«De cabelo na venta, Orlando Piçarra da Rebolosa gritava que o pai era um sáfaro e tinha um toutiço de chibo! Mas, doutora, meu pai é um mamarracho e tem um cachaço grosseiro! Mas doutora, meu pai é um zarolho, um xordo, um visigodo, um urinol, um torresmo, um salsinha, um ruminante, um queixumeiro, um parto prematuro, um odisseico, um narcótico, um malfeito, um luze-luze, um Ketchup! Mas doutora, meu pai é um jarreta, um israelita, um honoris causa, um gorgomilo, um furúnculo, um emolumento, um descoco, um canhonaço, um bichoso, um amanuense!
Acabou por adormecer na cama vinte e um da enfermaria de homens do Hospital de Évora.»

Sobre o que terá acometido o jovem Orlando Piçarra da Rebolosa pode ler-se mais na gesta intitulada «Ardor de Coito», uma das trinta deleitosas narrativas que compõem a primeira parte do mais recente livro de Carlos Mota de Oliveira, o qual encerra com uma carta de amor e despedida, escrita em horas tardias, num quarto de hospedaria, em San Pedro de Atacama.

Carlos Mota de Oliveira nasceu em Lisboa, em 1951. Completou a escola primária em S. Miguel, o liceu em Luanda e Lisboa e os estudou universitários na cidade de Évora.
Publica desde 1973, maioritariamente em Edição de Autor, obras poéticas em nome próprio e com os nomes de Ana de Sá e José Bebiano.