Localização
das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa - Registos Sonoros
Dialectos
portugueses centro-meridionais:
região
subdialectal do Barlavento do Algarve
Porches
2
INF
= Informante
INQ = Inquiridor
INF Veio da tropa. E, então, queria ir para a tropa que era para aprender a falar – que (…) na tropa aprendiam a falar. Mas, aprendeu (…) a falar – iam ali para Lagos, para a tropa – e depois (…) quando vinha a casa, a fim para aí de um mês ou dois, vinha falando a uso de Lisboa. Mas não era aquela fala de Lisboa – não era aquela fala – mas diziam eles que era fala de Lisboa. Aprenderam aqui em Lagos! De maneira, estava ele na estrada nova, na rua do tio e estava (…) uma roupa estendida, lá em cima (…) das moitas – quer dizer, das tais daroeiras. (…) As mulheres iam lavar logo àquela poça e, depois, estendiam a roupa, por cima das moitas. Diz ele: "Sim senhor, oh, que linda terra que está além! Deixaram-me uma terra daquelas, umas tomateiras tão lindas, tão grandes"! Umas daroeiras! E chamava-lhe ele tomateiras! Sendo ele criado aqui, talvez aí, vá lá, vá lá a uns quinhentos metros da distância (…) da casa do tio. Tinha ido para Lagos, (…) para a tropa e veio com aquela peripécia muito boa, muito bonita. Ora, é claro, são estas coisas assim que eu tenho visto! Ora, é claro. Conheço – eu já tenho quase cem anos – (…) e, então, tenho conhecido (…) muitas partes, muitas partes destas. E isto fica-me tudo aqui. Enquanto os outros ouvem as coisas, ou vêem, (…) e de si mesmo não têm inteligência, muitas vezes, para descobrir qualquer coisa – julgandem-se eles inteligentes! – e eu, como sei descobrir qualquer coisa e não sei ler, pois sou bruto, sou parvo. Ah, mas eles, eles que se vão governando lá com a inteligência deles, que eu mesmo cá para comigo, (…) sei eu, muitas vezes, orientar a minha vida e tenho-me orientado, talvez melhor do que esses que sabem muito e que sabem ler.
INQ1 Pois claro.
INF E não quero… E não quero ainda… Eu, hoje, já não acerto já bem, que a minha cabeça (…) já está fraca. Mas esses rapazes que discutiam comigo – esses (gajos), esses estudantes – a propósito de muitas coisas, nunca me venceram.
© Instituto Camões, 2002