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O Galeão Enxobregas
Francisco Maria Bordalo
A publicação de O Galeão Enxobregas, extraído do livro Naufrágios, Viagens, Fantasias & Batalhas (Selecção, coordenação, prefácio. leitura de texto e notas de João Palma-Ferreira), foi gentilmente autorizada por Maria Filipe Palma-Ferreira e Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
© 1997, Maria Filipe Palma-Ferreira e Parque EXPO 98. S.A.
ISBN 972-8127-82-0
Lisboa, Maio de 1997
Versão para dispositivos móveis:
2009, Instituto Camões, I.P.
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O GALEÃO
ENXOBREGAS
I. Tormenta e Revolta
Em uma quinta-feira da Ascensão, que se contavam treze dias do mês de Maio do ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de 1649, reuniu-se muito povo na praia de Belém para ver desaferrar do Tejo o galeão Enxobregas, uma das maiores naus do seu tempo, que por efeito de grossas avarias não seguira para a Índia com o mais da frota d'esse ano, em 15 de Abril; mas que por ser veleiro e seguro esperavam chegasse a Goa adiante daqueles que lhe tomaram a dianteira. A referida armada compunha-se apenas de dois galeões; já não eram aquelas grandes frotas do tempo de D. João III! Por capitânia da viagem ia a nau S. Lourenço, construída na ribeira de Goa, a qual se perdeu logo a 3 de Setembro nos baixos de Moxincale, como mui lastimosamente conta o jesuíta António Francisco Cardim, que era seu capelão; e por almirante um galeão novo, denominado Nossa Senhora do Bom Sucesso do Povo, que também se perdeu, cinco dias depois, perto das ilhas de Angoxa, no quarto da modorra, com vento em popa, amarras telingadas e vigias na sobrecevadeira, como igualmente conta o reverendo padre da Companhia de Jesus. Com vento fresco e de feição, ao repontar da maré, desceu airoso o Tejo o nosso galeão Enxobregas, levando por seu capitão a Bastião de Morais, o dos óculos, acanhado da vista mas desembaraçado do pulso. Por piloto ia Pêro Dourado, velho navegador da Índia. Duarte Fernandes era o mestre da nau; e Pantaleão Vaz, o Cheira-Dinheiro, seu contramestre. De passagem levava vários fidalgos, oficiais e soldados, que iam a servir el-rei no ultramar; alguns missionários da Companhia de Jesus e da Ordem do seráfico S. Francisco; e duas senhoras de distinção, uma esposa outra filha de Rui da Cunha, provido com a fortaleza de Cananor.
Ao pôr-do-sol do mesmo dia da saída, já estes navegantes não viam terra da pátria; e engolfando-se nas solidões do oceano procuravam o caminho da frondosa ilha da Madeira.
Viagem de rosas tiveram, não só até à altura de Porto Santo que enxergaram de perto, e da Madeira que avistaram ao longe, mas além da ilha de Santo Antão, uma das de Cabo Verde, que marcaram ao cabo da décima oitava singradura.
Depois começaram-lhe a dar as trovoadas de Guiné, e no paralelo da Serra Leoa viu-se o galeão perdido, com os ventos furiosos e desencontrados que o assaltaram, com o mar bravio que se levantava em pirâmides, e com raios que caíam em roda do navio, fazendo horrível estrondo, cegando com o brilho dos relâmpagos e ameaçando de o incendiar.
Os timoratos já pediam confissão ao capelão da nau, padre Jerónimo da Conceiç&ati