O fabuloso Museu de Marinha
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Colecção de astrolábios náuticos do Museu de Marinha, considerada a maior de todo o mundo
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Sediado na ala oriental do Mosteiro dos Jerónimos e prolongando-se num pavilhão moderno, é uma jóia do nosso património histórico e científico. Aí se encontram peças de incalculável valor, a par com modelos, mapas e esculturas que introduzem o visitante na arte e ciência da navegação
Logo à entrada, encontra-se uma imponente estátua do Infante Dom Henrique, cercada por estátuas menores de navegadores que exploraram os mares a sua instância. Ao fundo, aparece um gigantesco mapa que mostra as viagens mais importantes dos nossos antepassados. Crianças em visita escolar, casais de estrangeiros e famílias detêm-se a observar os rumos seguidos por Diogo Cão, Vasco da Gama e outros navegadores de tempos remotos.
Passando à sala principal, entra-se no coração do museu, uma sala ampla, dedicada à época áurea das navegações portuguesas. Logo à entrada, observa-se uma réplica da célebre inscrição de Ielala, efectuada por Diogo do Cão em 1483, na sua viagem de exploração do rio Zaire. Chegado à embocadura do grande rio, o navegante terá admitido tratar-se de uma passagem do oceano Atlântico para o Índico e explorou a via fluvial ao longo de mais de 150 quilómetros. Deteve-se nos inultrapassáveis rápidos de Ielala e aí deixou a marca da sua presença, com uma inscrição numa rocha situada na margem esquerda do rio. Foi mais tarde que os exploradores passaram a utilizar os conhecidos padrões, de que o museu mostra também um exemplar.
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Escultura de madeira do arcanjo São Rafael. Esta é a única peça remanes-cente da armada em que Vasco da Gama desco-briu o caminho marítimo para a Índia
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Logo à esquerda, encontra-se uma escultura de aparência modesta, mas carregada de imenso significado histórico. É uma imagem do Arcanjo São Rafael que é a única peça sobrevivente da viagem de Vasco da Gama. Trata-se de uma magnífica escultura em madeira pintada, que foi transportada na nau comandada por Paulo da Gama, irmão do comandante da expedição marítima e também ele explorador marítimo.
Esta é uma das peças mais importantes, se não a mais importante do museu. Mas temos muitas outras preciosidades, tais como o hidroavião que terminou a viagem de Sacadura Cabral e Gago Coutinho sobre o Atlântico Sul, em 1922, ou o bergantim real mandado construir pela Rainha D.
Maria, que tem mais de 220 anos e que foi utilizado pela última vez transportando a Rainha Isabel de Inglaterra, na sua visita a Portugal em 1957.
Mais à frente, no centro da sala, aparece uma colecção de modelos de navios utilizadas nas viagens marítimas portuguesas. Não se conhecem desenhos ou pinturas da época que revelem a figura desses navios. O que se sabe foi reconstruído a partir de testemunhos escritos, nomeadamente livros de instruções de construção naval. A arqueologia submarina tem recuperado algumas embarcações antigas, mas não se teve ainda a sorte de encontrar restos dos tempos das descobertas. Os modelos exibidos no museu foram laboriosamente construídos e representam o que se sabe sobre os navios utilizados na altura.
Os modelos estão dispostos por ordem cronológica, para mostrar a evolução da arquitectura naval conseguida pelos portugueses. Um dos primeiros modelos é o da barca. A barca foi o navio com que Gil Eanes dobrou o Bojador, essa proeminência do continente africano que apenas se conseguiu vencer à décima terceira tentativa. É uma embarcação robusta, de casco forte e chato, capaz de aguentar embates em rochas e passar por águas pouco profundas. A barca estava certamente munida da chamada vela redonda, um pano aproximadamente quadrangular, em forma de pendão de igreja, que aproveitava ao máximo a força dos ventos. A vela inchava, um pouco como um balão, derivando talvez daí a sua designação de «redonda». A barca era um navio pouco manobrável e não muito veloz. Na altura, o importante era que aguentasse os embates oceânicos e que pudesse explorar cuidadosamente a rota africana. As barcas avançavam lentamente, explorando o caminho. Imagina-se que, na proximidade da costa ou perante o receio de baixios, seguisse à proa um marinheiro, de prumo na mão, medindo a profundidade e precavendo o perigo. Uma vela redonda, no entanto, não permite que o navio seja facilmente manobrado, exigindo atenção constante e grande esforço no leme. A esta vela principal acrescentou-se depois uma vela menor, pela proa, a que se deu o nome de artimão e que ajudava a governar o navio.
