titletitleCentro Virtual Camões - Camões IP <subtitle type="text"></subtitle> <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt"/> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/</id> <updated>2024-11-09T09:10:01+00:00</updated> <author> <name>Centro Virtual Camões</name> <email>naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt</email> </author> <generator uri="http://joomla.org" version="1.6">Joomla! - Open Source Content Management</generator> <link rel="self" type="application/atom+xml" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1?format=feed&type=atom"/> <entry> <title>Canto II, 91/98 <link rel="alternate" type="text/html" href="http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-ii-9198.html"/> <published>2009-05-08T09:06:52+00:00</published> <updated>2009-05-08T09:06:52+00:00</updated> <id>http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-ii-9198.html</id> <author> <name>Cláudio Vinagre</name> <email>cvinagre@instituto-camoes.pt</email> </author> <summary type="html"><div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/1MLxs-MOFJs&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/1MLxs-MOFJs&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto II, 91/98 por Fernando Luís Sampaio. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto II</strong><br /> <br /> 91<br /> <br /> Respondem-lhe da terra juntamente,<br /> Co'o raio volteando, com zunido;<br /> Anda em giros no ar a roda ardente,<br /> Estoura o pó sulfúreo escondido.<br /> A grita se alevanta ao céu, da gente;<br /> O mar se via em fogos acendido,<br /> E não menos a terra; e assim festeja<br /> Um ao outro, a maneira de peleja.<br /> <br /> 92<br /> <br /> Mas já o Céu inquieto revolvendo,<br /> As gentes incitava a seu trabalho,<br /> E já a mãe de Menon a luz trazendo,<br /> Ao sono longo punha certo atalho;<br /> Iam-se as sombras lentas desfazendo,<br /> Sobre as flores da terra em frio orvalho,<br /> Quando o Rei Melindano se embarcava<br /> A ver a frota, que no mar estava.<br /> <br /> 93<br /> <br /> Viam-se em derredor ferver as praias<br /> Da gente, que a ver só concorre leda;<br /> Luzem da fina púrpura as cabaias,<br /> Lustram os panos da tecida seda;<br /> Em lugar das guerreiras azagaias<br /> E do arco, que os cornos arremeda<br /> Da Lua, trazem ramos de palmeira,<br /> Dos que vencem, coroa verdadeira.<br /> <br /> 94<br /> <br /> Um batel grande e largo, que toldado<br /> Vinha de sedas de diversas cores,<br /> Traz o Rei de Melinde, acompanhado<br /> De nobres e seu Reino e de senhores:<br /> Vem de ricos vestidos adornado,<br /> Segundo seus costumes e primores;<br /> Na cabeça uma fota guarnecida<br /> De ouro, e de seda e de algodão tecida.<br /> <br /> 95<br /> <br /> Cabaia de Damasco rico e dino,<br /> Da Tíria cor, entre eles estimada,<br /> Um colar ao pescoço, de ouro fino,<br /> Onde a matéria da obra é superada,<br /> C'um resplendor reluze adamantino;<br /> Na cinta, a rica bem lavrada;<br /> Nas alparcas dos pés, em fim de tudo,<br /> Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.<br /> <br /> 96<br /> <br /> Com um redondo emparo alto de seda,<br /> Numa alta e dourada hástia enxerido,<br /> Um ministro à solar quentura veda.<br /> Que não ofenda e queime o Rei subido.<br /> Música traz na proa, estranha e leda,<br /> De áspero som, horríssono ao ouvido,<br /> De trombetas arcadas em redondo,<br /> Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.<br /> <br /> 97<br /> <br /> Não menos guarnecido o Lusitano<br /> Nos seus batéis, da frota se partia<br /> A receber no mar o Melindano,<br /> Com lustrosa e lograda companhia.<br /> Vestido o Gama vem ao modo Hispano,<br /> Mas Francesa era a roupa que vestia,<br /> De cetim da Adriática Veneza<br /> Carmesi, cor que a gente tanto preza:<br /> <br /> 98<br /> <br /> De botões douro as mangas vêm tomadas,<br /> Onde o Sol reluzindo a vista cega;<br /> As calças soldadescas recamadas<br /> Do metal, que Fortuna a tantos nega,<br /> E com pontas do mesmo delicadas<br /> Os golpes do gibão ajunta e achega;<br /> Ao Itálico modo a áurea espada;<br /> Pluma na gorra, um pouco declinada.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div></summary> <content type="html"><div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/1MLxs-MOFJs&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/1MLxs-MOFJs&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto II, 91/98 por Fernando Luís Sampaio. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto II</strong><br /> <br /> 91<br /> <br /> Respondem-lhe da terra juntamente,<br /> Co'o raio volteando, com zunido;<br /> Anda em giros no ar a roda ardente,<br /> Estoura o pó sulfúreo escondido.<br /> A grita se alevanta ao céu, da gente;<br /> O mar se via em fogos acendido,<br /> E não menos a terra; e assim festeja<br /> Um ao outro, a maneira de peleja.<br /> <br /> 92<br /> <br /> Mas já o Céu inquieto revolvendo,<br /> As gentes incitava a seu trabalho,<br /> E já a mãe de Menon a luz trazendo,<br /> Ao sono longo punha certo atalho;<br /> Iam-se as sombras lentas desfazendo,<br /> Sobre as flores da terra em frio orvalho,<br /> Quando o Rei Melindano se embarcava<br /> A ver a frota, que no mar estava.<br /> <br /> 93<br /> <br /> Viam-se em derredor ferver as praias<br /> Da gente, que a ver só concorre leda;<br /> Luzem da fina púrpura as cabaias,<br /> Lustram os panos da tecida seda;<br /> Em lugar das guerreiras azagaias<br /> E do arco, que os cornos arremeda<br /> Da Lua, trazem ramos de palmeira,<br /> Dos que vencem, coroa verdadeira.<br /> <br /> 94<br /> <br /> Um batel grande e largo, que toldado<br /> Vinha de sedas de diversas cores,<br /> Traz o Rei de Melinde, acompanhado<br /> De nobres e seu Reino e de senhores:<br /> Vem de ricos vestidos adornado,<br /> Segundo seus costumes e primores;<br /> Na cabeça uma fota guarnecida<br /> De ouro, e de seda e de algodão tecida.<br /> <br /> 95<br /> <br /> Cabaia de Damasco rico e dino,<br /> Da Tíria cor, entre eles estimada,<br /> Um colar ao pescoço, de ouro fino,<br /> Onde a matéria da obra é superada,<br /> C'um resplendor reluze adamantino;<br /> Na cinta, a rica bem lavrada;<br /> Nas alparcas dos pés, em fim de tudo,<br /> Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.<br /> <br /> 96<br /> <br /> Com um redondo emparo alto de seda,<br /> Numa alta e dourada hástia enxerido,<br /> Um ministro à solar quentura veda.<br /> Que não ofenda e queime o Rei subido.<br /> Música traz na proa, estranha e leda,<br /> De áspero som, horríssono ao ouvido,<br /> De trombetas arcadas em redondo,<br /> Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.<br /> <br /> 97<br /> <br /> Não menos guarnecido o Lusitano<br /> Nos seus batéis, da frota se partia<br /> A receber no mar o Melindano,<br /> Com lustrosa e lograda companhia.<br /> Vestido o Gama vem ao modo Hispano,<br /> Mas Francesa era a roupa que vestia,<br /> De cetim da Adriática Veneza<br /> Carmesi, cor que a gente tanto preza:<br /> <br /> 98<br /> <br /> De botões douro as mangas vêm tomadas,<br /> Onde o Sol reluzindo a vista cega;<br /> As calças soldadescas recamadas<br /> Do metal, que Fortuna a tantos nega,<br /> E com pontas do mesmo delicadas<br /> Os golpes do gibão ajunta e achega;<br /> Ao Itálico modo a áurea espada;<br /> Pluma na gorra, um pouco declinada.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div></content> <category term="Maratona Lusíadas1" /> </entry> <entry> <title>Canto II, 99/113 2009-05-08T09:06:39+00:00 2009-05-08T09:06:39+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-ii-99113.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/6l5DNNyDV3Y&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/6l5DNNyDV3Y&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" 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font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto II</strong><br /> <br /> 99<br /> Nos de sua companhia se mostrava<br /> Da tinta, que dá o múrice excelente,<br /> A vária cor, que os olhos alegrava,<br /> E a maneira do trajo diferente.<br /> Tal o formoso esmalte se notava<br /> Dos vestidos, olhados juntamente,<br /> Qual aparece o arco rutilante<br /> Da bela Ninfa, filha de Taumante.<br /> <br /> 100<br /> Sonorosas trombetas incitavam<br /> Os ânimos alegres, ressoando;<br /> Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam,<br /> Os toldos pelas águas arrojando;<br /> As bombardas horríssonas bramavam,<br /> Com as nuvens de fumo o Sol tomando;<br /> Amiúdam-se os brados acendidos,<br /> Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos.<br /> <br /> 101<br /> Já no batel entrou do Capitão<br /> O Rei, que nos seus braços o levava;<br /> Ele coa cortesia, que a razão<br /> (Por ser Rei) requeria, lhe falava.<br /> C'umas mostras de espanto e admiração,<br /> O Mouro o gesto e o modo lhe notava,<br /> Como quem em mui grande estima tinha<br /> Gente que de tão longe à índia vinha.<br /> <br /> 102<br /> E com grandes palavras lhe oferece<br /> Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse,<br /> E que, se mantimento lhe falece,<br /> Como se próprio fosse, lho pedisse.<br /> Diz-lhe mais, que por fama bem conhece<br /> A gente Lusitana, sem que a visse;<br /> Que já ouviu dizer, que noutra terra<br /> Com gente de sua Lei tivesse guerra.<br /> <br /> 103<br /> E como por toda África se soa,<br /> Lhe diz, os grandes feitos que fizeram,<br /> Quando nela ganharam a coroa<br /> Do Reino, onde as Hespéridas viveram;<br /> E com muitas palavras apregoa<br /> O menos que os de Luso mereceram,<br /> E o mais que pela fama o Rei sabia.<br /> Mas desta sorte o Gama respondia:<br /> <br /> 104<br /> "Ó tu, que só tiveste piedade,<br /> Rei benigno, da gente Lusitana,<br /> Que com tanta miséria e adversidade<br /> Dos mares experimenta a fúria insana;<br /> Aquela alta e divina Eternidade,<br /> Que o Céu revolve e rege a gente humana,<br /> Pois que de ti tais obras recebemos,<br /> Te pague o que nós outros não podemos.<br /> <br /> 105<br /> "Tu só, de todos quantos queima Apolo,<br /> Nos recebes em paz, cio mar profundo;<br /> Em ti dos ventos hórridos de Eolo<br /> Refúgio achamos bom, fido e jocundo.<br /> Enquanto apascentar o largo Pólo<br /> As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo,<br /> Onde quer que eu viver, com fama e glória<br /> Viverão teus louvores em memória."<br /> <br /> 106<br /> Isto dizendo, os barcos vão remando<br /> Para a frota, que o Mouro ver deseja;<br /> Vão as naus uma e uma rodeando,<br /> Porque de todas tudo note e veja.<br /> Mas para o céu Vulcano fuzilando,<br /> A frota coas bombardas o festeja,<br /> E as trombetas canoras lhe tangiam;<br /> Co'os anafis os Mouros respondiam.<br /> <br /> 107<br /> Mas depois de ser tudo já notado<br /> Do generoso Mouro, que pasmava<br /> Ouvindo o instrumento inusitado,<br /> Que tamanho terror em si mostrava,<br /> Mandava estar quieto e ancorado<br /> N'água o batel ligeiro que os levava,<br /> Por falar de vagar co'o forte Gama,<br /> Nas cousas de que tem notícia e faina.<br /> <br /> 108<br /> Em práticas o Mouro diferentes<br /> Se deleitava, perguntando agora<br /> Pelas guerras famosas e excelentes<br /> Co'o povo havidas, que a Mafoma adora;<br /> Agora lhe pergunta pelas gentes<br /> De toda a Hespéria última, onde mora;<br /> Agora pelos povos seus vizinhos,<br /> Agora pelos úmidos caminhos.<br /> <br /> 109<br /> "Mas antes, valeroso Capitão,<br /> Nos conta, lhe dizia, diligente,<br /> Da terra tua o clima, e região<br /> Do mundo onde morais distintamente;<br /> E assim de vossa antiga geração,<br /> E o princípio do Reino tão potente,<br /> Co'os sucessos das guerras do começo,<br /> Que, sem sabê-las, sei que são de preço.<br /> <br /> 110<br /> "E assim também nos conta dos rodeios<br /> Longos, em que te traz o mar irado,<br /> Vendo os costumes bárbaros alheios.