Época Medieval

Renascimento em Portugal

Sob o Signo das Luzes

A Filosofia Portuguesa do Séc. XIX
até à Proclamação da República
A Filosofia Portuguesa depois de 1910

Introdução

Os estudos aqui reunidos, sob o título genérico Filosofia Portuguesa, visam fornecer um conjunto de informações básicas sobre o panorama da cultura filosófica portuguesa, em termos tão sintéticos quanto possível.
O espaço padrão dedicado a cada autor e respectiva bibliografia (essencial), duas páginas, obrigou a um esforço de selecção temática e de enunciação de tópicos, que de modo algum se encontram desenvolvidos em toda a sua complexidade conceptual. A excepção situa-se nos textos temáticos, que compreensivelmente abarcam um espaço maior.

Em todo o caso, a elaboração deste tipo de informação, com intenção meramente indicativa, cumpre uma função importante, sobretudo no caso da filosofia portuguesa, onde tantas vezes se tem confundido o "não sei nem conheço" com o "não há nem existe", dando lugar a um colonialismo interno de efeito pernicioso.

Existe entre nós o hábito de associar a filosofia à sua expressão sistemática, situando-a num conjunto limitado de países e autores, a partir dos quais se define, com inusitada facilidade, as áreas de periferia, que não têm lugar no panorama da cultura universal. Sucede porém, que muitos dos que entre nós reflectiram e escreveram sobre os grandes temas da filosofia o não fizeram de forma sistemática, nem identificaram a filosofia com o sistema, sem que tal signifique ausência de coerência interna dos principais pressupostos teóricos, nem o atropelo das imprescindíveis condições transcendentais.

É por isso necessário superar preconceitos críticos e interpretativos, e procurar as manifestações da nossa reflexão filosófica também em textos que, numa primeira abordagem, nem sempre deixariam suspeitar a existência de interesse nesse domínio, textos por vezes marcados por uma tendência adissertacional, ou por um sentimento de responsabilidade no tocante à reforma social, política e pedagógica do país, dando lugar a uma vertente polemista e publicista.

Por outro lado, não significa isto a definição de uma linha de exclusividade, no âmbito das atitudes e do filosofar, pois as duas correntes filosóficas que maior expressão alcançaram no âmbito da cultura portuguesa, a escolástica e o positivismo, revestiram-se de expressão fortemente sistemática. Trata-se portanto de flexibilizar o âmbito da pesquisa, alargando-o a textos de natureza literária, parenética, pedagógica, política, etc.

Quanto ao leque temporal abrangido, começamos num período anterior à formação do Estado vindo até aos anos noventa deste século.

No que se refere ao início, não quisemos deixar de atender à obra de dois autores fundamentais da cultura bracarense dos séculos V e VI, o presbítero Orósio e S. Martinho de Dume. O primeiro foi o primeiro filósofo cristão da história e a sua obra correu toda a Idade Média, conhecendo mais de mil transcrições, servindo de manual de ensino da história em toda a Europa culta; o segundo, fundador do mosteiro de Dume e conversor dos Suevos, marcou o rumo seguido pela pastoral da igreja depois do Concílio Toledano III. Estamos perante dois autores fundamentais da cultura europeia, que marcaram também as duas linhas de reflexão que percorreram desde sempre a cultura portuguesa: o humanismo clássico e o cristianismo.

Quanto ao ponto terminal, optámos por não analisar a obra dos autores que ainda continuam o seu labor intelectual, razão por que terminamos com a apresentação dos tópicos essenciais da obra de Vergílio Ferreira.

Como seria de esperar, os séculos de descaso que se abateram sobre o estudo da filosofia portuguesa, descaso associado à ideologia da decadência cultural, não nos permitem apresentar aqui uma visão tão completa quanto gostaríamos de todos os temas e autores com interesse no âmbito disciplinar em apreço. Em todo o caso, constitui esta página uma primeira aproximação, que as facilidades hoje concedidas pela informática permitirão completar, à luz da dimensão processual do conhecimento.

Pedro Calafate


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