Espaço Atlântico de Antigo Regime

Espaço Atlântico de Antigo Regime

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O comércio com o Brasil e a comunidade mercantil em Moçambique (séc. XVIII)


Luís Frederico Dias Antunes
Departamento de Ciências Humanas - Instituto de Investigação Científica Tropical


Como é sabido a economia moçambicana setecentista foi dominada pela elite comercial baneane oriunda do Guzerate. Este corpo mercantil indiano, altamente especializado, encontrava-se organizado na Mazania, uma estrutura de casta, fortemente marcada por preceitos religiosos, que decidia sobre os aspectos mais importantes da actividade económica e da vida social da comunidade.
Pelo contrário, os comerciantes portugueses envolvidos no tráfico transoceânico de escravos para as Américas só no último quartel do século XVIII sentiram necessidade de actuar em sociedade.  O objectivo principal deste artigo será, assim, o de perceber a génese do pequeno corpo mercantil europeu em Moçambique. Tentaremos, por isso, conhecer as razões políticas e económicas que determinaram e facilitaram a sua organização, e procuraremos perceber como se estabeleceu uma longa e complexa rede de relações comerciais, qual o peso da crescente pressão do mercado atlântico, quais as alterações ocorridas na natureza das mercadorias africanas mais exportadas e, finalmente, qual a intensificação do tráfico negreiro na costa oriental africana.

O controlo e a ocupação da região do Amazonas pelos portugueses no século XVIII


Fernando Cabral Martins de Almeida
Universidade Autónoma de Lisboa


Desde que chegaram ao Brasil, oficialmente, em 1500, na armada comandada por Pedro Álvares Cabral, os Portugueses fixaram-se preferencialmente na região compreendida entre Pernambuco e o Rio da Prata, por diversas razões. Além das dificuldades encontradas na navegação, de fortes correntes marítimas que dificultavam as comunicações por mar entre a região do Amazonas e Pernambuco, esta região no norte tinha um interesse económico menos atractivo. Dessa forma, só começou a efectuar-se a ocupação desse território com a fixação de colonos e a consolidação do poder do Estado, com estruturas administrativas e militares, mais intensivamente durante o século
XVII. Mas, em fins do século XVI encetaram-se algumas iniciativas de dimensão relevante na conquista e ocupação efectiva da região da Amazónia. Desde a subida de Filipe II, de Espanha, ao trono de Portugal, em 1580, acentuou-se a penetração dos Portugueses no interior do território, com o desenvolvimento das capitanias do Nordeste e a sua integração no conjunto brasileiro. Aumentou o número de iniciativas de exploração na direcção da floresta, abrindo-se clareiras ao longo do curso dos rios, onde se construíam povoados. De 1586 a 1590, o capitão Frutuoso Barbosa pacificou a região da Paraíba, avançado depois para o Sergipe, por entre as tribos nativas. Ainda neste século, Pêro Coelho de Sousa assegura o controlo do Rio Grande do Norte e do Ceará. Apesar das fontes bibliográficas serem pouco extensas nesta área, este é sem dúvida um tema que vale a pena ser mais bem estudado, pela importância dos acontecimentos que ocorreram nesta região, num plano estratégico mais vasto com o jogo de influências e disputa pelo domínio do poder entre as potências europeias, a nível mundial. Além disso, permite compreender melhor a História do Brasil, que se tornou num dos maiores países do mundo, criado por colonos provenientes de Portugal, que sempre foi um país pequeno, a nível geográfico e demográfico, em comparação com outros do Norte da Europa.

O discurso (etnográfico) da alteridade no Tratado Breve dos Rios de Guiné do cabo Verde (1594) [...]


