«Durante algum tempo, noticiei crimes rurais para jornais interiores. Naquele tempo, não só os crimes eram rurais. A vida também o era. Ainda o é, aliás, Dois desses crimes aparecem transfigurados neste livro. A vida também aparece transfigurada neste livro.
Dos crimes, guardo a natureza posterior da violência. Em redor das casas-cenários, os vivos magotavam-se para comentar gulosamente o escândalo que a morte sempre é. Os vivos eram aldeãos de botas de borracha com hábitos e hálitos de aguardente, eram mulheres velhas vestidas de negro e desconjuntadas como guarda-chuvas, eram guardas-republicanos que pareciam campónios uniformizados à pressa para a gala do assassínio.»
Daniel Abrunheiro nasceu em Coimbra em 1964. Foi professor (cooperante em Cabo Verde), assessorou ACERT Trigo Limpo (grupo de teatro sediado em Tondela), com quem trabalha regularmente como assistente de dramaturgia. É jornalista e colabora com vários jornais da imprensa regional e com o cabo-verdiano Liberal. Em 2003 publicou Cronicão/Gente do Touro de Ouro/Noite de Homens-Cantores.