Localização
das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa - Registos Sonoros
Dialectos
portugueses centro-meridionais:
do centro interior e do sul
Alcochete
1
INF
= Informante
INQ
= Inquiridor
INQ1
Então e uma coisa que era assim? Que andava um burrinho à volta duma coisa que
tinha uma…
INF Isso é… Isso era uma nora.
INQ1 Também conhece?
INF Conheço.
INQ1 Como é que era?
INF
Isto era… Isto era o
poço e puxava a água para dentro, para um tanque. E isto era uma nora. E isto
tinha uns alcatruzes. Tinha uns alcatruzes, que andava à roda, ia lá abaixo à
água, enchia e trazia para cima. E o burro andava a puxar isto para a nora
andar à roda. E se parasse já não vinha a água cá acima – aquilo estava
parado… E o burro
tinha que andar com os olhos tapados, ia à roda e quando estava parado vinha um
rapaz com um bocado de pau: "Anda para diante, burro"! Puxava então
ele, os alcatruzes iam lá abaixo conforme ele andava à roda, enchia e trazia (…)
para cima, para o tanque. Chegava cá acima, vazava para o tanque. O tanque
estava mesmo debaixo do alcatruz.
INQ1 Pronto! (…) E lembra-se os alcatruzes onde é que estavam presos?
INF Era… Era tudo… Era tudo (…) aparafusados àquela engenhoca.
INQ1 Não se chama?… Não se lembra (…)?
INF Era… Era… (Aquilo ali) era (…) umas correntes. Aquilo era aparafusado – os alcatruzes – e depois aquilo andava à roda.
INQ1 E aquela?…
INQ2 Não se lembra do nome disso?
INF Não me lembra é o nome disso.
INQ1 E aquela coisa onde estava preso (…) o burro?
INF O burro? Isso era a vara. Era a vara e ele (…)… Era uma vara e (…) tinha para o burro pôr ali os tirantes, com a coelheira, engatava-se os tirantes e o burro puxava.
INQ1 E onde é que os alcatruzes despejavam a água?
INF
Para o tanque.
INQ1 Era directamente para o tanque?
INF
Para o tanque. Andava à roda e ia despejando para o tanque. Depois do tanque é
que era transportada depois para as terras. Largava-se lá do tanque, vinha pelo
rego, punha-se a travadoira, regava-se com a pá ou com o cabaço. Antigamente
era assim.
© Instituto Camões, 2002