<br /> Que a nossa África ruda tem criado.<br /> Conta: que agora vêm co'os áureos freios<br /> Os cavalos que o carro marchetado<br /> Do novo Sol, da fria Aurora trazem,<br /> O vento dorme, o mar e as ondas jazem.<br /> <br /> 111<br /> "E não menos co'o tempo se parece<br /> O desejo de ouvir-te o que contares;<br /> Que quem há, que por fama não conhece<br /> As obras Portuguesas singulares?<br /> Não tanto desviado resplandece<br /> De nós o claro Sol, para julgares<br /> Que os Melindanos têm tão rudo peito,<br /> Que não estimem muito um grande feito.<br /> <br /> 112<br /> "Cometeram soberbos os Gigantes,<br /> Com guerra vã, o Olimpo claro e puro;<br /> Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes,<br /> O Reino de Plutão horrendo e escuro.<br /> Se houve feitos no mundo tão possantes,<br /> Não menos é trabalho ilustre e duro,<br /> Quanto foi cometer Inferno o Céu,<br /> Que outrem cometa a fúria de Nereu.<br /> <br /> 113<br /> "Queimou o sagrado templo de Diana,<br /> Do subtil Tesifónio fabricado,<br /> Heróstrato, por ser da gente humana<br /> Conhecido no mundo e nomeado:<br /> Se também com tais obras nos engana<br /> O desejo de um nome avantajado,<br /> Mais razão há que queira eterna glória<br /> Quem faz obras tão dignas de memória."<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param 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</span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto II</strong><br /> <br /> 99<br /> Nos de sua companhia se mostrava<br /> Da tinta, que dá o múrice excelente,<br /> A vária cor, que os olhos alegrava,<br /> E a maneira do trajo diferente.<br /> Tal o formoso esmalte se notava<br /> Dos vestidos, olhados juntamente,<br /> Qual aparece o arco rutilante<br /> Da bela Ninfa, filha de Taumante.<br /> <br /> 100<br /> Sonorosas trombetas incitavam<br /> Os ânimos alegres, ressoando;<br /> Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam,<br /> Os toldos pelas águas arrojando;<br /> As bombardas horríssonas bramavam,<br /> Com as nuvens de fumo o Sol tomando;<br /> Amiúdam-se os brados acendidos,<br /> Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos.<br /> <br /> 101<br /> Já no batel entrou do Capitão<br /> O Rei, que nos seus braços o levava;<br /> Ele coa cortesia, que a razão<br /> (Por ser Rei) requeria, lhe falava.<br /> C'umas mostras de espanto e admiração,<br /> O Mouro o gesto e o modo lhe notava,<br /> Como quem em mui grande estima tinha<br /> Gente que de tão longe à índia vinha.<br /> <br /> 102<br /> E com grandes palavras lhe oferece<br /> Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse,<br /> E que, se mantimento lhe falece,<br /> Como se próprio fosse, lho pedisse.<br /> Diz-lhe mais, que por fama bem conhece<br /> A gente Lusitana, sem que a visse;<br /> Que já ouviu dizer, que noutra terra<br /> Com gente de sua Lei tivesse guerra.<br /> <br /> 103<br /> E como por toda África se soa,<br /> Lhe diz, os grandes feitos que fizeram,<br /> Quando nela ganharam a coroa<br /> Do Reino, onde as Hespéridas viveram;<br /> E com muitas palavras apregoa<br /> O menos que os de Luso mereceram,<br /> E o mais que pela fama o Rei sabia.<br /> Mas desta sorte o Gama respondia:<br /> <br /> 104<br /> "Ó tu, que só tiveste piedade,<br /> Rei benigno, da gente Lusitana,<br /> Que com tanta miséria e adversidade<br /> Dos mares experimenta a fúria insana;<br /> Aquela alta e divina Eternidade,<br /> Que o Céu revolve e rege a gente humana,<br /> Pois que de ti tais obras recebemos,<br /> Te pague o que nós outros não podemos.<br /> <br /> 105<br /> "Tu só, de todos quantos queima Apolo,<br /> Nos recebes em paz, cio mar profundo;<br /> Em ti dos ventos hórridos de Eolo<br /> Refúgio achamos bom, fido e jocundo.<br /> Enquanto apascentar o largo Pólo<br /> As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo,<br /> Onde quer que eu viver, com fama e glória<br /> Viverão teus louvores em memória."<br /> <br /> 106<br /> Isto dizendo, os barcos vão remando<br /> Para a frota, que o Mouro ver deseja;<br /> Vão as naus uma e uma rodeando,<br /> Porque de todas tudo note e veja.<br /> Mas para o céu Vulcano fuzilando,<br /> A frota coas bombardas o festeja,<br /> E as trombetas canoras lhe tangiam;<br /> Co'os anafis os Mouros respondiam.<br /> <br /> 107<br /> Mas depois de ser tudo já notado<br /> Do generoso Mouro, que pasmava<br /> Ouvindo o instrumento inusitado,<br /> Que tamanho terror em si mostrava,<br /> Mandava estar quieto e ancorado<br /> N'água o batel ligeiro que os levava,<br /> Por falar de vagar co'o forte Gama,<br /> Nas cousas de que tem notícia e faina.<br /> <br /> 108<br /> Em práticas o Mouro diferentes<br /> Se deleitava, perguntando agora<br /> Pelas guerras famosas e excelentes<br /> Co'o povo havidas, que a Mafoma adora;<br /> Agora lhe pergunta pelas gentes<br /> De toda a Hespéria última, onde mora;<br /> Agora pelos povos seus vizinhos,<br /> Agora pelos úmidos caminhos.<br /> <br /> 109<br /> "Mas antes, valeroso Capitão,<br /> Nos conta, lhe dizia, diligente,<br /> Da terra tua o clima, e região<br /> Do mundo onde morais distintamente;<br /> E assim de vossa antiga geração,<br /> E o princípio do Reino tão potente,<br /> Co'os sucessos das guerras do começo,<br /> Que, sem sabê-las, sei que são de preço.<br /> <br /> 110<br /> "E assim também nos conta dos rodeios<br /> Longos, em que te traz o mar irado,<br /> Vendo os costumes bárbaros alheios.<br /> Que a nossa África ruda tem criado.<br /> Conta: que agora vêm co'os áureos freios<br /> Os cavalos que o carro marchetado<br /> Do novo Sol, da fria Aurora trazem,<br /> O vento dorme, o mar e as ondas jazem.<br /> <br /> 111<br /> "E não menos co'o tempo se parece<br /> O desejo de ouvir-te o que contares;<br /> Que quem há, que por fama não conhece<br /> As obras Portuguesas singulares?<br /> Não tanto desviado resplandece<br /> De nós o claro Sol, para julgares<br /> Que os Melindanos têm tão rudo peito,<br /> Que não estimem muito um grande feito.<br /> <br /> 112<br /> "Cometeram soberbos os Gigantes,<br /> Com guerra vã, o Olimpo claro e puro;<br /> Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes,<br /> O Reino de Plutão horrendo e escuro.<br /> Se houve feitos no mundo tão possantes,<br /> Não menos é trabalho ilustre e duro,<br /> Quanto foi cometer Inferno o Céu,<br /> Que outrem cometa a fúria de Nereu.<br /> <br /> 113<br /> "Queimou o sagrado templo de Diana,<br /> Do subtil Tesifónio fabricado,<br /> Heróstrato, por ser da gente humana<br /> Conhecido no mundo e nomeado:<br /> Se também com tais obras nos engana<br /> O desejo de um nome avantajado,<br /> Mais razão há que queira eterna glória<br /> Quem faz obras tão dignas de memória."<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto III, 118/129 2009-05-08T09:06:25+00:00 2009-05-08T09:06:25+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iii-118129.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/zAyAqBwMGnM%26hl=en%26fs=1%26color1=0x234900%26color2=0x4e9e00%26border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/zAyAqBwMGnM%26hl=en%26fs=1%26color1=0x234900%26color2=0x4e9e00%26border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto III, 118/129 por Manuel Graça Dias. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto III</strong><br /> <br /> 118<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Passada esta tão próspera vitória,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tornando Afonso à Lusitana terra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A se lograr da paz com tanta glória<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quanta soube ganhar na dura guerra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O caso triste, e dino da memória,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que do sepulcro os homens desenterra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aconteceu da mísera e mesquinha<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que depois de ser morta foi Rainha.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">119<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que os corações humanos tanto obriga,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Deste causa à molesta morte sua,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como se fora pérfida inimiga.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se dizem, fero Amor, que a sede tua<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nem com lágrimas tristes se mitiga,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">É porque queres, áspero e tirano,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tuas aras banhar em sangue humano.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">120<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Estavas, linda Inês, posta em sossego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De teus anos colhendo doce fruto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Naquele engano da alma, ledo e cego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que a fortuna não deixa durar muito,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nos saudosos campos do Mondego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De teus fermosos olhos nunca enxuto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aos montes ensinando e às ervinhas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome que no peito escrito tinhas.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">121<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do teu Príncipe ali te respondiam<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As lembranças que na alma lhe moravam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que sempre ante seus olhos te traziam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando dos teus fermosos se apartavam:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De noite em doces sonhos, que mentiam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De dia em pensamentos, que voavam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E quanto enfim cuidava, e quanto via,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Eram tudo memórias de alegria.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">122<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"De outras belas senhoras e Princesas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os desejados tálamos enjeita,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando um gesto suave te sujeita.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vendo estas namoradas estranhezas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O velho pai sesudo, que respeita<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O murmurar do povo, e a fantasia<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do filho, que casar-se não queria,<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">123<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tirar Inês ao mundo determina,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por lhe tirar o filho que tem preso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Crendo co'o sangue só da morte indina<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Matar do firme amor o fogo aceso.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que furor consentiu que a espada fina,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que pôde sustentar o grande peso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do furor Mauro, fosse alevantada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Contra uma fraca dama delicada?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">124<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Traziam-na os horríficos algozes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ante o Rei, já movido a piedade:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas o povo, com falsas e ferozes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Razões, à morte crua o persuade.