Rogério Miguel Puga
Centro de História de Além-Mar - Universidade Nova de Lisboa


Em 1594, o capitão André Álvares d'Almada (m. 1594) redige o Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo-Verde, narrativa, que, apenas é publicada em 1841, por Diogo Köpke, e descreve as instituições locais, a natureza, a toponímia e o modus vivendi de vários 'reinos' da secção central da costa ocidental africana, nomeadamente através da representação (proto)etnográfica do género, do estatuto social e da vivência cultural e diária dos mesmos. 
O documento em questão apresenta-se como representação gráfica de realidades exóticas que o autor tenta descodificar e apresentar perante o leitor português quinhentista, sendo esse processo analisado no nosso estudo, sobretudo a forma como as culturas Outras são abordadas ao longo do texto.

O fidalgo-mercador Francisco Pinheiro e o tráfico negreiro português na costa da Mina [...]

O fidalgo-mercador Francisco Pinheiro e o tráfico negreiro português na costa da Mina na primeira metade do século XVIII
Carlos Gabriel Guimarães
Departamento de História da Universidade Federal Fluminense

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O presente trabalho tem como objectivo analisar a actividade comercial desenvolvida pelo fidalgo-mercador Francisco Pinheiro na Costa da Mina.

A descoberta de ouro nas Minas Gerais promoveu uma mudança no tocante à região privilegiada pelo fidalgo-mercador Francisco Pinheiro na colónia portuguesa: do Norte passou para o Sul, especificamente a cidade do Rio de Janeiro.

Tendo a cidade do Rio de Janeiro como sede dos seus negócios coloniais, Francisco Pinheiro intensificou ainda mais seus negócios na África, principalmente com o tráfico negreiro na Costa da Mina. A crescente necessidade de braços para as Minas fez com que aumentasse seu investimento na organização do tráfico africano, de tal forma que uma maior vigilância foi feita sobre os seus comissários e consignatários no Rio de Janeiro e nas Minas Gerais. Tal medida intensificou o conflito do mercador com seus associados.

 

O governo de Angola no século XVIII


Maria Goretti Soares
Centro de História de Além-Mar - Universidade Nova de Lisboa 


A presente comunicação incide, fundamentalmente, sobre dois aspectos do governo de Angola durante o século
XVIII. O primeiro abordará os traços gerais da estrutura organizativa do governo e o balanço evolutivo ao longo de Setecentos. O segundo terá em conta o conjunto dos recursos administrativos e humanos e a caracterização dos perfis profissionais dos principais funcionários régios.

O Maranhão no espaço atlântico construção de identidades (século XVIII)


Marinelma Costa Meireles
Universidade Brasília

O deslocamento de populações pela dinâmica do tráfico de escravos, conduziu à abertura do Atlântico através de rotas de comércio e vias de intercâmbio de mercadorias e de idéias.
Nessa óptica, a província do Maranhão, norte do Brasil, vivenciou significativas mudanças com a implantação da Cia. de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, quando esta começa a exercer oficialmente o  monopólio do comércio de escravos para a região.
No contexto da Companhia, sob a dinâmica do comércio de escravos, pretendo destacar e relacionar dois segmentos sociais: - escravos e comerciantes e:
Apontar traços que permitam delinear certas identidades através das etnias africanas encontradas na região%% 
Compor um quadro da população maranhense, buscando identificar os grupos organizados em torno das actividades de comércio.

O nosso Guiné": representações luso-africanas do espaço guineense (sécs. XVI-XVII) "


José da Silva Horta
Faculdade de Letras - Universidade de Lisboa 


A África Atlântica entre o rio Senegal e a Serra Leoa" -- a denominada "Guiné do Cabo Verde" ou "Rios de Guiné do Cabo Verde"-- constituiu um espaço de presença portuguesa e luso-africana que manteve estreitos laços com

