Localização das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa  -  Registos Sonoros


Dialectos portugueses centro-meridionais:

do centro interior e do sul

Serpa  3

INF = Informante

INQ = Inquiridor

 

INQ1 Aqui quais são?… Quais são?…Qual é a árvore que há aqui mais à volta de Serpa? Da vila?

INF Em qualidades de arvoredo, mais, (…) em volta…

INQ1 Aquela que há aqui mais?

INF A que há aqui mais é a oliveira.

INQ1 A oliveira dá assim uns rebentos, não dá?

INF Pois dá os rebentos.

INQ1 Como é que se chamam os rebentos da oliveira?

INF Isso, os rebentos (…) da oliveira, a gente chama-lhe o arrebentão. Pois.

INQ1 Ah, mas aqueles que nascem no pé.

INF No pé. Que seja no pé, que seja em qualquer (…) da parte, 'enfluente' das pernadas, a gente, é um arrebentão. Pois. Agora, se for do pé, (…) e o pé (…) da planta, se for de raseamento bravo, já a gente lhe chama um burrico. Pois. Os pés de burrico porque (…) são bravos. Passou para cima onde o tronco passa a ser manso, passa a arrebentão.

INQ1 Não. É em baixo, é em baixo.

INF (…) Em baixo são os pés de burrico. Pois.

INQ1 Pois. E quando se vai tirar?… E quando se vão tirar esses burricos, como é que se chama a isso?

INF A gente chama: "Vamos a desburricar"!

INQ1 Olhe, e a flor… A oliveira dá uma flor, não dá?

INF Dá a flor. A gente chama-lhe é a flor da azeitona – que é o candeio. Porque a gente propriamente diz, aplica logo, se vê uma oliveira com muita flor, a gente diz assim: "Que lindo candeio que esta árvore tem"!

INQ2 Que lindo quê?

INF Candeio. Pois. Quando se vê com muita flor também.

INQ1 E se tiver?…E se agarrar assim numa flor e diz assim: "Ah, o que é que tens aí na mão"? O senhor pode dizer?: "Tenho aqui um candeio"!

INF Não. A gente diz: "Tenho é (…) a flor (…) da azeitona. Isto…

INQ1 (Pois. Só diz que tem o candeio quando é?…)

INF O candeio, quando a árvore está completa.

INQ1 Pois. É a…

INF Pois. Se a gente colher (…) e o outro perguntar: "Isso, não sei o que é que tens"… Exactamente, digo: "Tenho aqui a flor (…) da azeitona na mão". "O que é que estás vendo"? "Estou a ver se está falida ou não". Porque a azeitona, aquilo é uma espécie dum botanito, é tal e qual como o bago de chumbo. Aquilo vem fechado.

INQ1 Como o quê?

INF Que é exactamente como o bago de chumbo, em redondo. Pois. Mas está fechado. E aquele que abre, aquele que abrir – a gente vai ver se está aberto –, aquele que abrir, está gerando azeitona. E se estiver já uma caindo e outra cair fechada, e no mesmo dito ramo, uma cai e a outra fica em cima e continua a estar fechado, é porque (…) de facto está toda falida. Porque se estiver gerando a azeitona, aquilo abre. E vai abrindo – aquilo é uma espécie dum cravo –, vai abrindo e lá fica a azeitona da banda de dentro. Agora, se ela não abrir, então está falida. (…) Não tem azeitona gerada.

 

© Instituto Camões, 2002