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ela com tristes o piedosas vozes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Saídas só da mágoa, e saudade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do seu Príncipe, e filhos que deixava,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que mais que a própria morte a magoava,<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">125<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Para o Céu cristalino alevantando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com lágrimas os olhos piedosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os olhos, porque as mãos lhe estava atando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Um dos duros ministros rigorosos;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E depois nos meninos atentando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tão queridos tinha, e tão mimosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Cuja orfandade como mãe temia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Para o avô cruel assim dizia:<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">126<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "Se já nas brutas feras, cuja mente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Natura fez cruel de nascimento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E nas aves agrestes, que somente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nas rapinas aéreas têm o intento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com pequenas crianças viu a gente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Terem tão piedoso sentimento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como coa mãe de Nino já mostraram,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E colos irmãos que Roma edificaram;<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">127<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Se de humano é matar uma donzela <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Fraca e sem força, só por ter sujeito <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O coração a quem soube vencê-la) <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A estas criancinhas tem respeito, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois o não tens à morte escura dela; <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mova-te a piedade sua e minha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois te não move a culpa que não tinha.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">128<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "E se, vencendo a Maura resistência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A morte sabes dar com fogo e ferro,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Sabe também dar vicia com clemência<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A quem para perdê-la não fez erro.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas se to assim merece esta inocência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Põe-me em perpétuo e mísero desterro,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Na Cítia fria, ou lá na Líbia ardente,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Onde em lágrimas viva eternamente.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">129<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Põe-me onde se use toda a feridade,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Entre leões e tigres, e verei<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se neles achar posso a piedade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que entre peitos humanos não achei:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ali com o amor intrínseco e vontade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Naquele por quem morro, criarei<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Estas relíquias suas que aqui viste,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que refrigério sejam da mãe triste."-<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/zAyAqBwMGnM%26hl=en%26fs=1%26color1=0x234900%26color2=0x4e9e00%26border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/zAyAqBwMGnM%26hl=en%26fs=1%26color1=0x234900%26color2=0x4e9e00%26border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto III, 118/129 por Manuel Graça Dias. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto III</strong><br /> <br /> 118<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Passada esta tão próspera vitória,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tornando Afonso à Lusitana terra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A se lograr da paz com tanta glória<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quanta soube ganhar na dura guerra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O caso triste, e dino da memória,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que do sepulcro os homens desenterra,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aconteceu da mísera e mesquinha<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que depois de ser morta foi Rainha.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">119<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tu só, tu, puro Amor, com força crua,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que os corações humanos tanto obriga,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Deste causa à molesta morte sua,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como se fora pérfida inimiga.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se dizem, fero Amor, que a sede tua<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nem com lágrimas tristes se mitiga,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">É porque queres, áspero e tirano,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tuas aras banhar em sangue humano.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">120<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Estavas, linda Inês, posta em sossego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De teus anos colhendo doce fruto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Naquele engano da alma, ledo e cego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que a fortuna não deixa durar muito,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nos saudosos campos do Mondego,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De teus fermosos olhos nunca enxuto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aos montes ensinando e às ervinhas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome que no peito escrito tinhas.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">121<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do teu Príncipe ali te respondiam<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As lembranças que na alma lhe moravam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que sempre ante seus olhos te traziam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando dos teus fermosos se apartavam:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De noite em doces sonhos, que mentiam,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De dia em pensamentos, que voavam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E quanto enfim cuidava, e quanto via,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Eram tudo memórias de alegria.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">122<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"De outras belas senhoras e Princesas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os desejados tálamos enjeita,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando um gesto suave te sujeita.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vendo estas namoradas estranhezas<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O velho pai sesudo, que respeita<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O murmurar do povo, e a fantasia<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do filho, que casar-se não queria,<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">123<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tirar Inês ao mundo determina,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por lhe tirar o filho que tem preso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Crendo co'o sangue só da morte indina<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Matar do firme amor o fogo aceso.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que furor consentiu que a espada fina,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que pôde sustentar o grande peso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do furor Mauro, fosse alevantada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Contra uma fraca dama delicada?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">124<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Traziam-na os horríficos algozes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ante o Rei, já movido a piedade:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas o povo, com falsas e ferozes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Razões, à morte crua o persuade.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ela com tristes o piedosas vozes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Saídas só da mágoa, e saudade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do seu Príncipe, e filhos que deixava,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que mais que a própria morte a magoava,<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">125<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Para o Céu cristalino alevantando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com lágrimas os olhos piedosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os olhos, porque as mãos lhe estava atando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Um dos duros ministros rigorosos;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E depois nos meninos atentando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tão queridos tinha, e tão mimosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Cuja orfandade como mãe temia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Para o avô cruel assim dizia:<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">126<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "Se já nas brutas feras, cuja mente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Natura fez cruel de nascimento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E nas aves agrestes, que somente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Nas rapinas aéreas têm o intento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com pequenas crianças viu a gente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Terem tão piedoso sentimento,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como coa mãe de Nino já mostraram,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E colos irmãos que Roma edificaram;<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">127<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Se de humano é matar uma donzela <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Fraca e sem força, só por ter sujeito <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O coração a quem soube vencê-la) <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A estas criancinhas tem respeito, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois o não tens à morte escura dela; <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mova-te a piedade sua e minha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois te não move a culpa que não tinha.