O poder naval português no Atlântico séculos XVI a XVIII


Augusto António Alves Salgado
Academia da Marinha


Mesmo após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o Atlântico continuou a ser fundamental para a Coroa portuguesa, pois era por este mar Oceano que todas as armadas percorriam, quer viessem do Oriente, quer do Brasil.
Talvez, por essa razão, fosse também, no século XVI e até meados do século XVII, a zona de actuação preferida de piratas e corsários e onde, até ao século XIX, as forças navais europeias desempenharam um importantíssimo papel nos grandes conflitos europeus. 
Contudo, e apesar de ter bons conhecimentos técnico-navais, Portugal nunca tentou exercer o efectivo controlo marítimo desta área oceânica, como o fez no Índico no século XVI. Nunca deixou, porém, de enviar diversas forças navais portugueses, com carácter regular ou não, nesse período. Segundo algumas correntes historiográficas, os principais acontecimentos que impediram que a Coroa de Portugal tentasse efectuar esse controlo do espaço marítimo e, consequentemente, deixasse de ser considerada uma potência marítima europeia foram o fim da sua marinha de guerra durante o denominado período filipino e, posteriormente, a aliança mantida com Inglaterra. Interpretar de uma forma conjunta e global, essas ou outras razões, que levaram Portugal a assumir, propositadamente, segundo a minha opinião, um papel secundário nesses importantes acontecimentos que tiveram o Atlântico como teatro de operações, nos séculos XVII a XIX, com base nos acontecimentos navais, nos meios e organização portuguesas, é o objectivo deste estudo.

O senado da Câmara da Bahia e a crise do antigo sistema colonial


Avanete Pereira de Sousa
Universidade de São Paulo


A noção de crise do Antigo Sistema Colonial parte da premissa do esgotamento dos mecanismos que sustentavam as práticas mercantilistas, monopolistas e de dominação das metrópoles sobre amplo território colonial conquistado e explorado ao longo dos séculos XVI ao XVIII. Os argumentos dessa tese são amplamente discutidos em obras de consagrados e reconhecidos autores. No que se refere à América portuguesa, apesar dos avanços de estudos monográficos e datados em conjunturas específicas, sobretudo no período que abrange o final do século XVIII e princípio do XIX, ainda permanece aberta a questão de se identificar e de se compreender o comportamento, as reacções, a assimilação e a vivência dos diversos actores sociais presentes e actuantes nas instâncias do poder local. Ou seja, a aproximação da análise histórica enfocando as atitudes, as expressões, as representações, os discursos e as práticas políticas no âmbito do poder local podem revelar diferentes direcções e modos de se pensar e se refletir sobre a crise do Antigo Sistema Colonial, por exemplo: Como se comportavam as elites locais face ao controle sobre a economia em nível municipal? Qual o grau de recepção, entre esta mesma elite, dos ideários liberais que apregoavam a não regulamentação económica? Lançar luzes sobre essas questões tomando como referência as relações sociais políticas e económicas implícitas à Câmara Municipal da cidade de Salvador é, pois, o objectivo desta comunicação.

O Uraguai e o Amazonas: diálogos da ilustração brasileira com a portuguesa e a européia


Beatriz Helena Domingues
Universidade Federal de Juiz de Fora


A proposta desta comunicação é fazer um paralelo entre a produção literária dos jesuítas expulsos do Brasil em 1759 e aquela produzida pelas elites letradas coloniais nas academias literárias fundadas por ocasião da expulsão da Companhia de Jesus mostrando a inserção desses textos no clima de opinião" da Ilustração.  O argumento central aqui desenvolvido é que, apesar de serem diferentes - e em muitos pontos até mesmo opostos -, os projectos que orientavam a elite colonial brasileira e os jesuítas, é possível encontrar em alguns jesuítas e em alguns acadêmicos brasílicos pelo menos uma convergência: o despertar de um americanismo, de uma consciência da individualidade brasileira.

