Localização das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa  -  Registos Sonoros


Dialectos portugueses centro-meridionais:

região subdialectal do Barlavento do Algarve

Porches  1

INF = Informante

INQ = Inquiridor

 

INF Os campos, está aí tudo, tudo por cultivar. (…) O arvoredo vai-se perdendo por causa (…) da falta da cultivação. (…) E as sementeiras também não dão, porque as despesas são muitas e, hoje, isto vem tudo mesmo pela natureza, sabe. É porque antigamente semeávamos as terras e nascia erva útil para os animais. E, então, era bom a gente aproveitar aquelas ervas para os animais. Sustentávamos os animais (…) da terra, tanto das ervas como, (…) sim, (…) a palha (…) dessas sementeiras. E hoje (…) há umas ervas que não deixa criar as tais ervas que eram úteis para os animais e não deixa criar as sementes que a gente semeia – que é uma erva que lhe chamam a erva-azeda. Quer dizer, aqui (…) na nossa zona chama-se erva-azeda e chamávamos, também, campainhas. E, noutros sítios, tem (…) um outro nome.

INQ É aquele das flores amarelas?

INF Pois. Não deixa… E quem foi que semeou essa semente? Apareceu. Aqui há anos, nascia aqueles pezinhos de erva aí nos barrancos, nas correntes de água, entre meio das silvas, às vezes por baixo de uma figueira. E agora, há aqui de uns cinco ou seis anos para cá, (…) é a terra toda tapada daqui ali. E as outras ervas não nascem; não se criam, porque aquela não deixa. E a gente vamos semear as terras, vem aquela erva, abafa as sementeiras, e já não se cria.

INQ Pois, pois.

 INF Ora, é claro, isto é o que se está a ver. Eu, pelo menos, vejo assim. Vejo que isto é mesmo da natureza.

 

© Instituto Camões, 2002