Toscanelli, Paolo dal Pozzo

Toscanelli, Paolo dal Pozzo

Nasceu em Florença no ano de 1397, e morreu na mesma cidade, a 10 de Maio de 1482, sendo filho de um médico - Dominic Toscanelli. Estudou medicina na Universidade de Pádua, onde foi condiscípulo de Nicolau de Cusa, bem como matemática e filosofia. Quando Cusa vai para a Alemanha, Toscanelli volta a Florença, de onde sai muito pouco. Foi como geógrafo e cosmógrafo que ficou conhecido até aos nossos dias, o que não é de admirar, pois dedicou grande parte do seu tempo a estas ciências, embora assinasse como físico. Chegou a observar vários cometas deixando cálculos sobre as suas órbitas. Supostamente terá conhecido o Infante D. Pedro durante o seu périplo pela Europa, e seria esse o seu primeiro, mas não único, contacto directo com os problemas que se punham a Portugal nessa época. Iria mais tarde conhecer exactamente o filho do Infante, o Cardeal de Portugal, D. Jaime.

A queda de Constantinopla causou grande consternação na Europa e principalmente no Papa Nicolau V, assim como nos seus sucessores Calisto III e Pio II. Era intenção destes Papas organizar uma nova Cruzada que livrasse a Cristandade da ameaça do muçulmano, e tornasse seguras as rotas comerciais com o Oriente. Ora, a questão das rotas comerciais preocupava também Toscanelli, que como florentino conhecia as dificuldades cada vez maiores do tráfico dos produtos de luxo orientais. É então que conhece em Florença o Cardeal português que aí estava a acompanhar o Papa Pio II; o Papa morre a 15 de Agosto de 1464 e a ideia da cruzada desvanece-se, mas não a preocupação de Toscanelli em encontrar um caminho alternativo para o Oriente. E estando consciente das sucessivas viagens de descobrimento e reconhecimento que os portugueses faziam na costa de África, assim como dos contactos comerciais que já tinham alcançado com os povos africanos, vai reunir-se com o Cardeal português em Julho de 1459. Nesse encontro foi apresentado um mapa do mundo com as suas concepções, e temos notícia de se terem intensificado depois os contactos com a Corte Portuguesa, nomeadamente através de uma carta que Toscanelli terá enviado ao Cónego de Lisboa, Fernão Martins. Aí diz-lhe que sabe como os portugueses estão empenhados em encontar uma via marítima para o país das especiarias, e sugere que o façam pelo Ocidente, via pela qual encontrarão decerto o «Grande Kan». Como argumentos preferenciais da viagem defendia que a distância entre a Europa e o Japão e China era relativamente pequena, pois o continente asiático era bastante extenso. Essas concepções baseavam-se em Marino de Tiro, que avaliou erradamente o grau terrestre e exagera o tamanho da Ásia (Ptolomeu também se engana, mas está mais próximo da realidade), bem como nas notas de Marco Polo e de outros viajantes que tinham ido ao Extremo Oriente. Esta carta, de 1474, foi acompanhada de um mapa feito pelo próprio Toscanelli.

Ao tempo Cristóvão Colombo vivia em Lisboa, terá tido conhecimento da missiva e irá corresponder-se com Toscanelli, fundando assim o seu plano de também chegar à Índia pelo Ocidente, projecto que, como se vê, não é originalmente seu. Ora o monarca português D. Afonso V e seu filho o ainda príncipe D. João II não vão dar crédito aos planos de Toscanelli, nem aos de Colombo. Não será correcto falar já de um plano das Índias, o que se pretenderia era alcançar a «Índia» de Preste João: as viagens pela costa ocidental africana continuavam a bom ritmo para Sul, e o comércio da costa da Guiné apresentava-se rendoso. Em relação à proposta de Colombo, D. João II estava convicto que em breve circundaria a África, sobretudo depois do regresso de Diogo Cão da sua primeira viagem. Além disso deveria ter achado o projecto arriscado e oneroso, sendo por igual muito provável que os seus conselheiros o tivessem por igual rejeitado, considerando-o resultante de um conhecimento geográfico erróneo.


João G. Ramalho Fialho



Bibliografia
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