O Urbanismo Português, Factor de Integração no Espaço Atlântico


Manuel C. Teixeira
ISCTE


A expansão colonial portuguesa inicia-se simbolicamente com a conquista de Ceuta em 1415 e, poucos anos depois, com a descoberta da ilha da Madeira em 1425. Seguir-se-ia, ao longo dos séculos XV e XVI, a descoberta das várias ilhas dos Açores, a progressão pela costa Africana, a chegada à Índia em 1498, a oficialização da descoberta do Brasil em 1500, e a construção de um império comercial e de navegação ao longo do século XVI no Oriente e nas costas atlânticas. A fundação de núcleos urbanos foi uma importante componente na construção e na consolidação do império colonial português. A cidade do Funchal, na ilha da Madeira, foi a primeira cidade portuguesa construída fora do território continental Europeu.
De início, os modelos de referência destas novas cidades coloniais eram os modelos urbanos da metrópole, adaptados ao sítio e às circunstâncias locais. As duas referências principais nesta fase inicial de colonização e de fundação de cidades ao longo do século XV, eram, por um lado, os modos vernáculos de povoamento, que se caracterizavam por uma estreita adaptação às características topográficas do sítio e, por outro lado, os modelos eruditos que tinham estado na base dos planos das cidades medievais planeadas, pouco mais de um século antes. Mas desde os finais do século XV, as cidades coloniais começaram a ser o campo de experiência e de desenvolvimento de novas ideias urbanísticas, que se iriam posteriormente reflectir na metrópole. Os modelos medievais são rejeitados e desenvolvidos novos tipos de traçado, de base ortogonal. Esta mesma regularidade do traçado vai expressar-se nas novas expansões urbanas levadas a cabo em Portugal a partir do início do século XVI.
É nas cidades novas que se vão fundar a partir do século XVI nos territórios da expansão ultramarina que se vão desenvolver plenamente estas novas ideias urbanísticas, e que vemos desenvolver-se alguns dos grandes temas do urbanismo português. São disso exemplo a cidade de Angra, na ilha Terceira dos Açores, no princípio do século, e a cidade de Salvador da Bahia, no Brasil, em meados do século. O Brasil, onde a partir daquele século se assiste à fundação de raiz de um grande conjunto de vilas e de cidades, é o território de eleição onde melhor se pode observar a plena expressão das características morfológicas definidoras do urbanismo português que irá constituir um dos principais factores de integração cultural neste espaço Atlântico.

O «fidalgo mercador» Francisco Pinheiro e o tráfico negreiro português na Costa da Mina [...]


Carlos Gabriel Guimarães
Universidade Federal Fluminense


O presente trabalho tem como objectivo analisar a actividade comercial desenvolvida pelo fidalgo-mercador Francisco Pinheiro na Costa da Mina.
A descoberta de ouro nas Minas Gerais promoveu uma mudança no tocante à região privilegiada pelo fidalgo-mercador Francisco Pinheiro na colónia portuguesa: do Norte passou para o Sul, especificamente a cidade do Rio de Janeiro. Tendo a cidade do Rio de Janeiro como sede dos seus negócios coloniais, Francisco Pinheiro intensificou ainda mais seus negócios na África, principalmente com o tráfico negreiro na Costa da Mina. A crescente necessidade de braços para as Minas fez com que aumentasse seu investimento na organização do tráfico africano, de tal forma que uma maior vigilância foi feita sobre os seus comissários e consignatários no Rio de Janeiro e nas Minas Gerais. Tal medida intensificou o conflito do mercador com seus associados.

O «sistema militar» corporativo na América Portuguesa


Francis Albert Cotta
Centro de Pesquisa da Pós-Graduação da Policia Militar de Minas Gerais


Tendo como suporte a teoria corporativa do poder e da sociedade, teria estabelecido na América Portuguesa uma organização militar sui generis. Os corpos militares de capitanias litoranêas como o Rio de Janeiro e Bahia teriam se especializado na defesa de ataques que viriam do mar. Para tanto, desenvolveu-se um parque de artilharia e engenharia, com a criação de escolas e com a presença de especialistas.
Capitanias como as de São Paulo e Mato Grosso desenvolveram corpos militares com especialidades ligadas aos embates com espanhóis, através da protecção das fronteiras terrestres. Nas Minas Gerais devido a questões geopolíticas e económicas, os corpos militares teriam se especializado no policiamento" das minas, estradas e controle da ordem interna.