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">128<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">- "E se, vencendo a Maura resistência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A morte sabes dar com fogo e ferro,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Sabe também dar vicia com clemência<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A quem para perdê-la não fez erro.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas se to assim merece esta inocência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Põe-me em perpétuo e mísero desterro,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Na Cítia fria, ou lá na Líbia ardente,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Onde em lágrimas viva eternamente.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">129<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Põe-me onde se use toda a feridade,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Entre leões e tigres, e verei<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se neles achar posso a piedade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que entre peitos humanos não achei:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ali com o amor intrínseco e vontade<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Naquele por quem morro, criarei<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Estas relíquias suas que aqui viste,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que refrigério sejam da mãe triste."-<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto III, 130/143 2009-05-08T09:06:06+00:00 2009-05-08T09:06:06+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iii-130143.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/i8qgSTRRlHY&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/i8qgSTRRlHY&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto III, 130/143 por Manuel Graça Dias. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto III</strong><br /> <br /> 130<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Queria perdoar-lhe o Rei benino,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Movido das palavras que o magoam;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas o pertinaz povo, e seu destino<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Arrancam das espadas de aço fino<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os que por bom tal feito ali apregoam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Contra uma dama, ó peitos carniceiros,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Feros vos amostrais, e cavaleiros?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">131<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Qual contra a linda moça Policena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Consolação extrema da mãe velha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Porque a sombra de Aquiles a condena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas ela os olhos com que o ar serena<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Bem como paciente e mansa ovelha)<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Na mísera mãe postos, que endoudece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ao duro sacrifício se oferece:<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">132<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tais contra Inês os brutos matadores<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">No colo de alabastro, que sustinha<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As obras com que Amor matou de amores<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aquele que depois a fez Rainha;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As espadas banhando, e as brancas flores,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que ela dos olhos seus regadas tinha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se encarniçavam, férvidos e irosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">No futuro castigo não cuidosos.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">133<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Bem puderas, ó Sol, da vista destes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Teus raios apartar aquele dia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como da seva mesa de Tiestes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando os filhos por mão de Atreu comia.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vós, ó côncavos vales, que pudestes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A voz extrema ouvir da boca fria,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por muito grande espaço repetisses!<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">134<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Assim como a bonina, que cortada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Antes do tempo foi, cândida e bela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Sendo das mãos lascivas maltratada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Da menina que a trouxe na capela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O cheiro traz perdido e a cor murchada:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tal está morta a pálida donzela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Secas do rosto as rosas, e perdida<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A branca e viva cor, coa doce vida.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">135<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"As filhas do Mondego a morte escura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Longo tempo chorando memoraram,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E, por memória eterna, em fonte pura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As lágrimas choradas transformaram;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome lhe puseram, que inda dura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Dos amores de Inês que ali passaram.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vede que fresca fonte rega as flores,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que lágrimas são a água, e o nome amores.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">136<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Não correu muito tempo que a vingança<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Não visse Pedro das mortais feridas,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que, em tomando do Reino a governança,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A tomou dos fugidos homicidas.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do outro Pedro cruíssimo os alcança,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que ambos, imigos das humanas vidas,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O concerto fizeram, duro e injusto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que com Lépido e António fez Augusto.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">137<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Este, castigador foi rigoroso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De latrocínios, mortes e adultérios:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Eram os seus mais certos refrigérios.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As cidades guardando justiçoso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De todos os soberbos vitupérios, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mais ladrões castigando à morte deu,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que o vagabundo Aleides ou Teseu.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">138<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do justo e duro Pedro nasce o brando, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Vede da natureza o desconcerto!)<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que todo o Reino pôs em muito aperto:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que, vindo o Castelhano devastando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As terras sem defesa, esteve perto<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De destruir-se o Reino totalmente;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que um fraco Rei f az fraca a forte gente.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">139<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Ou foi castigo claro do pecado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De tirar Lianor a seu marido,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E casar-se com ela, de enlevado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Num falso parecer mal entendido;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ou foi que o coração sujeito e dado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ao vício vil, de quem se viu rendido,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mole se fez e fraco; e bem parece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que um baixo amor os fortes enfraquece.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">140<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do pecado tiveram sempre a pena<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Muitos, que Deus o quis, e permitiu:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os que foram roubar a bela Helena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E com Apio também Tarquilio o viu.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois por quem David Santo se condena?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ou quem o Tribo ilustre destruiu<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De Benjamim?Bem claro no-lo ensina<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por Sara Faraó, Siquém por Dina.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">141<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"E pois se os peitos fortes enfraquece<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Um inconcesso amor desatinado,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Bem no filho de Alcmena se parece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando em Ônfale andava transformado.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De Marco António a faina se escurece<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com ser tanto a Cleopatra afeiçoado.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tu também, Peno próspero, o sentiste<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Depois que uma moça vil na Apúlia viste.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">142<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Mas quem pode livrar-se por ventura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Dos laços que Amor arma brandamente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Entre as rosas e a neve humana pura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O ouro e o alabastro transparente?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quem de uma peregrina formosura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De um vulto de Medusa propriamente,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que o coração converte, que tem preso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Em pedra não, mas em desejo aceso?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">143<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Uma suave e angélica excelência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que em si está sempre as almas transformando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tivesse contra ela resistência?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Desculpado por certo está Fernando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Para quem tem de amor experiência;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas antes, tendo livre a fantasia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por muito mais culpado o julgaria.