Félix da Silva Avelar Brotero (1744-1828)


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Félix da Silva Avelar era o nome de nascimento deste botânico, lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, doutor em Medicina pela Universidade de Reims, que nasceu em Santo Antão do Tojal a 25 de Novembro de 1744 e morreu em Belém, Lisboa, em 4 de Agosto de 1828. Filho de José da Silva Pereira e Avelar, médico pela Universidade de Coimbra. Aos 19 anos recorreu à arte do canto para angariar meios de subsistência, devido à morte do seu avô e, após ter ficado órfão de pai aos 2 anos e a sua mãe ter perdido a razão, conseguiu um lugar de capelão cantor na patriarcal de Lisboa. Entretanto tinha estudado latim, grego e música e adquirido conhecimentos de Direito Canónico suficientes para ir para Coimbra fazer exame três anos seguidos, não concluindo porém a formatura devido à reforma da Universidade de 1772, que proibia exames sem a respectiva frequência.

Foi, em 1778, redactor das Gazetas de Lisboa, ao reaparecerem depois da sua suspensão desde 1762. As suas ideias filosóficas, e a amizade que o ligava a Francisco Manuel do Nascimento - Filinto Elísio (1734-1819), tornaram-no suspeito ao Santo Ofício, e viu-se obrigado a emigrar, juntamente com o seu amigo. A 5 de Julho de 1778 embarcaram ambos para Paris. Foi em Paris que, seguindo o uso dos estudiosos da época, adoptou o apelido de Brotero (amante dos mortais). Durante os 12 anos em que esteve em Paris, frequentou assiduamente as aulas e institutos de ciências naturais, ao mesmo tempo que procurava meios de subsistência por trabalhos originais e traduções que vendia aos livreiros. Assistiu ao Curso de História natural que Valmont de Bomare abriu em Paris em 1781, e às lições de Botânica de Brisson no Académie de Pharmacie. Concluídos os principais estudos de História Natural doutorou-se na Escola de Medicina de Reims. Deixou depois de exercer clínica e dedicou-se exclusivamente ao estudo da Botânica. Deixou Paris depois de haver presenciado os acontecimentos iniciais da revolução francesa e chegou a Lisboa em 1790, na companhia de Filinto Elísio.

Pela reputação que ganhara foi nomeado lente de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra, por Decreto de 25 de Fevereiro de 1791. Já em 1788 havia publicado em Paris o Compêndio de Botânica. As suas prelecções alcançaram grande êxito. Iniciou a primeira escola prática de Botânica, reorganizando o jardim, que fora principiado sob a direcção do antigo lente, Domingos Vandelli (1730-1816). Dedicou-se à investigação botânica e daí resultaram obras importantes como a Flora Lusitanica (1804) e a Phytographia Lusitaniae selectior, cuja publicação, começada em 1816, terminou em 1827. Nos seus trabalhos de colheita de exemplares passou por diversas situações de perigo: três quedas na Serra da Estrela, um ataque de salteadores no Alentejo, uma tentativa de assassínio por pastores que suspeitavam que Brotero inspeccionava os baldios para conseguir que lhe fossem doados. Por Decreto de 27 de Abril de 1811 foi nomeado por D. João VI director do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda; e jubilado por decreto de 16 de Agosto de 1811.
Em 1820 foi eleito deputado às Cortes Constituintes pela Estremadura. Depois de ter assistido aos trabalhos legislativos durante 4 meses, pediu dispensa que lhe foi concedida.

Obras

Compendio de Botanica, ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores Modernos, espostas na Lingua Portugueza, Paris, 1788, 2 vols.; Principios de Agricultura Philosophica, Coimbra, 1793; "An Account of the Fructification of Lycopodium Denticulaum", Transactions of the Linnean Society, 5, 1800; Phytographia stirpium, quae in Lusitania sponte veniunt descriptiones, Lisboa, 1800; "Description of Callicocca Ipecacuanha", Transactions of the Linnean Society, 6, 1802; Flora Lusitanica, seu plantarum, quae in Lusitania vel sponte crescunt vel frequentius coluntur, ex florum praesertim sexubus systematice distributarum, synopsis, Lisboa, 1804; "Reflexões sobre a Agricultura em Portugal, sobre o seu antigo e presente estado; e se por meio de escholas ruraes practicas, ou por outros, ella pode melhorar-se e tornar-se florente", Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 4, 1815; Phytographia Lusitaniae selectior, seu novarum et aliarum minus cognitarum stirpium, quae in Lusitania sponte veninunt, ejusdemque floram spectant, descriptiones iconibus illustratae, Lisboa, 1816 1º vol, 1827, 2º vol.; "Descriptions of a New Genus of Plants named Araujia, and of a New Species of Passiflora", Transactions os the Linnean Society, 12, 1817; "Noções Historicas das Phocas em geral e particular, com as descripções das que se conservão no Real Museu do Paço de Nossa Senhora da Ajuda", Jornal de Coimbra, 11, 1817; "Descriptions of Two New Species of Erythrina", Transactions of the Linnean Society, 14, 1824; História Natural da Orzella, Lisboa, 1824; Noções Geraes das Dormideiras, Lisboa, 1824; Noções Botanicas das Espécies de Nicociana, Lisboa, 1826; História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos, Lisboa, 1827.

