Localização
das Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa - Registos Sonoros
Região
subdialectal da Beira Baixa e Alto Alentejo:
zona
centro-meridional
Porto
da Espada 1
INF
= Informante
INQ
= Inquiridor
INF
Às vezes, até havia umas ervas do campo que a gente... Pois bem, a fome, às
vezes, era já é muita, ia a gente… Chamam-lhe… Chamavam-lhe pialhos.
Pialhos (era) uma coisa, um… Também se conhece por erva azeda. Ia a gente,
comia aquilo e roía aquilo. Chegava-se a um ervilhal aonde haviam ervilhas –
conhece o que são as ervilhas? –, era colher e toca de comer. Grãos e tudo!
Hoje?! Então pois hoje (…) alguém faz essas coisas?! Isso hoje já não; já
ninguém… Hoje já ninguém trata (…) desse assunto. Ninguém, ninguém.
Roubava-se muito. Desde que houvesse, por exemplo, uns figos ou uns cachos ou
(…) qualquer uns melões, umas melancias, roubava-se muito. Hoje, o pessoal não
sei se anda mais abastecido e (…) não se frequenta qualquer coisa que se
roube. Nem a uma vinha, nem a uns figos, nada; nada disso frequenta já. E
noutro tempo, não escapava nada. Aquilo era, desde que a pessoa pudesse, figos
e, ora, e cerejas. Ai eu! Ainda levei algumas sovas! Ainda levei algumas sovas,
(…) que me apanhavam (…) às cerejas – doutra gente, está claro! Ora
pois, tudo aquilo pertencia tudo ao mesmo, a haver fome.
© Instituto Camões, 2002