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/i8qgSTRRlHY&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/i8qgSTRRlHY&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto III, 130/143 por Manuel Graça Dias. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto III</strong><br /> <br /> 130<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Queria perdoar-lhe o Rei benino,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Movido das palavras que o magoam;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas o pertinaz povo, e seu destino<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Arrancam das espadas de aço fino<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os que por bom tal feito ali apregoam.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Contra uma dama, ó peitos carniceiros,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Feros vos amostrais, e cavaleiros?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">131<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Qual contra a linda moça Policena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Consolação extrema da mãe velha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Porque a sombra de Aquiles a condena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas ela os olhos com que o ar serena<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Bem como paciente e mansa ovelha)<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Na mísera mãe postos, que endoudece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ao duro sacrifício se oferece:<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">132<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Tais contra Inês os brutos matadores<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">No colo de alabastro, que sustinha<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As obras com que Amor matou de amores<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Aquele que depois a fez Rainha;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As espadas banhando, e as brancas flores,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que ela dos olhos seus regadas tinha,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Se encarniçavam, férvidos e irosos,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">No futuro castigo não cuidosos.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">133<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Bem puderas, ó Sol, da vista destes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Teus raios apartar aquele dia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Como da seva mesa de Tiestes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando os filhos por mão de Atreu comia.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vós, ó côncavos vales, que pudestes<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A voz extrema ouvir da boca fria,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por muito grande espaço repetisses!<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">134<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Assim como a bonina, que cortada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Antes do tempo foi, cândida e bela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Sendo das mãos lascivas maltratada<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Da menina que a trouxe na capela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O cheiro traz perdido e a cor murchada:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tal está morta a pálida donzela,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Secas do rosto as rosas, e perdida<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A branca e viva cor, coa doce vida.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">135<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"As filhas do Mondego a morte escura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Longo tempo chorando memoraram,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E, por memória eterna, em fonte pura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As lágrimas choradas transformaram;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O nome lhe puseram, que inda dura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Dos amores de Inês que ali passaram.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Vede que fresca fonte rega as flores,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que lágrimas são a água, e o nome amores.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">136<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Não correu muito tempo que a vingança<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Não visse Pedro das mortais feridas,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que, em tomando do Reino a governança,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">A tomou dos fugidos homicidas.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Do outro Pedro cruíssimo os alcança,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que ambos, imigos das humanas vidas,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O concerto fizeram, duro e injusto,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que com Lépido e António fez Augusto.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">137<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Este, castigador foi rigoroso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De latrocínios, mortes e adultérios:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Eram os seus mais certos refrigérios.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As cidades guardando justiçoso<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De todos os soberbos vitupérios, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mais ladrões castigando à morte deu,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que o vagabundo Aleides ou Teseu.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">138<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do justo e duro Pedro nasce o brando, <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">(Vede da natureza o desconcerto!)<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que todo o Reino pôs em muito aperto:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que, vindo o Castelhano devastando<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">As terras sem defesa, esteve perto<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De destruir-se o Reino totalmente;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que um fraco Rei f az fraca a forte gente.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">139<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Ou foi castigo claro do pecado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De tirar Lianor a seu marido,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E casar-se com ela, de enlevado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Num falso parecer mal entendido;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ou foi que o coração sujeito e dado<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ao vício vil, de quem se viu rendido,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mole se fez e fraco; e bem parece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que um baixo amor os fortes enfraquece.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">140<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Do pecado tiveram sempre a pena<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Muitos, que Deus o quis, e permitiu:<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Os que foram roubar a bela Helena,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">E com Apio também Tarquilio o viu.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Pois por quem David Santo se condena?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Ou quem o Tribo ilustre destruiu<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De Benjamim?Bem claro no-lo ensina<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por Sara Faraó, Siquém por Dina.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">141<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"E pois se os peitos fortes enfraquece<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Um inconcesso amor desatinado,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Bem no filho de Alcmena se parece,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quando em Ônfale andava transformado.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De Marco António a faina se escurece<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Com ser tanto a Cleopatra afeiçoado.<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Tu também, Peno próspero, o sentiste<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Depois que uma moça vil na Apúlia viste.<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">142<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Mas quem pode livrar-se por ventura<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Dos laços que Amor arma brandamente<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Entre as rosas e a neve humana pura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">O ouro e o alabastro transparente?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Quem de uma peregrina formosura,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">De um vulto de Medusa propriamente,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que o coração converte, que tem preso,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Em pedra não, mas em desejo aceso?<br /> <br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">143<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">"Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Uma suave e angélica excelência,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que em si está sempre as almas transformando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Que tivesse contra ela resistência?<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Desculpado por certo está Fernando,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Para quem tem de amor experiência;<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Mas antes, tendo livre a fantasia,<br /> </span><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Por muito mais culpado o julgaria.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto IV, 14/23 2009-05-08T09:05:50+00:00 2009-05-08T09:05:50+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iv-1423.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" 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font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 14/23 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 14<br /> "Mas nunca foi que este erro se sentisse<br /> No forte Dom Nuno Álvares; mas antes,<br /> Posto que em seus irmãos tão claro o visse,<br /> Reprovando as vontades inconstantes,<br /> Aquelas duvidosas gentes disse,<br /> Com palavras mais duras que elegantes,<br /> A mão na espada, irado, e não facundo,<br /> Ameaçando a terra, o mar e o mundo:<br /> <br /> 15<br /> - "Como!Da gente ilustre Portuguesa<br /> Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?,<br /> Como!Desta província, que princesa<br /> Foi das gentes na guerra em toda a parte,<br /> Há-de sair quem negue ter defesa?<br /> Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte<br /> De Português, e por nenhum respeito<br /> O próprio Reino queira ver sujeito?<br /> <br /> 16<br /> - "Como! Não seis vós inda os descendentes<br /> Daqueles, que debaixo da bandeira<br /> Do grande Henriques, feros e valentes,<br /> Vencestes esta gente tão guerreira?