Localização das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa  -  Registos Sonoros


Dialectos portugueses setentrionais:

transmontanos e alto-minhotos

Outeiro 1

INF = Informante

INQ = Inquiridor

 

INQ E depois de estar morto, o que é que fazem?

INF Depois fazem uma fogueira com palha e chamuscam-nos e rapam-nos com uma navalha. Depois de estarem chamuscados, rapam-nos, põem-nos em cima de um banco, rapam-nos bem rapadinhos. Depois abrem-nos, tiram-lhe as tripas.

INQ E penduram-no aonde?

INF Põem-no às vezes por uma trave, para baixo; outras vezes arranjam um… Por exemplo, um pau e põem-lhe assim (…) um canamão para cima, no focinho (…) e põem o pau à beira (…) duma esquina e fica ali a escorrer. Outras vezes, com o… O meu fazia assim: tinha aí umas cornagens das crias e prendia-o assim ao canamão e prendia-o assim  com o cornal (…) à trave. Ficava assim um dia. Depois eram desfeitos. Para ao outro dia em que se matavam ou para ao outro (…) – que podiam estar até dois ou três dias, que, naquele tempo…

INQ Chama-se a isso desfazer o porco ou desmanchar?

INF Desfazer os porcos. Desfazer, nós dizemos desfazer os porcos.

INQ Desfazer.

INF Depois tira-se-lhe, à parte: a linguiça, vai para um lado; o salpicão, que é o lombo, vai para o outro; os presuntos, vai para o outro; a espádua, vai para outro. Quer dizer, (…) aqui até costumamos… Agora já não (…) – porque eu há muito tempo que não crio porcos – mas nós costumávamos: partia-se o porco ao meio. Às vezes até andava a gente a ver qual é que tinha o toucinho maior. Agora quem é que quer o toucinho? O que tinha mais unto. Ainda tenho aí untaças não sei já de quando. E já dei algumas (…) para os (cães do lar). Porque comprei um porquinho em Bragança  e ao fim arrependi-me e nem comi a carne gorda, (…) nem nada, pronto, (…) e o unto ainda aí está. Mas antigamente, sabia mesmo bem essa carne gorda. Com uma salada  e pão de centeio, era mesmo boa.

 

© Instituto Camões, 2002