Bernardino Barros Gomes (1839-1910)


Engenheiro silvicultor, nasceu e morreu em Lisboa, sendo filho do médico Bernardino António Gomes. Fez os seus estudos superiores em Matemática e em Filosofia na Universidade de Coimbra e, em seguida, partiu para a Alemanha, onde se viria a diplomar naquela especialidade em 1862. Ingressou, logo a seguir, na Repartição de Agricultura do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Alguns anos mais tarde pediria a sua demissão da Administração das Matas do Reino, da qual ficaria afastado durante alguns anos (1868-1872), mas não inactivo.

Barros Gomes introduziu em Portugal os estudos de ordenamento e de economia florestal, procedendo a levantamentos cartográficos minuciosos de muitas áreas. Profundo conhecedor da flora portuguesa, relacionou a repartição das espécies florestais com o meio, implementando também os primeiros estudos fitogeográficos. Legou ao País, como cientista e técnico competente, inúmeras publicações, entre relatórios oficiais e sínteses das suas reflexões, para além de mapas que ilustravam uns e outros.

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Distribuição das espécies florestais em Portugal segundo B. Barros Gomes: o sobro (1881).
Divisão regional proposta por B. Barros Gomes, sobre um fundo orográfico extraído da Carta Geográfica de Portugal, em Cartas elementares de Portugal (1878). Distribuição da população em 1876, em hectares por habitante, segundo as Cartas elementares de Portugal de B. de Barros Gomes.

Distribuição das espécies florestais em Portugal segundo B. Barros Gomes: o sobro (1881).

Divisão regional proposta por B. Barros Gomes, sobre um fundo orográfico extraído da Carta Geográfica de Portugal, em Cartas elementares de Portugal (1878).
Distribuição da população em 1876, em hectares por habitante, segundo as Cartas elementares de Portugal de B. de Barros Gomes.

As suas actividades levaram-no a palmilhar o País e a conhecê-lo a fundo, o que lhe permitiria vir a escrever sínteses notáveis, reunindo as suas observações. A partir das características naturais do território português, esboçou uma divisão regional, proposta em Carta orográfica e regional de Portugal (1875), tendo por base a Carta Geográfica 1:500 000 (1865) dirigida por F. Folque. Ao relevo associou os contrastes climáticos e a repartição da população, num trabalho pioneiro sobre o qual assentariam, meio século depois, as regiões geográficas de A. de Amorim Girão, H. Lautensach e O. Ribeiro.

No Relatório da Administração Geral das Matas relativo ao ano económico de 1879-1880 (1891) foram publicadas, da sua autoria, 9 cartas do conjunto de Portugal (1:1 000 000) com a distribuição das principais espécies florestais, entre as quais o pinheiro manso e bravo, a azinheira, a alfarrobeira e o sobro. Supõe-se que elas tenham estado na base da preparação de uma outra representação sua, a carta dos arvoredos ou Carta xilográfica de Portugal (1876). As Cartas elementares de Portugal (1878) foram o seu último trabalho de fôlego: este atlas, com cinco pequenos mapas e respectivas descrições, condensa o essencial dos seus estudos e observações, que ultrapassaram a ciência florestal. Ele foi geógrafo “malgré lui”, no dizer de O. Ribeiro, esse outro verdadeiro e destacado geógrafo português. Embora destinadas ao ensino, pouca repercussão, no entanto, estas Cartas nele parecem ter tido.

Em 1883 abandonou definitivamente as suas actividades profissionais e recolheu-se numa apagada vida religiosa, tendo sido ordenado padre cinco anos depois. Seria assassinado em Lisboa, na noite de 4 para 5 de Outubro de 1910, pelos revolucionários republicanos.

Maria Helena Dias


Referências

ALMEIDA, António Mendes de – “Elogio histórico do silvicultor Bernardino Barros Gomes". Revista Agonómica, Lisboa, XV (1-12), 1920, p. 1-21.

DEVY-VARETA, Nicole; RODRIGUES, José Resina; GARCIA, João Carlos – “Bernardino Barros Gomes e as cartas elementares de Portugal”. In: Cartas elementares de Portugal para uso das escolas por B. Barros Gomes. Lisboa: [s.n.], 1990 (ed. fac-similada), p. I-XVI.

RIBEIRO, Orlando – “ Barros Gomes, geógrafo”. Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, II (I), 1934, p. 104-112.

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