Principais contributos científicos

Enquanto esteve em Paris, Brotero participou nas sessões de botânica de Valmont Bomare (1731-1807), assistiu às demonstrações botânicas de Buisson na Académie de Pharmacie e desenvolveu relações de amizade com Vicq d'Azyr (1748-1794), Daubenton (1716-1800) e Antoine de Jussieu (1748-1836). Durante este período terá também conhecido Buffon (1707-1788), Condorcet (1743-1794) e Lamarck (1744-1829). Nas suas investigações botânicas fez diversas viagens, nomeadamente ao Sul de Inglaterra, à Holanda e aos bancos do Reno e Alpes italianos.

O seu Compendio de Botânica publicado em 1788 em Paris é o primeiro livro de texto do género escrito e publicado em português. Esta obra, em que faz uma revisão crítica da situação de então na Botânica, granjeou-lhe enorme prestígio entre os seus pares. Enquanto lente na Universidade de Coimbra, onde leccionou Botânica durante cerca de 20 anos, ganhou enorme prestígio entre estudantes e professores, em virtude da qualidade das suas aulas.

Na sua obra Principios de Agricultura Philosophica analisa os problemas estruturais da agricultura portuguesa e suas implicações na Economia, e defende que a Agricultura devia ser orientada por princípios científicos, de forma a que cada país pudesse fornecer à sua população os produtos de que necessita.

O seu trabalho Flora Lusitanica vem preencher um vazio existente em Portugal, uma vez que não existia até aí um inventário completo da flora portuguesa. Brotero identificou cerca de 1800 espécies, muitas delas desconhecidas até então. É de realçar que esta obra foi publicada ainda incompleta, devido à pressão do governo português que pretendia que a sua publicação antecedesse a de uma outra obra já então anunciada, a Flore Portugaise, de Link e Hoffmansegg. Apesar de incompleta, a Flora Lusitanica tornou-se um marco na investigação botânica em Portugal e da ciência portuguesa em geral. Uma das principais contribuições deste trabalho é a criação de uma nomenclatura botânica portuguesa, até então inexistente.

Depois de jubilado pela Universidade de Coimbra foi nomeado Director do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, onde prosseguiu as suas investigações botânicas.

Tendo ficado desagradado com a forma como a Flora Lusitanica foi publicada, começou a preparar uma outra obra, Phitographia Lusitaniae, em fascículos, onde integraria novas espécies, com ilustrações. O primeiro fascículo foi publicado em 1800, mas a obra só ficou completa em 1827.

Embora o seu trabalho tenha sido reconhecido na Europa, em Portugal, apesar da qualidade também reconhecida das suas aulas e das suas obras, sofreu muito com invejas e obstáculos diversos. A investigação botânica sofreu muito com a sua morte, entrando em decadência. Os jardins botânicos de Coimbra e da Ajuda deixaram de ser devidamente cuidados, ficando num estado deplorável até meados do século XIX.

É possível verificar o prestígio que Brotero tinha na Europa pela correspondência que manteve com prestigiados especialistas da época e pelo facto de botânicos como Sprengel, Cavanille, Willdenow, Boissier, Willkomm e De Candolle terem atribuído o nome de Brotero a plantas que identificaram. Foi membro de diversas sociedades: Horticultural Society de Londres; Linnean Society de Londres; Acadmia Real das Ciências de Lisboa; Société Philomatique; Société d'Histoira Naturalle de Paris; Physioographica Society de Lunden, Suécia; Sociedade de História Natural de Rostock; Academia Cesarea de Bona, e outras.

Fernando Reis

Apontadores

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra


Bibliografia

FERNANDES, Abílio, "Relance sobre a vida e a obra de Félix de Avellar Brotero", Anuário da Soc. Broteriana, Coimbra, 1988, 54, 1988.
PALHINHA; Ruy Telles, "Obra e Vida de Felix de Avelar Brotero", sep. das Memorias, (classe de Ciências - Tomo V), Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1949.
SILVA, Inocencio da, ARANHA, Brito, Diccionario Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, T. II, pp. 259-264.
VEIGA, Augusto da Costa, "Felix Avelar Brotero", sep. da Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, Coimbra, Tip. Atlântida, 1945, vol. XIV.


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