Escrito em 1974 e agora reeditado pela Caminho, este livro narra, ao jeito dos velhos contadores de histórias, os casos de um cabrito malanjino que tocava viola e vivia sem destino, de uma menina manana, filha de musseque gentio e noiva de quem não conhecia, de uma menina santa e do último quinzar de Makulusu.
Português por nascença (1935) e angolano pela participação no movimento de libertação e democratização do país, José Luandino Vieira é um dos mais representativos e singulares escritores da África de expressão portuguesa e um dos primeiros autores a trazer a crioulidade para a literatura. Dono de uma prosa poética onde se expressa a oralidade, o olhar acutilante sobre a realidade, a voz dos oprimidos, o vencedor do Prémio Camões 2006 (que recusou por razões pessoais) procurou criar uma linguagem literária a partir dos processos e das estruturas linguísticas bantas da região de Luanda, uma escrita «homóloga da linguagem popular e não a sua cópia ou a sua reprodução», como explicou numa entrevista a Pires Laranjeira, em 1994.
Poeta, contista, tradutor, de seu nome completo José Mateus Vieira da Graça, foi com três anos de idade para Angola e fez os estudos liceais em Luanda, cidade onde seguiu a carreira comercial, tendo chegado a gerente de uma empresa. Preso em 1961 por alegadas ligações ao MPLA, foi em 1963 desterrado para o Tarrafal, Cabo Verde, donde voltou a Lisboa em 1972 para aqui viver em regime de liberdade condicional e de residência fixa, regressando a Angola em 1975. Durante a sua estada em Portugal trabalhou numa editora e exerceu actividade como tradutor. A sua estreia literária foi feita na revista Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império de Lisboa, em 1950. Já com vários prémios literários Sociedade Cultural de Angola (1961), Casa dos Estudantes do Império de Lisboa (1961), Associação dos Naturais de Angola (1963) e Prémio Mota Veiga (1963) foi-lhe atribuído em 1965 o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Autores pelo seu livro Luuanda, facto que levou à destruição e posterior ilegalização daquela Sociedade.
Depois da independência angolana foi nomeado para a direcção da Televisão Popular de Angola, que organizou e dirigiu de 1975 a 1978, para o Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA, que dirigiu até 1979, e para o Instituto Angolano de Cinema, que dirigiu de 1979 a 1984. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu a função de Secretário-Geral desde a sua fundação, em 1975, até 1980. Foi Secretário-Geral Adjunto da Associação dos Escritores Afroasiáticos, de 1979 a 1984, e de novo Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, de 1985 a 1992. Após o colapso das primeiras eleições, em 1992, e do recrudescimento da guerra civil, abandonou a vida pública, dedicando-se unicamente à literatura. Usou os pseudónimos de Luandino Vieira, José Graça e José Muimbu.