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Naus e caravelas portuguesa do tempo dos Descobrimentos, na sala do museu dedicada às embarcações dos séculos XV e XVI
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Passado o Bojador, foi ultrapassado um marco simbólico que se receava intransponível e que se pensava conduzir a mares povoados por perigos insuperáveis e a regiões desertas e inabitáveis. Os geógrafos clássicos imaginavam que as regiões tropicais eram tão quentes que nenhum ser vivo aí podia sobreviver, pelo que os feitos dos marinheiros portugueses foram não só decisivos para a abertura das rotas e o contacto entre os povos, como para a nova cultura do Renascimento.
Passado o Bojador, percebeu-se também que seria possível ultrapassar o cabo pelo mar largo, evitando os perigos das rochas que espreitavam a navegação costeira e voltando a alcançar a costa mais a sul. Para essas manobras oceânicas, tal como para a exploração da costa a sul do Bojador, era necessário um navio mais veloz e mais manobrável. A barca foi substituída pela caravela, navio emblemático dos Descobrimentos.
A caravela estava munida de velas triangulares, as chamadas velas latinas, utilizadas no Mediterrâneo desde o século VIII. Por serem triangulares, eram ditas «a la trina», o que originou a designação de «latina». Essas velas estavam sustentadas por vergas suspensas em diagonal nos mastros, em vez de se apresentarem horizontais, como acontecia nas barcas e, mais tarde, nas naus e galeões. O resultado era uma maior capacidade de manobra. Além disso, a inclinação da vela latina permitia navegar contra o vento, efectuando um ziguezague a que os marinheiros chamam bolinar. Foi com a caravela que os exploradores portugueses dobraram o sul de África e viram pela primeira vez o Índico.
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Hidroavião «Santa Cruz», em que Gago Coutinho e Sacadura Cabral chegaram ao Brasil, na primeira travessia aérea do Atlântico Sul
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Terminada essa fase de exploração, era necessário construir navios mais robustos, que pudessem transportar mais tripulantes e mais soldados, que tivessem porte para fazer face a inimigos e que pudessem transportar grandes quantidades de mantimentos, munições e mercadorias. Foi assim que nasceu a nau, habitualmente com três mastros, com velas redondas nos de vante e uma triangular no de ré, procurando obter das duas primeiras a grande força do vento e da latina a capacidade de manobra. Foi com naus que Vasco da Gama viajou até à Índia.
Ao passear pelo Museu de Marinha, o visitante tem oportunidade para ver em pormenor a evolução da arte naval, seguindo os modelos de barcas, caravelas e naus, tais como os de galeões e navios mais recentes, incluindo os mais modernos. Mas não é só na arte de velejar que o museu oferece uma lição viva de ciência e de história. Na mesma sala principal encontram-se canhões e outras peças de artilharia naval. Noutras sala, encontram-se elementos de pesca, com destaque para a pesca do bacalhau. Mais ao fundo, aposentos nobres do iate real «Amélia». Passando ao pavilhão anexo, o visitante pode observar embarcações autênticas, desde barcos de pesca ao referido bergantim real de D. Maria I e ao hidroavião de Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
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Vista geral da sala principal do museu
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O Museu de Marinha tem colocado entre as suas preocupações primeiras, a sua função pedagógica. Há um serviço de extensão educativa, que dispõe de fichas pedagógicas que distribui às escolas. Há cerca de 100 mil alunos por ano a visitar o museu, num total de cerca de 140 mil visitantes anuais. Os professores podem ser ajudados a preparar as visitas.
Nuno Crato
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