações dos frontispícios dos seus Atlas dão-nos algumas informações, como já foi dito: se de alguns temos a certeza que foram feitos no Estado da Índia, o de 1575 foi feito no Reino, e dedicado a D. Sebastião. Aqui terá corrigido alguns erros junto de colegas e cosmógrafos, pois neste Atlas apresenta já as preiamares em horas e quintos, em vez de quartos, como antes fazia.

Em relação às obras que nos legou, podemos ainda salientar a firmeza e perícia do seu traço e o elevado gosto artístico das suas iluminuras. Opta pela produção de Atlas com cartas regionais em vez de grandes cartas de todo o mundo. Outra característica importante da sua obra é que apresenta, pela primeira vez, cartas especiais do Ceilão de do Japão. Em relação ao arquipélago japonês terá utilizado as mesmas fontes de Lázaro Luís, mas Dourado é mais pormenorizado a representá-las. Estas cartas aparecem no primeiro Atlas que lhe conhecemos, de 1568, e que terá sido feito para D. Luís de Ataíde. Segue-se cronologicamente outro de 1570, e aqui, em relação ao Brasil, apresenta os sistemas hidrográficos do rio da Prata Amazonas e Maranhão interligados, formando este território uma ilha. Em 1571 terá feito um novo Atlas, que pertenceu à Cartuxa de Évora, embora na folha de rosto apareçam as armas dos Costa. Encontra-se actualmente na Torre do Tombo. Infelizmente já não está completo, mas Varnhagem descreve-o em 1851, antes de estar mutilado e assim ficamos a saber que lhe falta a folha correspondente ao Mediterrâneo. O desenho deste Atlas não é tão perfeito em relação a outros seus trabalhos. Em 1575 faz o seu Atlas mais belo e ricamente iluminado. Dedicou-o a S. Sebastião e destinar-se-ia ao Monarca com o mesmo nome. Temos no ano seguinte um Atlas que lhe é atribuido, mas que não está assinado. É o que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa. Em 1580 faz outro trabalho, já na Índia mas de muito menor qualidade; podermos dizer que já não estaria na posse das suas melhores capacidades. No entanto vemos que continuou a evoluir e a aperfeiçoar-se, pois conseguiu seccionar melhor as várias partes do globo representadas, fazendo um número menor de cartas, evitando assim repetições de lugares.


João G. Ramalho Fialho



Bibliografia
CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos séculos XV e XVI, 2 vols., Lisboa, Seara Nova, 1935.
IDEM, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols, Lisboa, Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar/ Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, 1969-1970.
IDEM, e MOTA, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Reimpressão, vol. III, Lisboa, INCM, 1987.
COUTO, Monsenhor Gustavo, O Cosmografo Fernão vaz Dourado Fronteiro da Índia e a sua Obra, Lisboa, Tipografia Carmona, 1928.