Os engenhos do Rio de Janeiro do Século XVII

Maurício de Almeida Abreu
Departamento de Geografia - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Dada a importância da cultura canavieira nos primeiros séculos da colonização do Brasil, é paradoxal que tenhamos hoje tão poucas informações sobre ela. Mesmo Schwartz, que contou com dados detalhados do engenho de Sergipe do Conde, na Bahia, viu-se obrigado, muitas vezes, a conjecturar. O problema se repete no Rio de Janeiro. Embora saibamos que os engenhos fluminenses possuíam livros de registro, a verdade é que eles desapareceram. Isto não impede, entretanto, que nos aproximemos desse antigo mundo rural. Baseado numa pesquisa minuciosíssima da documentação ainda existente, que incluiu o levantamento de todos os livros cartoriais da cidade e de inúmeras outras fontes primárias e secundárias, foi possível identificar e localizar quase uma centena e meia de engenhos fluminenses, assim como acompanhar a situação dominial de cada um deles durante o século XVII. Embora não forneça quantitativos de produção, o trabalho oferece também inúmeros subsídios à discussão das conjunturas económicas seiscentistas.

Os funcionários do rei: os cargos da administração colonial no Atlântico Sul [...]


Marisa Pires Marques
Centro de História de Além-Mar - Universidade Nova de Lisboa

Tomando como ponto de partida o reinado de D. João III, proponho-me estudar a estratégia colonizadora da Coroa, a origem social dos seus funcionários e os actos normativos que regeram a vida político-administrativa da colónia, gradualmente conhecida por Brasil.
A partir de 1530 com a armada de Martim Afonso de Sousa, a Coroa desenvolveria todo um sistema burocrático e administrativo que cresceria e adaptar-se-ia às necessidades  surgidas no local.
Conselheiro régio, capitão mor da armada dirigida ao Brasil e das terras que achar e descobrir", os amplos poderes atribuídos a Martim Afonso de Sousa, sobre as pessoas da armada e sobre as que viviam na terra, incluiam criar cargos de justiça e de governo, oficiais e tabeliães das notas e do judicial que considerasse necessários, com o objectivo de administrar a justiça, colonizar, governar e aproveitar a terra .
Em função da necessidade de defender a colónia, por causa da presença francesa e das negociações com Espanha relacionadas com o Rio da Prata, Martim Afonso de Sousa preparou o caminho para que, a partir de 1532, a terra fosse dividida em 15 quinhões atribuídos a 12 capitães donatários, de modo a garantir a exploração e aproveitamento da colónia (incluindo o sertão).
Conselheiros, cavaleiros, escudeiros e fidalgos da Casa Real, passaram a representar a Coroa no Novo Mundo. Senhores de terras, alguns dos quais em recompensa dos serviços prestados na Índia, junto de Vasco da Gama, D. Francisco de Almeida ou de Afonso de Albuquerque, foram também nomeados para cada uma das suas capitanias, feitores e almoxarifes, tesoureiros, escrivães de feitoria, contadores e provedores da fazenda real e com eles, os homiziados. 
Os homiziados, com as suas culpas perdoadas, mesmo quando já sentenciados e condenados a "pena natural", desde que as penas não resultassem de heresia, traição, sodomia ou moeda falsa, recebiam a liberdade e podiam andar "livres e seguros" no Reino e no Império, após quatro anos a viverem no Brasil e depois de obtida a certidão passada pelo capitão donatário.
São Salvador da Baía de Todos os Santos, a cidade simultaneamente centro de decisão política e militar, surgia como o núcleo defensor e unificador do poder da Coroa sobre os capitães, devido à presença do governador, do provedor-mor e do ouvidor geral, encarregues pelo Rei de conciliarem os interesses dos capitães e dos colonos, para que se mantivesse a ordem na colónia e a obediência à Coroa.
A cidade torna-se, a partir de 1548, na sede do governo geral, junto do qual é criado todo um corpo burocrático que serve interesses locais e da Coroa.
Assiste-se, assim, à nomeação de alcaides (da cidade da Baía e do mar), almoxarifes (armazém, mantimentos, alfândega), boticários, capitães do mar da costa do Brasil, contadores, ensaiadores da casa da moeda, escrivães (alfândega, provedoria, defuntos, tesoureiro, feitoria, câmara, ouvidoria, contos, fazenda, feitoria e almoxarifado), físicos, meirinhos da ouvidoria geral, mamposteiros dos cativos, porteiros dos contos da alfândega da Baía, provedores (capitania, fazenda) tabeliães e tesoureiros.
Para compreender toda esta realidade proponho-me estudar a origem social dos funcionários da Coroa. Recrutados entre cavaleiros, escudeiros, fidalgos da casa real, reposteiros, moços da câmara ou da capela de D. João III, ou da Casa dos Infantes, davam início a uma nova sociedade, também composta por degredados e homiziados e por todos aqueles que nasceram fruto da miscegenação com os indígenas.

