Adolfo Coelho
Alexandre Herculano
Almeida Garrett
Antero de Quental
António Nobre
Basílio Teles
Eça de Queirós
Gomes Leal
Jaime Batalha Reis
Lopes de Mendonça
Moniz Barreto
Oliveira Martins
Pinheiro Chagas
Rafael Bordalo Pinheiro
Rebello da Silva
Teófilo Braga
Abel Salazar
Adérito Sedas Nunes
Adolfo Casais Monteiro
Agostinho da Silva
Alexandre O'Neill
António Gedeão
Aquilino Ribeiro
Augusto Abelaira
Bento de Jesus Caraça
Bernardo Marques
Borges de Macedo
Carlos Ramos
David Mourão-Ferreira
Eugénio de Andrade
Fernando Gil
Fernando Lopes-Graça
Fernando Pessoa
Fidelino de Figueiredo
Florbela Espanca
Guilhermina Suggia
Helena Vaz da Silva
Hernâni Cidade
Irene Lisboa
Jacinto do Prado Coelho
Jaime Cortesão
João Gaspar Simões
Joaquim de Carvalho
Jorge de Sena
Jorge Peixinho
José Augusto Seabra
José Cardoso Pires
José Gomes Ferreira
José Rodrigues Miguéis
Leonardo Coimbra
Lindley Cintra
Luís Albuquerque
Luís de Freitas Branco
Manuel Antunes
Manuel Viegas Guerreiro
Maria Archer
Maria de Lourdes Belchior
Maria Lamas
Mário Botas
Mário Eloy
Mário Sottomayor Cardia
Miguel Torga
Orlando Ribeiro
Paulo Quintela
Raul Brandão
Raul Proença
Sílvio Lima
Sophia de Mello Breyner Andresen
Teixeira de Pascoaes
Vergílio Ferreira
Viana da Mota
Vieira da Silva
Vieira de Almeida
Vitorino Magalhães Godinho

por João Leal

Promotor e interveniente das célebres Conferências do Casino, historiador da literatura, introdutor em Portugal dos estudos linguísticos e da pedagogia, Francisco Adolfo Coelho (1847-1919) foi sobretudo - a par de Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso, Leite de Vasconcelos e Rocha Peixoto - uma das figuras decisivas na constituição e desenvolvimento inicial da etnografia e da antropologia em Portugal, no decurso do período que se estende dos anos 70/80 do século XIX até às primeiras décadas do século XX.

De acordo com as linhas gerais desse período, a obra de Coelho começou por privilegiar o estudo da literatura e das tradições populares. Na área da literatura popular, Adolfo Coelho organizou nomeadamente a primeira recolha sistemática de contos populares portugueses (Os Contos Populares Portugueses, 1879) assim como as primeiras recolhas de literatura e tradições infantis (Jogos e Rimas Infantis, 1883). Na área das tradições populares, além de inúmeros outros estudos avulsos, Coelho foi o autor dos Materiais para o Estudo das Festas, Crenças e Costumes Populares Portugueses (1880) - publicados na Revista de Etnologia e Glotologia por ele fundada e dirigida - e que constituem uma das mais importantes recolhas de tradições populares da antropologia portuguesa oitocentista. A este interesse inicial pela literatura e pelas tradições populares, Adolfo Coelho acrescentou, posteriormente aos anos 80 do século XIX, um interesse mais alargado por outros domínios da cultura popular portuguesa. Esse processo de alargamento temático da sua pesquisa é testemunhado antes do mais pelos programas de estudos etnográficos e antropológicos de que foi o autor, com particular destaque para aquele que foi publicado sob o título Exposição Etnográfica Portuguesa (1896). Mas encontrou também eco num conjunto de investigações concretas, entre as quais se salientam Os Ciganos de Portugal (1892), diversos estudos sobre cultura material (A Caprificação, 1896, Alfaia Agrícola Portuguesa, 1901), e, sobretudo, os ensaios consagrados à análise, a partir de um ponto de vista antropológico, de questões de natureza pedagógica (Os Elementos Tradicionais da Educação, 1883, A Pedagogia do Povo Português, 1898 e Cultura e Analfabetismo, 1916).

Caracterizada por uma importante abertura temática, a obra de Adolfo Coelho pode também ser vista como um lugar onde se cruzam de forma simultaneamente ecléctica e rigorosa os diferentes modelos teóricos que, na época, se encontravam à disposição dos estudiosos da cultura popular. Nas áreas da literatura e das tradições populares, as referências teóricas usadas por Coelho vão do difusionismo pré-evolucionista de Theodor Benfey à mitologia comparada de Max Müller e ao evolucionismo de Tylor e Lang. Na sua restante produção antropológica, é possível detectar, a par de uma importante influência evolucionista, uma certa abertura relativamente ao difusionismo alemão e, mesmo, em relação à Escola Sociológica Francesa de Durkheim e Mauss.

Resultando de um esforço multifacetado e irrequieto para enraizar em Portugal uma tradição de estudos antropológicos atenta aos desenvolvimentos que a disciplina conhece internacionalmente entre os anos 70 do século XX e o início do século XX, a obra de Adolfo Coelho deve também ser vista como um lugar onde ganha corpo uma reflexão sobre Portugal e sobre a cultura popular portuguesa marcada por um dos grandes temas estruturantes do pensamento português oitocentista: o tema da decadência e da regeneração nacionais. A opção de Coelho por esse tema remonta à sua participação nas Conferências do Casino. Mas tem também expressão na sua obra antropológica, onde é possível encontrar uma permanente oscilação entre duas formas de encarar a cultura popular portuguesa. Esta ora é vista como um factor de regeneração susceptível de contrariar a decadência do país, ora é vista como um domínio ele próprio afectado pelo irreversível declínio da nacionalidade.

Pela vontade de saber que nela se expressa, pelo espírito inovador e irrequietismo intelectual que a atravessam, pelo seu comprometimento com as grandes questões do seu tempo, a obra etnográfica e antropológica de Adolfo Coelho deve pois ser vista como um dos "lugares de memória" da antropologia e da cultura portuguesas.

 

BIBLIOGRAFIA

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2. Estudos sobre Adolfo Coelho e História da Antropologia Portuguesa

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