Peniche fica cerca de 80 km a norte de Lisboa. No passado, foi uma ilha, mas a acção conjunta de ventos e marés acabou por a ligar ao resto do continente. Hoje, como aconteceu ao longo da sua história, Peniche continua a conviver com o mar.

Antes de entrar no centro, faça connosco o perímetro do cabo da península. A costa, batida pelo mar forte, reserva-nos um autêntico espectáculo da natureza. Se a geologia for um dos seus interesses, pode observar alguns aspectos da evolução das formações rochosas na península.

Passando nos rochedos da Papôa, ocorre-nos a notícia de trágicos naufrágios acontecidos neste cenário. O mais famoso foi o do galeão espanhol «São Pedro de Alcântara», em 1786. Um programa de investigação arqueológica tem contribuído para desvendar os segredos deste naufrágio.

A caminho do cabo, paramos para visitar o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Trata-se de uma pequena ermida, parcialmente escavada na rocha, revestida a azulejo do século XVIII. O local atrai grande multidão de devotos a uma festa religiosa que se realiza todos os anos, no mês de Outubro.

Com o seu farol, construído em 1790, eis que nos surge agora o cabo Carvoeiro. Talvez já tenha reparado que este nome é uma presença assídua no boletim meteorológico, marcando diferentes previsões para o tempo a norte e a sul do litoral português.

No promontório, impõe-se a Nau dos Corvos. Há quem considere este rochedo um verdadeiro cartão de visita de Peniche. É uma formação rochosa onde poisam gaivotas e corvos. Pelo seu aspecto, faz lembrar uma nau quinhentista.

Do cabo, desfrutamos a vista soberba sobre as Berlengas, pequeno arquipélago ao largo de Peniche. Fica a cerca de três quartos de hora de viagem de barco, normalmente caracterizada por ondulação forte. Trata-se da única reserva natural insular de Portugal Continental, de grande riqueza de fauna e flora.

Fazemos o caminho de volta e chegamos ao Forte de Peniche. Fortaleza e cidadela são outras denominações utilizadas para referir esta fortificação. Em tempos, foi a sede de um importante complexo militar, edificado para a protecção da costa. Juntamente com o da Consolação e o das Berlengas, fazia parte de uma importante malha defensiva.

Mais tarde, sofreu várias utilizações, vindo a funcionar como prisão política na época do Estado Novo. Este forte foi o cenário de uma das mais espectaculares histórias da luta contra o fascismo. Em Janeiro de 1960, daqui se evadiu um grupo de presos políticos, numa fuga longamente preparada. Entre os evadidos, estava o dirigente político Álvaro Cunhal.

Em 25 de Abril de 1974, o Forte de Peniche foi um dos pontos do roteiro revolucionário. Transformado em espaço-museu depois da revolução, nele se reconstituiu o ambiente de uma prisão política.

O espaço museológico acolhe também a exposição de materiais etnográficos e históricos. Constituindo um bom miradouro sobre a costa, chegou a ser elaborado um projecto visando a tranformação deste monumento em pousada.

Saímos e vamos direitos à Avenida do Mar. Quando Peniche era uma ilha, situava-se provavelmente nesta zona a fronteira com o oceano, separando ilha e continente. Hoje, é o local por excelência da gastronomia e não faltam restaurantes a oferecer-nos, por exemplo, a sopa de lagosta à moda de Peniche.

Em matéria de gastronomia ligada aos produtos do mar, os penichenses sabem da sua arte. Recentes escavações arqueológicas testemunham a importância não só da pesca mas também da actividade conserveira em Peniche, desde a época romana.

Ora, onde há redes, há rendas... e as rendas de bilros são um componente cultural importante na região de Peniche. A sua origem perde-se no tempo. Talvez tenha surgido da necessidade sentida pelas mulheres em ocupar o tempo, enquanto esperavam pelos homens que iam ao mar.

Para terminar o nosso passeio, aproveitamos para ir conhecer mais de perto as praias da região, bastante procuradas pelos amantes dos desportos náuticos. O Baleal, a norte, e a Consolação, a sul, constituem duas boas opções.


© Instituto Camões, 2002