O texto de José Gomes Ferreira tem muitas expressões difíceis. Propomos-lhe um exercício que ajuda a compreender algumas destas expressões. Para cada afirmação só existe uma resposta possível.

Carregue no botão à esquerda de uma resposta
para saber se a sua opção está correcta.

1. José Gomes Ferreira estava a dormir. O sopro da voz ciciada da sua mulher acordou-o. Esta expressão significa que o tom de voz era:

alto.
baixo.

2. O autor levantou-se preparado para o pesadelo de ouvir tombar pedras sobre cadáveres. Esta expressão significa que José Gomes Ferreira pensava que ia ouvir:

gritos na cidade.
tiros e pessoas a morrerem.

3. E o telefone vinga-se desesperadamente. Esta expressão significa que:

O telefone toca muitas vezes.
José Gomes Ferreira telefona para muitos amigos.

4. Até que , pela rádio o Posto de Comando das forças Armadas comunica o seguinte:«não queremos derramar a mínima gota de sangue». Esta expressão significa que os militares não querem:

usar as armas para matar as pessoas.
meter medo às pessoas.

5. José Gomes Ferreira sentiu os olhos a desfazerem-se em lágrimas. Esta expressão significa que o autor estava emocionado; por isso,

chorou, revoltado.
chorou, espontaneamente.

6. Segundo o autor, o antigo regime era fumo que nos sufocou durante anos e anos de mordaças. Esta expressão significa que o antigo regime:

não permitia a liberdade de expressão nem de pensamento.
se debatia com um grave problema de poluição.


A partir do texto de José Gomes Ferreira somos informados dos principais acontecimentos que ocorreram nos dias 25 e 26 de Abril. Coloque nas caixas em branco as letras de a a f correspondentes à cronologia da Revolução.

1. Pouco tempo depois, a rádio comunica que *Marcelo Caetano (primeiro-ministro do antigo regime) está preso no quartel do Carmo.
2. Novo comunicado informando que Marcelo Caetano se rendeu ao *General António Spínola (antigo governante da Guiné).
3. Às oito da manhã o rádio clube emite um comunicado das Forças Armadas a pedir a calma.
4. Sabe-se, também, que a polícia e a Guarda Republicana se renderam. E que o antigo Presidente da República *Américo Tomás está cercado noutro quartel.
5. Dias depois, a televisão mostra a saída dos presos políticos da prisão de Caxias.
6. Às dez e meia da manhã a população sabe que as Forças armadas dominam a situação.

Para se informar melhor sobre algumas figuras históricas

Marcelo Caetano
http://www.uc.pt/cd25a/aedp_po/politicos/marccaet.html
António de Oliveira Salazar
http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm
Almirante Américo Tomás
http://www.presidenciarepublica.pt/pt/palacio/presidentes/americo_tomas.html
General António Spínola
http://www.presidenciarepublica.pt/pt/palacio/presidentes/antonio_spinola.html

Para obter mais informação sobre os vários momentos do 25 de Abril
http://www.instituto-camoes.pt/revista/revista5.htm
http://www.instituto-camoes.pt/bases/25abril/cronologia.htm

Manhãzinha cedo, senti acordar-me o sopro da voz ciciada de minha mulher:
- 0 Fafe telefonou de Cascais, ... Lisboa está cercada por tropas…
Refilo, rabugento:
- Hã? (...)
Levanto-me preparado para o pesadelo de ouvir tombar pedras sobre cadáveres. Espreito através da janela. Pouca gente na rua. Apressada. Tento sintonizar a estação da Emissora Nacional. Nem um som. Em compensação o telefone vinga-se desesperadamente. Um polvo de pânico desdobra-se pelos fios. A campainha toca cada vez mais forte.
Agora é o Carlos de Oliveira.
- Está lá? Está lá? É você, Carlos? Que se passa?
Responde-me com uma pergunta qualquer do avesso.
Às oito da manhã o Rádio Clube emite um comunicado ainda pouco claro:
- Aqui, Posto de Comando das Forças Armadas. Não queremos derramar a mínima gota de sangue.
De novo o silêncio. Opressivo. De bocejo. Inútil. A olhar para o aparelho.
Custa-me a compreender que se trate de revolução. Falta-lhe o ruído, (onde acontecerá o espectáculo?), o drama, o grito. Que chatice!
A Rosália chama-me, nervosa:
- Outro comunicado na Rádio. Vem, depressa. Corro e ouço:
- Aqui o Movimento das Forças Armadas que resolveu libertar a Nação das forças que há muito a dominavam. Viva Portugal!
Também pede à policia que não resista. Mas Senhor dos Abismos!, trata-se de um golpe contra o fascismo (isto é: salazismo-caetanismo). São dez e meia e não acredito que os «ultras» não se mexam, não contra-ataquem! (...)
 A poetisa Maria Amélia Neto telefona-me: «Não resisti e vim para o escritório».
Os revoltosos estão a conferenciar com o ministro do Exército. Na Rádio a canção do Zeca Afonso: Grândola, vila morena ... Terra da fraternidade... 0 povo é quem mais ordena...
Sinto os olhos a desfazerem-se em lágrimas.

De súbito, aliás, a Rádio abre-se em notícias. 0 Marcelo está preso no Quartel do Carmo. A polícia e a Guarda Republicana renderam-se. 0 Tomás está cercado noutro quartel qualquer. E, pela primeira vez, aparece o nome do General Spínola. Novo comunicado das Forças Armadas. 0 Marcelo ter-se-á rendido ao ex-governador da Guiné. (Lembro-me do Salazar: «o poder não pode cair na rua»).
Abro a janela e apetece-me berrar: acabou-se! acabou-se finalmente este tenebroso e ridículo regime de sinistros Conselheiros Acácios de fumo que nos sufocou durante anos e anos de mordaças. Acabou-se. Vai recomeçar tudo.

A Maria Keil telefonou. 0 Chico está doente e sozinho em casa. Chora. (Nesta revolução as lágrimas são as nossas balas. Mas eu vi, eu vi, eu vi! (...)
Antes de morrer, a televisão mostrou-me um dos mais belos momentos humanos da História deste povo, onde os militares fazem revoluções para lhes restituir a liberdade: a saída dos prisioneiros políticos de Caxias.
Espectáculo de viril doçura cívica em que os presos... alguns torturados durante dias e noites sem fim.... não pronunciaram uma palavra de ódio ou de paixões de vingança.
E o telefone toca, toca, toca... Juntámos as vozes na mesma alegria. (...)
Saio de casa. E uma rapariga que não conheço, que nunca vi na vida, agarra-se a mim aos beijos.
Revolução.

José Gomes Ferreira
 Poeta Militante III - Viagem do Século Vinte em mim, Lisboa, Moraes Editores, 1983