- Sr. Pedro Álvares Cabral, diga-nos o ano e o lugar do seu nascimento.
- Ano de 1467, em Belmonte.
- Pais portugueses?
- Sim.
- Como é que o senhor se tornou Comandante da expedição que seguia para as Índias?
- Bem, Vasco da Gama havia voltado de lá, das Índias, e escreveu ao Rei D. Manuel pedindo para me nomear Comandante. É claro que, para isso, eu tinha de ser um óptimo navegante...
- E quando partiu a esquadra?
- Ah, lembro-me como se fosse ontem... Consigo sentir a saudade desde já, a emoção de partir em busca de outros mundos... Foi no dia 9 de Março de 1500. No dia 22 de Março a nossa esquadra já avistava Cabo Verde, de onde saem hoje as mornas e coladeiras de Cesária Évora! Chegámos a tomar um vinho juntos, mas de lá parti em direcção a Ocidente. Efectuaríamos o reconhecimento das terras que se achavam próximas. Porém, meu caro, Deus "castigou-nos" e mandou um forte temporal que nos afastou da costa de África, para sentido contrário e, assim, ficámos vogando por 43 dias! Só no dia 22 de Abril de 1500 é que avistámos um monte. Essa é a história que tenho que contar, mas, na verdade, eu já conhecia aquela região... Fomos tomar posse oficial das novas regiões. Perdi várias embarcações, numa delas morreu o Bartolomeu Dias, o que primeiro venceu o Cabo da Boa Esperança.
- E foi por ser dia de Páscoa que o senhor lhe deu o nome de "Monte Pascoal"?
- Exactamente. Chegámos à costa em 23 de Abril. Mudámos o seu nome para "Ilha de Vera Cruz" e, depois, "Terra de Santa Cruz", a que vocês chamam hoje Brasil (e nós acabámos por chamá-la assim, já naquela época).
- O senhor fez uma descoberta considerada importantíssima. Concorda?
- O Brasil só se tornou importante para a Coroa muitos anos mais tarde e naquele momento era só um porto para a manobra da volta do mar, no caminho das Índias. Só alguns sabiam das riquezas que lá havia, mas não se tinha ideia do valor real. Eu sou um homem de cultura, a minha família é nobre, fui educado na corte de D. Afonso V. Ali recebi instrução científica e histórica, aprendi a manejar armas e recebi instruções para viver na Corte. Contudo, quando descobri o Brasil, tive um desentendimento com o rei, fui afastado da Corte, fui morar para Santarém e lá fui esquecido. Graças a si, Vernhagem, eu fui redescoberto.
- É... Caminha descreve o seu comportamento para com os índios como impecável. O senhor foi um distinto Cavaleiro da Ordem de Cristo e um bom navegante. Antes de chegar ao Brasil, recebeu uma tença, uma pensão vitalícia que não seria dada a um João ninguém.
- É verdade. Tinha o comportamento de um homem da Renascença!
- O senhor casou-se?
- Sim. Conheci, em Santarém, a minha esposa, Isabel de Castro.