Lasso, Bartolomeu
A primeira referência a este cartógrafo quinhentista, é uma carta régia, datada de 17 de Maio de 1564, na qual o monarca autoriza Bartolomeu Lasso a exercer a sua profissão de cartógrafo, por ter sido "achado auto e suficiete para fazer cartas de marear e estrellabios e agulhas". Refere a mesma carta ter o cartógrafo sido examinado pelo cosmógrafo-mor Dr. Pedro Nunes, tendo por assistente o cartógrafo Jorge ReineI. Mais tarde, em 24 de Janeiro de 1591, Bartolomeu viria a assistir ao exame do cartógrafo Francisco Luis. Mais dois documentos nos dão notícia deste cartógrafo: um, o "Livro do lançamento" de 1565, do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa; o outro é uma carta de perdão, de 2 de Maio de 1570, na qual o monarca comutava uma parte da pena do seu exílio em Almada, ocasionado por um diferendo que Lasso tivera com o seu colega de profissão João Galego. Da obra cartográfica deste autor, são conhecidas quatro Cartas Atlânticas, não datadas, mas à quais se atribuem os anos de c. de 1575, c. de 1584, c. de 1586 e C. de 1588, como datas prováveis da sua composição, e um Atlas incompleto, composto de oito cartas, onde, numa das cartas que o compõem, se lê a seguinte inscrição: "Este libro. de cosmographia. Denavegar. Fez. Bertholamev Laso. Anño. De. 1590 Emlix.Boa.". Num trabalho publicado em 1915, no Boletin de la Real Sociedad Geografica de Madrid, Antonio Blàsquez dava notícia deste Atlas classificando-o de "una joia de la cartografia del siglo XVI". O referido Atlas foi adquirido por W. A. Engelbrecht e, posteriormente, doado ao Maritiem Museum "Prins Hendrich". A obra cartográfica de Bartolomeu Lasso contribuiu em larga medida para o desenvolvimento da cartografia holandesa em finais do século XVI, conforme consta do texto de uma carta-patente emitida pelos Estados Gerais em 1592, autorizando Cornelis Claesz, editor de Amsterdão, a imprimir ou desenhar à pena todas as vinte e cinco cartas náuticas (hoje, apenas são conhecidos os monumentos cartográficos referidos).
Conforme menciona o mesmo documento, as cartas náuticas foram obtidas por indicação do cartógrafo holandês Petrus Plancius a "Bartolomeo de Lasso, cosmógrafo e mestre de navegação do Rei de Espanha". A obra cartográfica de Lasso terá exercido enorme influência na execução dos trabalhos do cartógrafo holandês, nomeadamente na elaboração do seu grande planisfério de 1592, de acordo com a opinião de F. C. Wieder, cartólogo e director da Biblioteca da Universidade de Leiden, em 1916. As cartas náuticas de Lasso devem ter sido as primeiras a ser utilizadas pelos holandeses nas suas viagens a outros continentes. O rigor e a precisão, nalguns casos quase real, com que este cartógrafo registava nas suas cartas a geografia então conhecida, são-nos demonstrados pela inclusão nos seus trabalhos de "todas as costas marítimas de todo o mundo, com todas as profundidades e baixos, bancos, recifes, cabos, promontórios e portos, todos colocados na sua correcta elevação do Polo ou graus de latitude, distâncias e rumos...", como é mencionado no documento emanado dos Estados Gerais. O piloto Gaspar Ferreira Reimão refere em dois diários de navegação dos finais do século XVI ter utilizado uma carta de marear deste cartógrafo, na qual marcava o ponto. A obra cartográfica de Bartolomeu Lasso teve também, deste modo, uma função utilitária, dada a sua utilização prática tanto por pilotos portugueses, como por holandeses.
Augusto O. Quirino de Sousa
Bibliografia
CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses doS Séculos XV e XVI, Vol. II, Lisboa, Seara Nova, 1935, pp. 285-289.
CORTESÃO, Armando e MOTA, A. Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vol. llI, Lisboa, INCM, 1987, pp. 87-100.
VITERBO, Sousa, Trabalhos Náuticos dos Portugueses. Séculos XVI e XVII, Int. de José Manuel Garcia, Lisboa, INCM, [1988], pp. 169-171.