<br /> Quando tantas bandeiras, tantas gentes<br /> Puseram em fugida, de maneira<br /> Que sete ilustres Condes lhe trouxeram<br /> Presos, afora a presa que tiveram?<br /> <br /> 17<br /> - "Com quem foram contino sopeados<br /> Estes, de quem o estais agora vós,<br /> Por Dinis e seu filho, sublimados,<br /> Senão co'os vossos fortes pais, e avôs?<br /> Pois se com seus descuidos, ou pecados,<br /> Fernando em tal fraqueza assim vos pôs,<br /> Torne-vos vossas forças o Rei novo:<br /> Se é certo que co'o Rei se muda o povo.<br /> <br /> 18<br /> - "Rei tendes tal, que se o valor tiverdes<br /> Igual ao Rei que agora alevantastes,<br /> Desbaratareis tudo o que quiserdes,<br /> Quanto mais a quem já desbaratasses.<br /> E se com isto enfim vos não moverdes<br /> Do penetrante medo que tomastes,<br /> Atai as mãos a vosso vão receio,<br /> Que eu só resistirei ao jugo alheio.<br /> <br /> 19<br /> - "Eu só com meus vassalos, e com esta<br /> (E dizendo isto arranca meia espada)<br /> Defenderei da força dura e infesta<br /> A terra nunca de outrem sojugada.<br /> Em virtude do Rei, da pátria mesta,<br /> Da lealdade já por vós negada,<br /> Vencerei (não só estes adversários)<br /> Mas quantos a meu Rei forem contrários."-<br /> <br /> 20<br /> Bem como entre os mancebos recolhidos<br /> Em Canúsio, relíquias sós de Canas,<br /> Já para se entregar quase movidos<br /> A fortuna das forças Africanas,<br /> Cornélio moço os faz que, compelidos<br /> Da sua espada, jurem que as Romanas<br /> Armas não deixarão, enquanto a vida<br /> Os não deixar, ou nelas for perdida:<br /> <br /> 21<br /> "Destarte a gente força e esforça Nuno,<br /> Que, com lhe ouvir as últimas razões,<br /> Removem o temor frio, importuno,<br /> Que gelados lhe tinha os corações.<br /> Nos animais cavalgam de Neptuno,<br /> Brandindo e volteando arremessões;<br /> Vão correndo e gritando a boca aberta:<br /> - "Viva o famoso Rei que nos liberta!"-<br /> <br /> 22<br /> "Das gentes populares, uns aprovam<br /> A guerra com que a pátria se sustinha;<br /> Uns as armas alimpam e renovam,<br /> Que a ferrugem da paz gastadas tinha;<br /> Capacetes estofam, peitos provam,<br /> Arma-se cada um como convinha;<br /> Outros fazem vestidos de mil cores,<br /> Com letras e tenções de seus amores.<br /> <br /> 23<br /> "Com toda esta lustrosa companhia<br /> Joane forte sai da fresca Abrantes,<br /> Abrantes, que também da fonte fria<br /> Do Tejo logra as águas abundantes.<br /> Os primeiros armígeros regia<br /> Quem para reger era os mui possantes<br /> Orientais exércitos, sem conto,<br /> Com que passava Xerxes o Helesponto.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/7ollFfkn-O8&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/7ollFfkn-O8&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 14/23 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 14<br /> "Mas nunca foi que este erro se sentisse<br /> No forte Dom Nuno Álvares; mas antes,<br /> Posto que em seus irmãos tão claro o visse,<br /> Reprovando as vontades inconstantes,<br /> Aquelas duvidosas gentes disse,<br /> Com palavras mais duras que elegantes,<br /> A mão na espada, irado, e não facundo,<br /> Ameaçando a terra, o mar e o mundo:<br /> <br /> 15<br /> - "Como!Da gente ilustre Portuguesa<br /> Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?,<br /> Como!Desta província, que princesa<br /> Foi das gentes na guerra em toda a parte,<br /> Há-de sair quem negue ter defesa?<br /> Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte<br /> De Português, e por nenhum respeito<br /> O próprio Reino queira ver sujeito?<br /> <br /> 16<br /> - "Como! Não seis vós inda os descendentes<br /> Daqueles, que debaixo da bandeira<br /> Do grande Henriques, feros e valentes,<br /> Vencestes esta gente tão guerreira?<br /> Quando tantas bandeiras, tantas gentes<br /> Puseram em fugida, de maneira<br /> Que sete ilustres Condes lhe trouxeram<br /> Presos, afora a presa que tiveram?<br /> <br /> 17<br /> - "Com quem foram contino sopeados<br /> Estes, de quem o estais agora vós,<br /> Por Dinis e seu filho, sublimados,<br /> Senão co'os vossos fortes pais, e avôs?<br /> Pois se com seus descuidos, ou pecados,<br /> Fernando em tal fraqueza assim vos pôs,<br /> Torne-vos vossas forças o Rei novo:<br /> Se é certo que co'o Rei se muda o povo.<br /> <br /> 18<br /> - "Rei tendes tal, que se o valor tiverdes<br /> Igual ao Rei que agora alevantastes,<br /> Desbaratareis tudo o que quiserdes,<br /> Quanto mais a quem já desbaratasses.<br /> E se com isto enfim vos não moverdes<br /> Do penetrante medo que tomastes,<br /> Atai as mãos a vosso vão receio,<br /> Que eu só resistirei ao jugo alheio.<br /> <br /> 19<br /> - "Eu só com meus vassalos, e com esta<br /> (E dizendo isto arranca meia espada)<br /> Defenderei da força dura e infesta<br /> A terra nunca de outrem sojugada.<br /> Em virtude do Rei, da pátria mesta,<br /> Da lealdade já por vós negada,<br /> Vencerei (não só estes adversários)<br /> Mas quantos a meu Rei forem contrários."-<br /> <br /> 20<br /> Bem como entre os mancebos recolhidos<br /> Em Canúsio, relíquias sós de Canas,<br /> Já para se entregar quase movidos<br /> A fortuna das forças Africanas,<br /> Cornélio moço os faz que, compelidos<br /> Da sua espada, jurem que as Romanas<br /> Armas não deixarão, enquanto a vida<br /> Os não deixar, ou nelas for perdida:<br /> <br /> 21<br /> "Destarte a gente força e esforça Nuno,<br /> Que, com lhe ouvir as últimas razões,<br /> Removem o temor frio, importuno,<br /> Que gelados lhe tinha os corações.<br /> Nos animais cavalgam de Neptuno,<br /> Brandindo e volteando arremessões;<br /> Vão correndo e gritando a boca aberta:<br /> - "Viva o famoso Rei que nos liberta!"-<br /> <br /> 22<br /> "Das gentes populares, uns aprovam<br /> A guerra com que a pátria se sustinha;<br /> Uns as armas alimpam e renovam,<br /> Que a ferrugem da paz gastadas tinha;<br /> Capacetes estofam, peitos provam,<br /> Arma-se cada um como convinha;<br /> Outros fazem vestidos de mil cores,<br /> Com letras e tenções de seus amores.<br /> <br /> 23<br /> "Com toda esta lustrosa companhia<br /> Joane forte sai da fresca Abrantes,<br /> Abrantes, que também da fonte fria<br /> Do Tejo logra as águas abundantes.<br /> Os primeiros armígeros regia<br /> Quem para reger era os mui possantes<br /> Orientais exércitos, sem conto,<br /> Com que passava Xerxes o Helesponto.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto IV, 24/32 2009-05-08T09:05:37+00:00 2009-05-08T09:05:37+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iv-2432.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/rw8mM6w55FM&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/rw8mM6w55FM&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 24/32 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 24<br /> "Dom Nuno Álvares digo, verdadeiro<br /> Açoute de soberbos Castelhanos<br /> Como já o fero Huno o foi primeiro<br /> Para Franceses, para Italianos.<br /> Outro também famoso cavaleiro,<br /> Que a ala direita tem dos Lusitanos,<br /> Apto para mandá-los, e regê-los,<br /> Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.<br /> <br /> 25<br /> "E da outra ala, que a esta corresponde,<br /> Antão Vasques de Almada é capitão,<br /> Que depois foi de Abranches nobre Conde,<br /> Das gentes vai regendo a sestra mão.<br /> Logo na retaguarda não se esconde<br /> Das quinas e castelos o pendão,<br /> Com Joane, Rei forte em toda parte,<br /> Que escurecendo o preço vai de Alarte.<br /> <br /> 26<br /> "Estavam pelos muros, temerosas,<br /> E de um alegre medo quase frias,<br /> Rezando as mães, irmãs, damas e esposas,<br /> Prometendo jejuns e romarias.<br /> Já chegam as esquadras belicosas<br /> Defronte das amigas companhias,<br /> Que com grita grandíssima os recebem,<br /> E todas grande dúvida concebem.<br /> <br /> 27<br /> "Respondem as trombetas mensageiras,<br /> Pífaros sibilantes e atambores;<br /> Alférezes volteam as bandeiras,<br /> Que variadas são de muitas cores.<br /> Era no seco tempo, que nas eiras<br /> Ceres o fruto deixa aos lavradores,<br /> Entra em Astreia o Sol, no mês de Agosto,<br /> Baco das uvas tira o doce mosto.<br /> <br /> 28<br /> "Deu sinal a trombeta Castelhana,<br /> Horrendo, fero, ingente e temeroso;<br /> Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana<br /> Atrás tornou as ondas de medroso;<br /> Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;<br /> Correu ao mar o Tejo duvidoso;<br /> E as mães, que o som terríbil escutaram,<br /> Aos peitos os filhinhos apertaram.<br /> <br /> 29<br /> "Quantos rostos ali se vêem sem cor,<br /> Que ao coração acode o sangue amigo!<br /> Que, nos perigos grandes, o temor<br /> É maior muitas vezes que o perigo;<br /> E se o não é, parece-o; que o furor<br /> De ofender ou vencer o duro amigo<br /> Faz não sentir que é perda grande e rara,<br /> Dos membros corporais, da vida cara.<br /> <br /> 30<br /> "Começa-se a travar a incerta guerra;<br /> De ambas partes se move a primeira ala;<br /> Uns leva a defensão da própria terra,<br /> Outros as esperanças de ganhá-la;<br /> Logo o grande Pereira, em quem se encerra<br /> Todo o valor, primeiro se assinala:<br /> Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia<br /> Dos que a tanto desejam, sendo alheia.<br /> <br /> 31<br /> "Já pelo espesso ar os estridentes<br /> Farpões, setas e vários tiros voam;<br /> Debaixo dos pés duros dos ardentes<br /> Cavalos treme a terra, os vales soam;<br /> Espedaçam-se as lanças; e as frequentes<br /> Quedas coas duras armas, tudo atroam;<br /> Recrescem os amigos sobre a pouca<br /> Gente do fero Nuno, que os apouca.<br /> <br /> 32<br /> "Eis ali seus irmãos contra ele vão,<br /> (Caso feio e cruel!) mas não se espanta,<br /> Que menos é querer matar o irmão,<br /> Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:<br /> Destes arrenegados muitos são<br /> No primeiro esquadrão, que se adianta<br /> Contra irmãos e parentes (caso estranho!)<br /> Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/rw8mM6w55FM&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/rw8mM6w55FM&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 24/32 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 24<br /> "Dom Nuno Álvares digo, verdadeiro<br /> Açoute de soberbos Castelhanos<br /> Como já o fero Huno o foi primeiro<br /> Para Franceses, para Italianos.<br /> Outro também famoso cavaleiro,<br /> Que a ala direita tem dos Lusitanos,<br /> Apto para mandá-los, e regê-los,<br /> Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.<br /> <br /> 25<br /> "E da outra ala, que a esta corresponde,<br /> Antão Vasques de Almada é capitão,<br /> Que depois foi de Abranches nobre Conde,<br /> Das gentes vai regendo a sestra mão.<br /> Logo na retaguarda não se esconde<br /> Das quinas e castelos o pendão,<br /> Com Joane, Rei forte em toda parte,<br /> Que escurecendo o preço vai de Alarte.<br /> <br /> 26<br /> "Estavam pelos muros, temerosas,<br /> E de um alegre medo quase frias,<br /> Rezando as mães, irmãs, damas e esposas,<br /> Prometendo jejuns e romarias.<br /> Já chegam as esquadras belicosas<br /> Defronte das amigas companhias,<br /> Que com grita grandíssima os recebem,<br /> E todas grande dúvida concebem.<br /> <br /> 27<br /> "Respondem as trombetas mensageiras,<br /> Pífaros sibilantes e atambores;<br /> Alférezes volteam as bandeiras,<br /> Que variadas são de muitas cores.<br /> Era no seco tempo, que nas eiras<br /> Ceres o fruto deixa aos lavradores,<br /> Entra em Astreia o Sol, no mês de Agosto,<br /> Baco das uvas tira o doce mosto.<br /> <br /> 28<br /> "Deu sinal a trombeta Castelhana,<br /> Horrendo, fero, ingente e temeroso;<br /> Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana<br /> Atrás tornou as ondas de medroso;<br /> Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;<br /> Correu ao mar o Tejo duvidoso;<br /> E as mães, que o som terríbil escutaram,<br /> Aos peitos os filhinhos apertaram.