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Os homens de negócio cariocas da primeira metade de setecentos [...]


António Carlos Jucá de Sampaio
Universidade Federal do Rio de Janeiro


Diversos estudos recentes realizados nos dois lados do Atlântico têm ressaltado a importância central dos negociantes na construção das redes tecidas ao longo de todo o império português. Contudo, é inegável que ainda subsistem enormes lacunas no nosso conhecimento acerca das características dos diversos grupos mercantis existentes no império. Em relação à América portuguesa há períodos e regiões inteiras para as quais a actividade mercantil e as características daqueles que a exerciam restam absolutamente desconhecidas. Neste sentido, o estudo do grupo mercantil carioca na primeira metade do setecentos mostra-se de grande importância, tanto pelo significado que o Rio de Janeiro adquiriu então no contexto imperial quanto pela importância crescente dos comerciantes no conjunto da sociedade colonial nesta mesma época. Pretendemos aqui apresentar uma pequena biografia colectiva" daqueles indivíduos que compunham a elite mercantil da cidade, enfatizando sobretudo as alianças tecidas por eles, e as formas pelas quais tais alianças contribuíam para o estabelecimento de redes que atravessavam o Atlântico.
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Os índios e a natureza na conquista colonial da capitania de Mato Grosso, centro da América do Sul


Thereza Martha Borges Presotti Guimarães
Universidade de Brasília


Pretendo uma leitura das primeiras versões das paisagens do centro da América do Sul no processo da conquista colonial: as águas, terras e matos e reinos de gentios percorridos nos sertões do Cuiabá e do Mato Grosso, onde veio se constituir a Capitania de Mato Grosso. Como ponto de partida, as primeiras notícias de expedições sertanistas de apresamento de índios e referências historiográficas do descobrimento" do ouro. A seguir, destaco narrativas de cronistas da Vila de Cuiabá e de algumas Notícias Práticas das monções pelos rios da bacia do rio Paraguai, que permitem revelar aspectos das relações dos indígenas e dos agentes da colonização no ambiente do Pantanal. Está incluído também o momento inicial de expansão da fronteira colonial na margem oriental do rio Guaporé, na Floresta Amazônica, quando "descobertas" as minas do Mato Grosso nos sertões dos Pareci. Pretendo extrair destes registros históricos  as percepções do mundo natural e das relações dos indígenas (os usos e costumes) com a natureza. Em um segundo momento, analiso e ensaio comparações destes mesmos aspectos nas descrições da Expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira pela Capitania de Mato Grosso, nas décadas finais do século XVIII.
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Os mercadores açorianos e suas relações com o poder central no final de Antigo Regime


