Pereira de Sousa, autor de uma das mais importantes obras sobre o terramoto de Lisboa de 1755. Retrato retirado de Simões, J. M. O., “Biografia de geólogos portugueses — Francisco Luís Pereira de Sousa (1870—1931)”, CSGP, XVII (1931), III—XI.

Francisco Luís Pereira de Sousa nasceu no Funchal (Ilha da Madeira) aí tendo cursado o liceu. Frequentou depois a Escola Politécnica e, em seguida, a Escola do Exército, onde se formou em engenharia no ano de 1894. No mesmo ano, Pereira de Sousa ingressou na carreira militar, nela se mantendo até Outubro de 1904, data em que atingiu o posto de capitão. Nesse mesmo ano deixou o Exército e, ingressou, como adido, no quadro técnico de Obras Públicas, na qualidade de engenheiro subalterno de 2ª classe.

Em Dezembro de 1910, passou a prestar serviço na, então designada, Comissão dos Serviços Geológicos, na qualidade de engenheiro destacado. Pereira de Sousa parece ter ingressado nos SG por vontade própria, devido ao gosto que a Geologia lhe despertava desde os tempos de escola. Entre 1918 e 1922, foi, por duas vezes, chefe interino da instituição, cargo que lhe trouxe alguns aborrecimentos, pelo que o abandonou em 1922. No entanto, Pereira de Sousa conservou-se nos Serviços Geológicos (SG) até Setembro de 1928, altura em que se viu forçado a abandonar a instituição devido a legislação referente a incompatibilidade de cargos, sendo o tempo que aí permaneceu o mais significativo e produtivo no que respeita à sua actividade científica.

Pereira de Sousa desenvolveu ainda actividade docente, tendo sido assistente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa entre 1911 e 1929, ano em que foi nomeado professor catedrático e director do Museu de Mineralogia e Geologia anexo à Faculdade de Ciências, tendo-lhe sido atribuído o título de Doutor em Ciências Histórico-Naturais. Leccionou também durante algum tempo no Instituto Industrial de Lisboa.

Pereira de Sousa foi sócio da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses, sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa, sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e das Sociedades Mineralógica e Geológica de França, onde foi vice-presidente, e vice-presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Fora do campo científico destaca-se a presidência do Conselho Fiscal do Banco Ultramarino e o facto de, pouco antes da sua morte, ter feito parte duma Comissão nomeada pela Ditadura Nacional para o estabelecimento das bases da divisão administrativa do país.

De forma algo ecléctica, Pereira de Sousa dedicou a sua actividade científica a diversas áreas do conhecimento geológico que abrangeram da Estratigrafia à Tectónica, passando pela Sismologia, a Petrografia, o Vulcanismo e a Paleontologia. No início da sua carreira profissional, quando Pereira de Sousa era ainda um engenheiro militar que desempenhava as suas funções no Exército, a sua obra escrita foi dedicada, essencialmente, ao estudo de materiais geológicos utilizados na construção, tendo publicado alguns artigos na Revista de Engenharia Militar e na Revista de Obras Públicas e Minas, como, por exemplo, “Os calcários do distrito de Lisboa”, Revista de Engenharia Militar (separata), (1906), 1-187 e “Ideia geral dos calcários empregados nas construções do distrito de Lisboa, Revista de Obras Públicas e Minas, 35 (1904), 208-227.

A obra científica de Pereira de Sousa ficou a dever muito ao facto de ter trabalhado nos SG, uma vez que esta era talvez, na época, a única instituição em Portugal dedicada à Geologia onde era possível realizar trabalho de campo de forma consistente. A partir do momento em que Pereira de Sousa ingressou nos SG, a sua obra escrita passou a abranger uma temática geológica diversificada, sendo, grande parte dessa mesma obra, decorrente do trabalho de campo efectuado por Pereira de Sousa no Algarve. Esse trabalho estava relacionado com a realização da Carta Geológica do Algarve na escala 1/50 000 e serviu como ponto de partida para a publicação de alguns trabalhos que tiveram como objecto a petrografia, a tectónica e a estratigrafia dessa província, publicados entre 1917 e 1922. Também o estudo petrográfico de algumas regiões de Angola, a partir de amostras enviadas para os SG daquele antigo território português, permitiram a Pereira de Sousa a publicação de alguns trabalhos.

Entre Portugal e França, alguns dos trabalhos mais importantes publicados por Pereira de Sousa foram os seguintes: “Contribuition à l’étude petrographique du Nord de l’Angola”, Comptes Rendus de l’Académie de Sciences de Paris, 157 (1913), 1450-1453; “Sur le Carbonifére inferieur et moyen en Portugal”, Compte rendus rendus de l’Académie de Sciences de Paris, 170 (1920), 116-119; “Contribuição para o estudo do Carbónico inferior e médio em Portugal, sua comparação com o de Hespanha”, Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, XIII (1919—1922), 1-11; "Algumas rochas eruptivas das orlas mesozoica e cenozoica de Portugal", Boletim do Museu e Laboratorio Mineralogico e Geologico da Universidade de Lisboa (separata), 1 (1931), 1-16.

Mas talvez tenha sido a obra de Pereira de Sousa dedicada ao terramoto de Lisboa em 1755 — assunto a que dedicou grande interesse ao longo de, praticamente, toda a sua carreira científica — aquela que lhe granjeou maior reconhecimento científico, tanto em Portugal como no estrangeiro. Publicado em quatro volumes nas Memórias dos Serviços Geológicos de Portugal dos SG, entre 1919 e 1932, O Terramoto do 1º de Novembro de 1755 em Portugal e um Estudo Demográfico, nunca chegou a ser concluído devido à sua morte inesperada em 1931.