<br /> <br /> 29<br /> "Quantos rostos ali se vêem sem cor,<br /> Que ao coração acode o sangue amigo!<br /> Que, nos perigos grandes, o temor<br /> É maior muitas vezes que o perigo;<br /> E se o não é, parece-o; que o furor<br /> De ofender ou vencer o duro amigo<br /> Faz não sentir que é perda grande e rara,<br /> Dos membros corporais, da vida cara.<br /> <br /> 30<br /> "Começa-se a travar a incerta guerra;<br /> De ambas partes se move a primeira ala;<br /> Uns leva a defensão da própria terra,<br /> Outros as esperanças de ganhá-la;<br /> Logo o grande Pereira, em quem se encerra<br /> Todo o valor, primeiro se assinala:<br /> Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia<br /> Dos que a tanto desejam, sendo alheia.<br /> <br /> 31<br /> "Já pelo espesso ar os estridentes<br /> Farpões, setas e vários tiros voam;<br /> Debaixo dos pés duros dos ardentes<br /> Cavalos treme a terra, os vales soam;<br /> Espedaçam-se as lanças; e as frequentes<br /> Quedas coas duras armas, tudo atroam;<br /> Recrescem os amigos sobre a pouca<br /> Gente do fero Nuno, que os apouca.<br /> <br /> 32<br /> "Eis ali seus irmãos contra ele vão,<br /> (Caso feio e cruel!) mas não se espanta,<br /> Que menos é querer matar o irmão,<br /> Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:<br /> Destes arrenegados muitos são<br /> No primeiro esquadrão, que se adianta<br /> Contra irmãos e parentes (caso estranho!)<br /> Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto IV, 33/44 2009-05-08T09:05:24+00:00 2009-05-08T09:05:24+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iv-3344.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/7hCDogptIK4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/7hCDogptIK4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 33/44 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 33<br /> "Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,<br /> Catilina, e vós outros dos antigos,<br /> Que contra vossas pátrias, com profano<br /> Coração, vos fizestes inimigos,<br /> Se lá no reino escuro de Sumano<br /> Receberdes gravíssimos castigos,<br /> Dizei-lhe que também dos Portugueses<br /> Alguns tredores houve algumas vezes.<br /> <br /> 34<br /> "Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,<br /> Tantos dos inimigos a eles vão!<br /> Está ali Nuno, qual pelos outeiros<br /> De Ceita está o fortíssimo leão,<br /> Que cercado se vê dos cavaleiros<br /> Que os campos vão correr de Tetuão:<br /> Perseguem-no com as lanças, e ele iroso,<br /> Torvado um pouco está, mas não medroso.<br /> <br /> 35<br /> "Com torva vista os vê, mas a natura<br /> Ferina e a ira não lhe compadecem<br /> Que as costas dê, mas antes na espessura<br /> Das lanças se arremessa, que recrescem.<br /> Tal está o cavaleiro, que a verdura<br /> Tinge co'o sangue alheio; ali perecem<br /> Alguns dos seus, que o ânimo valente<br /> Perde a virtude contra tanta gente.<br /> <br /> 36<br /> "Sentiu Joane a afronta que passava<br /> Nuno, que, como sábio capitão,<br /> Tudo corria e via, e a todos dava,<br /> Com presença e palavras, coração.<br /> Qual parida leoa, fera e brava,<br /> Que os filhos que no ninho sós estão,<br /> Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara,<br /> O pastor de Massília lhos furtara;<br /> <br /> 37<br /> "Corre raivosa, e freme, e com bramidos<br /> Os montes Sete Irmãos atroa e abala:<br /> Tal Joane, com outros escolhidos<br /> Dos seus, correndo acode à primeira ala:<br /> -"Ó fortes companheiros, ó subidos<br /> Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,<br /> Defendei vossas terras, que a esperança<br /> Da liberdade está na vossa lança.<br /> <br /> 38<br /> -"Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro,<br /> Que entre as lanças, e setas, e os arneses<br /> Dos inimigos corro e vou primeiro:<br /> Pelejai, verdadeiros Portugueses!"-<br /> Isto disse o magnânimo guerreiro,<br /> E, sopesando a lança quatro vezes,<br /> Com força tira; e, deste único tiro,<br /> Muitos lançaram o último suspiro.<br /> <br /> 39<br /> "Porque eis os seus acesos novamente<br /> Duma nobre vergonha e honroso fogo,<br /> Sobre qual mais com ânimo valente<br /> Perigos vencerá do Márcio jogo,<br /> Porfiam: tinge o ferro o sangue ardente;<br /> Rompem malhas primeiro, e peitos logo:<br /> Assim recebem junto e dão feridas,<br /> Como a quem já não dói perder as vidas.<br /> <br /> 40<br /> "A muitos mandam ver o Estígio lago,<br /> Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:<br /> O Mestre morre ali de Santiago,<br /> Que fortíssimamente pelejava;<br /> Morre também, fazendo grande estrago,<br /> Outro Mestre cruel de Calatrava;<br /> Os Pereiras também arrenegados<br /> Morrem, arrenegando o Céu e os fados.<br /> <br /> 41<br /> "Muitos também do vulgo vil sem nome<br /> Vão, e também dos nobres, ao profundo,<br /> Onde o trifauce Cão perpétua fome<br /> Tem das almas que passam deste mundo.<br /> E porque mais aqui se amanse e dome<br /> A soberba do amigo furibundo,<br /> A sublime bandeira Castelhana<br /> Foi derribada aos pés da Lusitana.<br /> <br /> 42<br /> "Aqui a fera batalha se encruece<br /> Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;<br /> A multidão da gente que perece<br /> Tem as flores da própria cor mudadas;<br /> Já as costas dão e as vidas; já falece<br /> O furor e sobejam as lançadas;<br /> Já de Castela o Rei desbaratado<br /> Se vê, e de seu propósito mudado.<br /> <br /> 43<br /> "O campo vai deixando ao vencedor,<br /> Contente de lhe não deixar a vida.<br /> Seguem-no os que ficaram, e o temor<br /> Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.<br /> Encobrem no profundo peito a dor<br /> Da morte, da fazenda despendida,<br /> Da mágoa, da desonra, e triste nojo<br /> De ver outrem triunfar de seu despojo.<br /> <br /> 44<br /> "Alguns vão maldizendo e blasfemando<br /> Do primeiro que guerra fez no mundo;<br /> Outros a sede dura vão culpando<br /> Do peito cobiçoso e sitibundo,<br /> Que, por tomar o alheio, o miserando<br /> Povo aventura às penas do profundo,<br /> Deixando tantas mães, tantas esposas<br /> Sem filhos, sem maridos, desditosas.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/7hCDogptIK4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/7hCDogptIK4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 33/44 por Guilherme D'Oliveira Martins. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 33<br /> "Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,<br /> Catilina, e vós outros dos antigos,<br /> Que contra vossas pátrias, com profano<br /> Coração, vos fizestes inimigos,<br /> Se lá no reino escuro de Sumano<br /> Receberdes gravíssimos castigos,<br /> Dizei-lhe que também dos Portugueses<br /> Alguns tredores houve algumas vezes.<br /> <br /> 34<br /> "Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,<br /> Tantos dos inimigos a eles vão!<br /> Está ali Nuno, qual pelos outeiros<br /> De Ceita está o fortíssimo leão,<br /> Que cercado se vê dos cavaleiros<br /> Que os campos vão correr de Tetuão:<br /> Perseguem-no com as lanças, e ele iroso,<br /> Torvado um pouco está, mas não medroso.<br /> <br /> 35<br /> "Com torva vista os vê, mas a natura<br /> Ferina e a ira não lhe compadecem<br /> Que as costas dê, mas antes na espessura<br /> Das lanças se arremessa, que recrescem.<br /> Tal está o cavaleiro, que a verdura<br /> Tinge co'o sangue alheio; ali perecem<br /> Alguns dos seus, que o ânimo valente<br /> Perde a virtude contra tanta gente.<br /> <br /> 36<br /> "Sentiu Joane a afronta que passava<br /> Nuno, que, como sábio capitão,<br /> Tudo corria e via, e a todos dava,<br /> Com presença e palavras, coração.<br /> Qual parida leoa, fera e brava,<br /> Que os filhos que no ninho sós estão,<br /> Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara,<br /> O pastor de Massília lhos furtara;<br /> <br /> 37<br /> "Corre raivosa, e freme, e com bramidos<br /> Os montes Sete Irmãos atroa e abala:<br /> Tal Joane, com outros escolhidos<br /> Dos seus, correndo acode à primeira ala:<br /> -"Ó fortes companheiros, ó subidos<br /> Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,<br /> Defendei vossas terras, que a esperança<br /> Da liberdade está na vossa lança.<br /> <br /> 38<br /> -"Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro,<br /> Que entre as lanças, e setas, e os arneses<br /> Dos inimigos corro e vou primeiro:<br /> Pelejai, verdadeiros Portugueses!"-<br /> Isto disse o magnânimo guerreiro,<br /> E, sopesando a lança quatro vezes,<br /> Com força tira; e, deste único tiro,<br /> Muitos lançaram o último suspiro.<br /> <br /> 39<br /> "Porque eis os seus acesos novamente<br /> Duma nobre vergonha e honroso fogo,<br /> Sobre qual mais com ânimo valente<br /> Perigos vencerá do Márcio jogo,<br /> Porfiam: tinge o ferro o sangue ardente;<br /> Rompem malhas primeiro, e peitos logo:<br /> Assim recebem junto e dão feridas,<br /> Como a quem já não dói perder as vidas.<br /> <br /> 40<br /> "A muitos mandam ver o Estígio lago,<br /> Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:<br /> O Mestre morre ali de Santiago,<br /> Que fortíssimamente pelejava;<br /> Morre também, fazendo grande estrago,<br /> Outro Mestre cruel de Calatrava;<br /> Os Pereiras também arrenegados<br /> Morrem, arrenegando o Céu e os fados.<br /> <br /> 41<br /> "Muitos também do vulgo vil sem nome<br /> Vão, e também dos nobres, ao profundo,<br /> Onde o trifauce Cão perpétua fome<br /> Tem das almas que passam deste mundo.<br /> E porque mais aqui se amanse e dome<br /> A soberba do amigo furibundo,<br /> A sublime bandeira Castelhana<br /> Foi derribada aos pés da Lusitana.<br /> <br /> 42<br /> "Aqui a fera batalha se encruece<br /> Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;<br /> A multidão da gente que perece<br /> Tem as flores da própria cor mudadas;<br /> Já as costas dão e as vidas; já falece<br /> O furor e sobejam as lançadas;<br /> Já de Castela o Rei desbaratado<br /> Se vê, e de seu propósito mudado.<br /> <br /> 43<br /> "O campo vai deixando ao vencedor,<br /> Contente de lhe não deixar a vida.<br /> Seguem-no os que ficaram, e o temor<br /> Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.<br /> Encobrem no profundo peito a dor<br /> Da morte, da fazenda despendida,<br /> Da mágoa, da desonra, e triste nojo<br /> De ver outrem triunfar de seu despojo.<br /> <br /> 44<br /> "Alguns vão maldizendo e blasfemando<br /> Do primeiro que guerra fez no mundo;<br /> Outros a sede dura vão culpando<br /> Do peito cobiçoso e sitibundo,<br /> Que, por tomar o alheio, o miserando<br /> Povo aventura às penas do profundo,<br /> Deixando tantas mães, tantas esposas<br /> Sem filhos, sem maridos, desditosas.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto IV, 84/95 2009-05-08T09:05:13+00:00 2009-05-08T09:05:13+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-iv-8495.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/cxopeGVxzk4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/cxopeGVxzk4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 84/95 por Simonetta Luz Afonso. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 84<br /> "E já no porto da ínclita Ulisseia<br /> C'um alvoroço nobre, e é um desejo,<br /> (Onde o licor mistura e branca areia<br /> Co'o salgado Neptuno o doce Tejo)<br /> As naus prestes estão; e não refreia<br /> Temor nenhum o juvenil despejo,<br /> Porque a gente marítima e a de Marte<br /> Estão para seguir-me a toda parte.<br /> <br /> 85<br /> "Pelas praias vestidos os soldados<br /> De várias cores vêm e várias artes,<br /> E não menos de esforço aparelhados<br /> Para buscar do inundo novas partes.<br /> Nas fortes naus os ventos sossegados<br /> Ondeam os aéreos estandartes;<br /> Elas prometem, vendo os mares largos,<br /> De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.