José Cardoso Pires

José Cardoso Pires


José Cardoso Pires (1925-1998) esteve desde sempre ligado à ficção de implicação social, por vezes aliando as conceções neorrealistas às existencialistas (O Anjo Ancorado, 1958), e notabilizando-se por um estilo seco e enxuto que maneja com extrema sobriedade, desde O Hóspede de Job, 1963, a Balada da Praia dos Cães, 1982.

Pássaros pontilhando a ramaria, o horizonte do mar por cima da copa das árvores e entre o céu e a linha de água uma luzinha fria a caminhar para o crepúsculo. Um petroleiro? Elias demora-se a olhar. Tempo ao tempo. Só no dia seguinte começará o inventário dos sinais e dos palpites, confiado como sempre no Velhaco das Algemas. Tempo ao tempo. Mais depressa se apanha um assassino que um morto, porque, como dizia o outro, o morto voa a cavalo na alma e o assassino tropeça no medo.

Balada da Praia dos Cães

Mais recentemente, Alexandra Alpha, 1987, e De Profundis - Valsa lenta, 1997 dão conta de um insanável gosto de ficcionar a realidade mais próxima e comum no que ela, através da perceção do ficcionista, pode revelar de inverosímil, excecional e inacessível ao olhar humano.

© Instituto Camões, 2001