Portugal na Convenção do Metro
No século XVIII a comunidade científica procurava um padrão, que pudesse ser aceite internacionalmente, para a unidade do comprimento. Duas ideias se defrontavam então: para alguns o melhor seria definir essa unidade à custa do comprimento de um pêndulo que possuísse um semiperíodo de oscilação de um segundo; para outros seria desejável usar uma parte em dez milhões de um quarto de meridiano um quarto do perímetro terrestre. Uma comissão da Academia das Ciências de Paris, constituída por Borda (1733- 1799), Lagrange (1736-1813), Monge (1746-1818) e Condorcet (1743-1794), foi encarregada de estabelecer a unidade do novo sistema. Esta pronunciou-se pelo quarto de meridiano terrestre, cuja décima-milionésima parte definiria o metro. A força da gravidade varia ao longo da superfície terrestre provocando diferenças no período de oscilação dos pêndulos, o que desaconselhou o uso da definição baseada nestes dispositivos.
A Lei francesa de 30 de Março de 1791 ordenou as operações necessárias à adopção desta base, em particular a medição da diferença de latitude entre Dunquerque e Barcelona que foi determinada por Delambre (1749- 1822) e Méchain (1744-1804), entre 1792 e 1799. Por sua vez, seria o decreto de 2 de Novembro de 1801 que tornaria legal em França o Sistema Métrico Decimal.
Em Portugal existia uma grande diversidade nos sistemas de pesos e medidas. Por isso, D. João VI, enquanto Príncipe Regente, mandou que a Comissão dos Forais e Melhoramentos da Agricultura propusesse um plano de pesos e medidas, em colaboração com alguns sócios da Real Academia das Ciências de Lisboa. Esta Comissão recomendou, em 1812, uma reforma dos pesos e medidas. Por volta de 1814 o Príncipe, governando a partir do Brasil, aprovou os trabalhos da Comissão determinando que se tomassem as medidas necessárias para executar o referido plano.
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Em 1879/80, executaram-se 42 protótipos do quilograma e 30 protótipos do metro. Estes foram numerados e sorteados pelos países signatários da Convenção do Metro, tendo Portugal recebido os exemplares com o Nº 10. Réplica da cópia N° 10 do quilograma-protótipo, sob as duas campânulas de vidro originais, existente no Museu de Metrologia do Instituto Português da Qualidade.
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Embora a Academia Real das Ciências de Lisboa aconselhasse há muito a introdução do novo sistema métrico, mais simples e universal, foi apenas em 1852 que, no reinado de D. Maria II, foi decretado o Sistema Legal de Pesos e Medidas, que tinha por base o metro e que se chamava Sistema Métrico Decimal, sendo estabelecido um prazo de dez anos para a sua entrada em vigor. Simultaneamente, foi criado no Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria a Comissão Central de Pesos e Medidas, que propôs a criação de uma Inspecção-Geral dos Pesos e Medidas do Reino e uma Estação Central de Aferições. O Decreto de 20 de Junho de 1859 tornava obrigatório o uso de medidas lineares decimais e o de 23 de Março de 1869 decretava e regulamentava a inspecção do serviço metrológico.
Entretanto, a necessidade de internacionalizar o novo sistema levou o governo francês, em 1870, à convocação de uma Conferência Internacional. Em 1875, em Paris, na chamada Convenção do Metro, onde Portugal foi um dos 17 países signatários, foi criado o Bureau Internacional dos Pesos e Medidas que funciona na dependência da Conferência Geral dos Pesos e Medidas (CGPM). O Bureau ainda hoje desenvolve a sua actividade nos arredores de Paris assegurando a tarefa de unificar as medições físicas a nível mundial enquanto a Conferência se continua a reunir, de quatro em quatro anos, de modo a introduzir no Sistema Internacional (SI) as modificações que os avanços da ciência e da tecnologia impõem. Também tem a tarefa de promover a disseminação deste sistema de unidades. Reúne hoje 51 países-membros e 20 países associados.
A designação SI surgiu de uma resolução da 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, realizada em 1960, depois de analisadas propostas de uniformização da União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) e outras organizações nas 7ª, 8ª e 9ª Conferências anteriores. A IUPAP recomendava, como base de trabalho, o uso do sistema MKS. Este sistema fora proposto inicialmente pelo físico italiano Giovanni Giorgi (1871-1950) cujas unidades fundamentais são o metro o quilograma e o segundo daí a sigla MKS, do francês mètre, kilogramme e seconde a que foi acrescentado o ampère, o kelvin e a candela, em 1948, na 10ª CGPM.
Na 14ª Conferência Geral de Pesos e Medidas realizada em 1971 foi decidido acrescentar a mole como unidade de quantidade de matéria. Actualmente, este sistema foi adoptado e integrado na lei de quase todos os países do Mundo. Portugal é representado na CGPM pelo Laboratório Central de Metrologia do Instituto Português da Qualidade.
Luís Tirapicos