Localização das
Amostras - Gravações do Grupo de Variação do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa - Registos
Sonoros
Dialectos portugueses setentrionais:
transmontanos
e alto-minhotos
Perafita
1
INF
= Informante
INQ = Inquiridor
INQ Então, fale-nos lá da matança.
INF Como?
INQ Fale-nos lá da matança.
INF
Ah! Primeiro, pois chama-se pessoal para pegar nos porcos. Mas é uma
trabalheira. Eles, coitadinhos, a gente cria-os e depois vê-os assim morrer à
violência; é triste. (…) Eu, fugia! Eu não os queria ver (…) agarrar,
coitadinhos. A gente, (à vezes), chamava-os para o quintal: "Andai cá,
coitadinhos". Eles, então, deitavam-se ao pé da gente: "ah, ah, ah".
(…) A gente ranhava-os e eles então abriam as pernas. Quando eles vinham para
os matarem, não era preciso andar atrás deles. Eu chamava só:
"Pequerruchos, pequerruchos, pequerruchos". E eles então vinham para
o quintal. Chegavam (…)… Mas os homens não estavam lá; tinham que estar
(…) que ele os porcos não os vissem. Agarrava logo um numa perna, outro
noutra, outro no rabo, outro (…) nas orelhas – toca para cima do banco. Às
vezes, (ele) até botava pouco sangue, porque aquilo era de súbito. E depois,
com uns alguidares, a gente botava-lhe sal, um bocadinho de alho, folha de
loureiro, (…) uma espiguinha de centeio, que era (…) para o sangue tomar
melhor. Depois a gente tinha já os potes da água a ferver; ia-se para cima,
porque eles ao depois, dês que estão os porcos já mortos, tratam (…) de
lavar um lado, não é? Quando o viram para o outro lado, tem que a gente vir
com um prato (…) de sangue cozido e (…) uma caneca de vinho e uns copos num
prato, para eles comerem o bocado de sangue cozido e a pinga. Depois lavavam o
outro… Quando lavasse o outro lado, tornavam a beber, mas já não comiam
sangue. Depois, ia-se pendurar, penduravam-se até alguns aqui, outros em baixo.
Chegámos a matar aos quatro.
© Instituto Camões, 2002