Margarida Vaz do Rego Machado
Universidade dos Açores

Em 1766, o Estado Português, aproveitando a profunda crise e desorganização da administração açoriana, criava a Capitania-Geral nos Açores, com sede em Angra, que se via, assim, elevada a capital do arquipélago. Esta medida, em plena consonância com os princípios da centralização do poder real, iria modificar todo o governo açoriano, que até então se guiava pelo regime das capitanias.
O nosso estudo pressupõe analisar algumas destas reformas, nomeadamente no que concerne aos aspectos económicos e às relações que, estas mesmas reformas, levaram os mercadores de grosso trato açoriano a terem com o poder central.
O Capitão-General, tornava-se um dos principais agentes régios, com uma política que pretendia ser de intervenção activa, tentando limitar muitas das prerrogativas do poder local, diminuindo a sua. autonomia. Foi o caso, por exemplo, da regulamentação do comércio de cereais e da garantia do abastecimento público, áreas bem sensíveis aos interesses dos negociantes açorianos.
Mas os interesses não se ficavam pelos cereais, o atlântico rasgavas vários rumos no império português e os agentes económicos ilhéus não podiam ficar passivos às várias áreas de captação de investimentos. Que estratégias tomaram ? Falaram a una só voz? Garantiram alianças para consolidarem o seu poder? Aproveitaram as oportunidades dadas pelo Marquês de Pombal para se afirmarem económica e socialmente? Nesta luta entre poder local e central porque lado afinaram os seus  jogos de interesse? Enfim, como se movimentaram nesta conjuntura de intervencionismo, nesta tentativa de planeamento económico, que como veremos, irá tomar um rumo  algo contraditório, pois reduzindo os entraves camarários, elas acabaram por ser um prenúncio do liberalismo económico insular.

Os régulos do sertão e o império lusitano: território e poder na capitania do Ceará (Brasil) [...]


António Otaviano Vieira Junior
Universidade Federal do Pará


No Nordeste do Brasil, durante a segunda metade do século XVIII, intensificou-se o processo de colonização da capitania do Ceará. O povoamento do território cearense foi tramado a partir da luta pela posse da terra e o incremento de políticas metropolitanas que visavam disciplinar a ocupação do espaço. Nossa pesquisa analisa as tensões sócio-históricas inerentes a este processo, tendo como foco central as relações entre a Coroa portuguesa e poder familiar dos régulos do Sertão".
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Otto Friedrich von der Groben: uma viagem ao Atlântico em nome de Brandeburgo


Marília dos Santos Lopes

Universidade Católica Portuguesa - Viseu

Nos finais do século XVII, o príncipe-eleitor Frederico de Brandeburgo reúne uma expedição que deverá encontrar o local estratégico da futura presença de Brandeburgo na costa ocidental africana. Escolhido para realizar este projecto, Otto Friedrich von der Gröben irá deixar relato dessa sua viagem de reconhecimento ao Atlântico: a Guinesische Reise=Beschreibung (1694). A ele competirá, como sabemos através das instruções dadas ao comandante, estabelecer oficialmente contactos e definir os moldes da ocupação brandeburguesa em terras africanas. 
Na esteira de outros viajantes, Otto Friedrich von der Gröben descreve com curiosidade terras e gentes africanas, do Cabo Branco à Costa do Ouro, e evoca esporádicos encontros com europeus. De que modo este relato é um testemunho das ambições, projectos e concepções de mais uma potência europeia interessada em estender o seu poder ao Atlântico é o repto desta comunicação.

Seja bem-vindo/a à Biblioteca Digital Camões!

A disponibilização de um conjunto de textos e documentos de grande relevância cultural e linguística insere-se na missão do Instituto Camões: A promoção da língua e cultura portuguesas, de que se vem ocupando desde 1929.

A Biblioteca Digital Camões pretende fazer chegar o Português a um universo cada vez mais amplo de falantes e estudantes do Português. Nos próximos meses receberá novos e diversificados parceiros, que a enriquecerão com as suas contribuições e cooperarão na preparação do Instituto Camões para o Séc. XXI.

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