Várias dezenas de obras de muitos géneros literários, saídas da pena de 35 escritores ímpares do século XX, têm em comum aquilo a que o autor desta antologia chama de «Erótica Discreta», uma espécie de variante lusitana da narrativa amorosa.

O mesmo eros dissimulado que na poesia nacional se associa inevitavelmente à sátira, como apontou Natália Correia na sua Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, não ultrapassa, na ficção portuguesa anterior ao futurismo e ao surrealismo, os limites da «decência» e do «pudor» – leia-se Camilo Castelo Branco –, ou da tragicomédia de costumes – leia-se Eça de Queirós – acrescenta António Mega Ferreira.

É por contaminação da literatura estrangeira que aparece em Portugal uma narrativa carregada de erótico, a qual, aos olhos do autor, tem por cultores principais António Patrício, António Botto, Fernando Pessoa (o dos English Poems), Sá-Carneiro e Manuel Teixeira-Gomes, e por obra expoente o livro Sinais de Fogo, de Jorge de Sena.

Às passagens «sumarentas» dos escritores seleccionados, junta-se aqui a análise dos contextos literários em que elas se integram e pequenas apresentações dos autores que, mais do que as habituais biobibliografias, são fundamentações da escolha de Mega Ferreira assessorada por João Paulo Cotrim.

Ficcionista, poeta e ensaísta, António Mega Ferreira foi jornalista, director editorial do Círculo de Leitores, fundador e director da revista literária Ler e comissário da EXPO 98, entre outras actividades de relevo. Tem cerca de duas dezenas de livros publicados. Em 2002 recebeu o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco pela recolha A Expressão dos Afectos.