Localização
das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa - Registos Sonoros
Dialectos
portugueses centro-meridionais:
do centro interior e do sul
Parreira
1
(Dizer):
"Eh pá, hoje vamos aos gambozinos"! Depois levavam um gaiato,
chegavam além, punham-no além com um saco, além a aparar : "Vá, olha
quando"… Mas,
olhe
que eu tenho uma história para lhe contar por causa disso dos gambozinos. Era
miúdo – claro,
era pequeno, tinha para aí os meus oito ou nove anos – e andava a trabalhar numa
herdade que é Perna Seca, que é ali assim. Andava lá a trabalhar. Andava lá
um tipo que era (…)
o Pedro Caçarrabo e mais o Alfredo Nobre. Andavam lá, começaram a dizer
assim: "Eh, pá! A gente hoje vamos aos gambozinos". Fomos aos
gambozinos, onde é que eles me haviam de ir pôr? Lá ao pé de uma horta que
estava um… A gente chama-lhe um bitoque, que tinha… É um canudo de cortiça
que era por onde entrava a água para regar a horta –que
aquilo
tinha um valado à volta e tapado com silvas. E o bicho entrava e saía por lá!
Mas, nem eles sabiam nem eu sabia. E eu, vá, os gajos chegaram lá,
puseram-me: "Vá, agora ficas aqui ao pé (…)
deste
cortiço aqui, ficas aqui com a saca aberta, que a gente vai de além bater os
gambozinos". Eh, quando foi ao fim de um bocado, os gajos deram assim a
volta assim à volta da horta, para se safarem,
por amor de me deixarem lá ficar. Quando eles dão a volta pelo cimo da horta,
eu sinto entrar uma coisa para dentro do saco, fechei logo o saco. Fechei logo o
saco e comecei a gritar: "Olha, já cá está um! Já cá está um"!
E eles fugiram; foram-se embora; deixaram-me lá. Eles nunca mais apareciam…
Hem! Não fui ver o que era. (Digo assim): bem! … Agarrei
naquilo às costas dentro do saco e fui direito ao casal. Chego lá ao Casal, já
eles lá estavam: "Então, vocês vieram-se embora? Pois olha, eu já trago
aqui um gambozino dentro do saco". "Eh,
mostra lá o gambozino"! E para aqui…
Mas estava lá esse moiral que era um chamado Malaquias, que era de Pegões,
estava lá e mais eles, porque ele sabia da malandrice que eles me tinham ido
fazer. Estava lá. Vão espreitar para dentro do saco: era uma lebre.
© Instituto Camões, 2002