Teresa Salomé Mota


Carlos Teixeira (1910—1982)





Carlos Teixeira nasceu no norte de Portugal, em Aboim, concelho de Fafe e, entre 1922 e 1929, frequentou o ensino liceal em Chaves e Braga. Licenciou-se em Ciências Histórico-Naturais pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, em 1933. No ano lectivo de 1933—1934 foi contratado como assistente extraordinário de Botânica pela mesma Faculdade e, em 1937, como naturalista do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico, cargo que desempenhou até 1946. Em 1938, enquanto bolseiro do Instituto para a Alta Cultura (IAC), Carlos Teixeira estagiou no Instituto Geológico da Universidade de Lille, em França. Carlos Teixeira doutorou-se em Ciências Histórico-Naturais em 1944, com uma tese sobre o Carbónico de Portugal, temática que, aliás, o tornou cientificamente reconhecido junto dos seus pares. Em 1946, Carlos Teixeira ingressou como 1º assistente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde realizou as provas de agregação em 1948. Em 1950 tornou-se professor catedrático daquela Universidade.

Retrato de Carlos Teixeira, Arquivo Histórico do ex-IGM.

Da obra científica de Carlos Teixeira constam mais de quinhentos trabalhos, que não se limitam a Portugal continental, estendendo-se também às antigas possessões coloniais portuguesas. Apesar de, no início da sua carreira científica, ter dedicado a atenção a questões relacionadas com a Pré-História, a Antropologia e mesmo a Etnografia, acabou por se voltar para a Geologia, em grande parte por influência de João Carrington Simões da Costa (1891—1982) e de Rosas da Silva (?). A sólida preparação que Carlos Teixeira possuía em Botânica fê-lo optar, de início, pela especialidade de Paleobotânica; no entanto, com o passar do tempo, a sua carreira científica e profissional como geólogo caracterizou-se por abarcar, praticamente, todas as áreas da Geologia.

Apesar das formações anteriores ao Mesozóico, sobretudo as respeitantes ao Carbónico continental, terem, desde sempre, despertado um especial interesse em Carlos Teixeira, os seus interesses em Geologia foram vastos. Procurando ter uma visão global da Geologia, estudou formações portuguesas desde o Precâmbrico ao Quaternário. Geólogo de campo por excelência, para o que contribuía a sua robustez física e o desprendimento pelo conforto material, esteve envolvido enquanto colaborador dos Serviços Geológicos (SG) na realização da cartografia geológica de Portugal continental na escala 1/50 000, sendo autor ou co-autor de muitas das folhas. Além disso, foi o principal responsável pela 4ª edição, em 1972, do mapa 1/500 000 de Portugal continental.

Fez também parte de missões a diversos territórios das antigas possessões coloniais portuguesas, assim como se envolveu com os problemas geológicos respeitantes, simultaneamente, a Portugal e a Espanha. Foi ele que organizou e participou activamente em diversos encontros geológicos relativos a este tema.

Carlos Teixeira teve importância fundamental na defesa e desenvolvimento da Geologia em Portugal. Foi um dos fundadores da Sociedade Geológica de Portugal, em 1940. Foi igualmente um assíduo e produtivo colaborador dos SG desde 1944, instituição onde desenvolveu grande parte do seu trabalho de cartografia, e, com subsídios do IAC, fundou e dirigiu o Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1956. Desenvolveu ainda trabalho no âmbito da Geologia enquanto consultor da Junta de Energia Nuclear e membro da Junta de Investigações Científicas do Ultramar. Carlos Teixeira também participou no desenvolvimento da Geologia portuguesa através da ajuda a muitos dos seus alunos, mesmo depois de formados, chegando a conseguir emprego para muitos deles.

Carlos Teixeira não coleccionou muitos títulos e cargos oficiais; era sócio de número da Academia de Ciências de Lisboa e membro da Academia de Ciências de Madrid, entre outros. O reconhecimento científico de que granjeava, como paleontólogo, no seio da comunidade científica internacional, é bem demonstrado pelas diversas novas formas fósseis descobertas que lhe foram dedicadas, adquirindo o seu nome. Muitos dos que com ele conviveram, afirmam que Carlos Teixeira dedicou toda a sua vida e mesmo os seus proventos em prol da Geologia. No fim da vida, a doença fez com que perdesse a visão, mas, ainda assim, trabalhava com colegas e amigos a quem ditava os seus trabalhos. Teve também inimigos, devido ao seu carácter vincado, mesmo autoritário. No entanto, é inegável o papel determinante por ele desempenhado a favor da Geologia portuguesa, quer seja na quantidade de trabalhos publicados, na sua determinação pessoal ou na devoção à causa científica. Carlos Teixeira foi um geólogo de campo incansável e, na época, um dos primeiros a criar escola em Portugal.

Teresa Salomé Mota



Bibliografia

Zbyszewski, G. e Gonçalves, F., “Carlos Teixeira”, Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, 69 (1983), 177—198

Ribeiro, O., Opúsculos Geográficos, Volume I, (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1989), pp. 307—313

Gonçalves, F., “Notícia bibliográfica sobre Carlos Teixeira”, Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, XXII (1984—1985), 2ª série, 85—90

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