Astrologia judiciária

A astrologia foi durante muitos séculos predominantemente mântica ou adivinhatória. Com o tempo surgiu a sua variante genetlíaca ou judiciária, baseada num horóscopo natal e em outras técnicas posteriores. Essa transição histórica foi muito importante.

Para compreender a atitude da Igreja com relação à astrologia, é necessário lembrar a diferença entre astrologia "natural" e astrologia "judiciária". A astrologia natural estuda a alegada influência dos astros sobre a terra, a natureza, os organismos vivos e, portanto, sobre o carácter e a alma humanos. A astrologia "judiciária" pretende, por meio de certas técnicas (particularmente por meio do horóscopo), levar a "julgamentos", a "conclusões" sobre o destino dos indivíduos e dos povos segundo a configuração e a posição dos planetas a partir de determinados momentos de sua vida ou história.

A Igreja Católica não contestava a legitimidade da astrologia natural. Dionísio Aeropagita, Cesário, Jerónimo, Alberto Magno, Tomás de Aquino e muitos outros admitiram sua legitimidade. Em contraste, a Igreja não podia ficar inerte em face da astrologia "judiciária", que afirma estar o destino do homem "escrito nas estrelas", porque tal posição nega a liberdade humana.

Na sua Suma contra os gentios, Tomás de Aquino apresenta um resumo da história da astrologia. Dedica dois opúsculos aos horóscopos (De sortibus e De judiciis astrorum). Neste último, pode ler-se: "Se alguém se serve do juízo dos astros para conhecer efeitos corporais, por exemplo, a ocorrência de tempestades ou de tempo bom, a saúde ou doença dos corpos, a abundância ou a esterilidade das colheitas e outras coisas que dependem de causas naturais cognoscíveis, não há nisso pecado, pois todos os homens são obrigados a nisso submeter-se aos astros. O agricultor só pode semear ou colher prudentemente se se assegurar dos movimentos do sol(...) Em contraste, é forçoso afirmar que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos astros; se o estivesse estaria arruinada a liberdade, que, eliminada, não permitiria atribuir aos homens nem acto bom nem acto mau, meritório ou culpável... É um grande pecado recorrer aos horóscopos nesses assuntos".


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