<br /> <br /> 86<br /> "Depois de aparelhados desta sorte<br /> De quanto tal viagem pede e manda,<br /> Aparelhamos a alma para a morte,<br /> Que sempre aos nautas ante os olhos anda.<br /> Para o sumo Poder que a etérea corte<br /> Sustenta só coa vista veneranda,<br /> Imploramos favor que nos guiasse,<br /> E que nossos começos aspirasse.<br /> <br /> 87<br /> "Partimo-nos assim do santo templo<br /> Que nas praias do mar está assentado,<br /> Que o nome tem da terra, para exemplo,<br /> Donde Deus foi em carne ao mundo dado.<br /> Certifico-te, ó Rei, que se contemplo<br /> Como fui destas praias apartado,<br /> Cheio dentro de dúvida e receio,<br /> Que apenas nos meus olhos ponho o freio.<br /> <br /> 88<br /> "A gente da cidade aquele dia,<br /> (Uns por amigos, outros por parentes,<br /> Outros por ver somente) concorria,<br /> Saudosos na vista e descontentes.<br /> E nós coa virtuosa companhia<br /> De mil Religiosos diligentes,<br /> Em procissão solene a Deus orando,<br /> Para os batéis viemos caminhando.<br /> <br /> 89<br /> "Em tão longo caminho e duvidoso<br /> Por perdidos as gentes nos julgavam;<br /> As mulheres c'um choro piedoso,<br /> Os homens com suspiros que arrancavam;<br /> Mães, esposas, irmãs, que o temeroso<br /> Amor mais desconfia, acrescentavam<br /> A desesperarão, e frio medo<br /> De já nos não tornar a ver tão cedo.<br /> <br /> 90<br /> "Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha<br /> Só para refrigério, e doce amparo<br /> Desta cansada já velhice minha,<br /> Que em choro acabará, penoso e amaro,<br /> Por que me deixas, mísera e mesquinha?<br /> Por que de mim te vás, ó filho caro,<br /> A fazer o funéreo enterramento,<br /> Onde sejas de peixes mantimento!" -<br /> <br /> 91<br /> "Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,<br /> Sem quem não quis Amor que viver possa,<br /> Por que is aventurar ao mar iroso<br /> Essa vida que é minha, e não é vossa?<br /> Como por um caminho duvidoso<br /> Vos esquece a afeição tão doce nossa?<br /> Nosso amor, nosso vão contentamento<br /> Quereis que com as velas leve o vento?" -<br /> <br /> 92<br /> "Nestas e outras palavras que diziam<br /> De amor e de piedosa humanidade,<br /> Os velhos e os meninos os seguiam,<br /> Em quem menos esforço põe a idade.<br /> Os montes de mais perto respondiam,<br /> Quase movidos de alta piedade;<br /> A branca areia as lágrimas banhavam,<br /> Que em multidão com elas se igualavam.<br /> <br /> 93<br /> "Nós outros sem a vista alevantarmos<br /> Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,<br /> Por nos não magoarmos, ou mudarmos<br /> Do propósito firme começado,<br /> Determinei de assim nos embarcarmos<br /> Sem o despedimento costumado,<br /> Que, posto que é de amor usança boa,<br /> A quem se aparta, ou fica, mais magoa.<br /> <br /> 94<br /> "Mas um velho d'aspeito venerando,<br /> Que ficava nas praias, entre a gente,<br /> Postos em nós os olhos, meneando<br /> Três vezes a cabeça, descontente,<br /> A voz pesada um pouco alevantando,<br /> Que nós no mar ouvimos claramente,<br /> C'um saber só de experiências feito,<br /> Tais palavras tirou do experto peito:<br /> <br /> 95<br /> - "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça<br /> Desta vaidade, a quem chamamos Fama!<br /> Ó fraudulento gosto, que se atiça<br /> C'uma aura popular, que honra se chama!<br /> Que castigo tamanho e que justiça<br /> Fazes no peito vão que muito te ama!<br /> Que mortes, que perigos, que tormentas,<br /> Que crueldades neles experimentas!<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/cxopeGVxzk4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/cxopeGVxzk4&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto IV, 84/95 por Simonetta Luz Afonso. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto IV</strong><br /> <br /> 84<br /> "E já no porto da ínclita Ulisseia<br /> C'um alvoroço nobre, e é um desejo,<br /> (Onde o licor mistura e branca areia<br /> Co'o salgado Neptuno o doce Tejo)<br /> As naus prestes estão; e não refreia<br /> Temor nenhum o juvenil despejo,<br /> Porque a gente marítima e a de Marte<br /> Estão para seguir-me a toda parte.<br /> <br /> 85<br /> "Pelas praias vestidos os soldados<br /> De várias cores vêm e várias artes,<br /> E não menos de esforço aparelhados<br /> Para buscar do inundo novas partes.<br /> Nas fortes naus os ventos sossegados<br /> Ondeam os aéreos estandartes;<br /> Elas prometem, vendo os mares largos,<br /> De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.<br /> <br /> 86<br /> "Depois de aparelhados desta sorte<br /> De quanto tal viagem pede e manda,<br /> Aparelhamos a alma para a morte,<br /> Que sempre aos nautas ante os olhos anda.<br /> Para o sumo Poder que a etérea corte<br /> Sustenta só coa vista veneranda,<br /> Imploramos favor que nos guiasse,<br /> E que nossos começos aspirasse.<br /> <br /> 87<br /> "Partimo-nos assim do santo templo<br /> Que nas praias do mar está assentado,<br /> Que o nome tem da terra, para exemplo,<br /> Donde Deus foi em carne ao mundo dado.<br /> Certifico-te, ó Rei, que se contemplo<br /> Como fui destas praias apartado,<br /> Cheio dentro de dúvida e receio,<br /> Que apenas nos meus olhos ponho o freio.<br /> <br /> 88<br /> "A gente da cidade aquele dia,<br /> (Uns por amigos, outros por parentes,<br /> Outros por ver somente) concorria,<br /> Saudosos na vista e descontentes.<br /> E nós coa virtuosa companhia<br /> De mil Religiosos diligentes,<br /> Em procissão solene a Deus orando,<br /> Para os batéis viemos caminhando.<br /> <br /> 89<br /> "Em tão longo caminho e duvidoso<br /> Por perdidos as gentes nos julgavam;<br /> As mulheres c'um choro piedoso,<br /> Os homens com suspiros que arrancavam;<br /> Mães, esposas, irmãs, que o temeroso<br /> Amor mais desconfia, acrescentavam<br /> A desesperarão, e frio medo<br /> De já nos não tornar a ver tão cedo.<br /> <br /> 90<br /> "Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha<br /> Só para refrigério, e doce amparo<br /> Desta cansada já velhice minha,<br /> Que em choro acabará, penoso e amaro,<br /> Por que me deixas, mísera e mesquinha?<br /> Por que de mim te vás, ó filho caro,<br /> A fazer o funéreo enterramento,<br /> Onde sejas de peixes mantimento!" -<br /> <br /> 91<br /> "Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,<br /> Sem quem não quis Amor que viver possa,<br /> Por que is aventurar ao mar iroso<br /> Essa vida que é minha, e não é vossa?<br /> Como por um caminho duvidoso<br /> Vos esquece a afeição tão doce nossa?<br /> Nosso amor, nosso vão contentamento<br /> Quereis que com as velas leve o vento?" -<br /> <br /> 92<br /> "Nestas e outras palavras que diziam<br /> De amor e de piedosa humanidade,<br /> Os velhos e os meninos os seguiam,<br /> Em quem menos esforço põe a idade.<br /> Os montes de mais perto respondiam,<br /> Quase movidos de alta piedade;<br /> A branca areia as lágrimas banhavam,<br /> Que em multidão com elas se igualavam.<br /> <br /> 93<br /> "Nós outros sem a vista alevantarmos<br /> Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,<br /> Por nos não magoarmos, ou mudarmos<br /> Do propósito firme começado,<br /> Determinei de assim nos embarcarmos<br /> Sem o despedimento costumado,<br /> Que, posto que é de amor usança boa,<br /> A quem se aparta, ou fica, mais magoa.<br /> <br /> 94<br /> "Mas um velho d'aspeito venerando,<br /> Que ficava nas praias, entre a gente,<br /> Postos em nós os olhos, meneando<br /> Três vezes a cabeça, descontente,<br /> A voz pesada um pouco alevantando,<br /> Que nós no mar ouvimos claramente,<br /> C'um saber só de experiências feito,<br /> Tais palavras tirou do experto peito:<br /> <br /> 95<br /> - "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça<br /> Desta vaidade, a quem chamamos Fama!<br /> Ó fraudulento gosto, que se atiça<br /> C'uma aura popular, que honra se chama!<br /> Que castigo tamanho e que justiça<br /> Fazes no peito vão que muito te ama!<br /> Que mortes, que perigos, que tormentas,<br /> Que crueldades neles experimentas!<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto V, 1/15 2009-05-08T09:05:00+00:00 2009-05-08T09:05:00+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-v-115.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" 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font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br />Canto V, 1/15 por Margarida Pinto Correia. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto V</strong><br /> <br /> 1<br /> "Estas sentenças tais o velho honrado<br /> Vociferando estava, quando abrimos<br /> As asas ao sereno e sossegado<br /> Vento, e do porto amado nos partimos.<br /> E, como é já no mar costume usado,<br /> A vela desfraldando, o céu ferimos,<br /> Dizendo: "Boa viagem", logo o vento<br /> Nos troncos fez o usado movimento.<br /> <br /> 2<br /> "Entrava neste tempo o eterno lume<br /> No animal Nemeio truculento,<br /> E o mundo, que com tempo se consume,<br /> Na sexta idade andava enfermo e lento:<br /> Nela vê, como tinha por costume,<br /> Cursos do sol quatorze vezes cento,<br /> Com mais noventa e sete, em que corria,<br /> Quando no mar a armada se estendia.<br /> <br /> 3<br /> "Já a vista pouco e pouco se desterra<br /> Daqueles pátrios montes que ficavam;<br /> Ficava o caro Tejo, e a fresca serra<br /> De Sintra, e nela os olhos se alongavam.<br /> Ficava-nos também na amada terra<br /> O coração, que as mágoas lá deixavam;<br /> E já depois que toda se escondeu,<br /> Não vimos mais enfim que mar e céu.<br /> <br /> 4<br /> "Assim fomos abrindo aqueles mares,<br /> Que geração alguma não abriu,<br /> As novas ilhas vendo e os novos ares,<br /> Que o generoso Henrique descobriu;<br /> De Mauritânia os montes e lugares,<br /> Terra que Anteu num tempo possuiu,<br /> Deixando à mão esquerda; que à direita<br /> Não há certeza doutra, mas suspeita.<br /> <br /> 5<br /> "Passamos a grande Ilha da Madeira,<br /> Que do muito arvoredo assim se chama,<br /> Das que nós povoamos, a primeira,<br /> Mais célebre por nome que por fama:<br /> Mas nem por ser do mundo a derradeira<br /> Se lhe aventajam quantas Vénus ama,<br /> Antes, sendo esta sua, se esquecera<br /> De Cipro, Gnido, Pafos e Citera.<br /> <br /> 6<br /> "Deixamos de Massília a estéril costa,<br /> Onde seu gado os Azenegues pastam,<br /> Gente que as frescas águas nunca gosta<br /> Nem as ervas do campo bem lhe abastam:<br /> A terra a nenhum fruto enfim disposta,<br /> Onde as aves no ventre o ferro gastam,<br /> Padecendo de tudo extrema inópia,<br /> Que aparta a Barbaria de Etiópia.<br /> <br /> 7<br /> "Passamos o limite aonde chega<br /> O Sol, que para o Norte os carros guia,<br /> Onde jazem os povos a quem nega<br /> O filho de Climene a cor do dia.<br /> Aqui gentes estranhas lava e rega<br /> Do negro Sanagá a corrente fria,<br /> Onde o Cabo Arsinário o nome perde,<br /> Chamando-se dos nossos Cabo Verde.<br /> <br /> 8<br /> "Passadas tendo já as Canárias ilhas,<br /> Que tiveram por nome Fortunadas,<br /> Entramos, navegando, pelas filhas<br /> Do velho Hespério, Hespérides chamadas;<br /> Terras por onde novas maravilhas<br /> Andaram vendo já nossas armadas.<br /> Ali tomamos porto com bom vento,<br /> Por tomarmos da terra mantimento.<br /> <br /> 9<br /> "Aquela ilha apartamos, que tomou<br /> O nome do guerreiro Santiago,<br /> Santo que os Espanhóis tanto ajudou<br /> A fazerem nos Mouros bravo estrago.<br /> Daqui, tanto que Bóreas nos ventou,<br /> Tornamos a cortar o imenso lago<br /> Do salgado Oceano, e assim deixamos<br /> A terra onde o refresco doce achamos.<br /> <br /> 10<br /> "Por aqui rodeando a larga parte<br /> De África, que ficava ao Oriente,<br /> A província Jalofo, que reparte<br /> Por diversas nações a negra gente;<br /> A mui grande Mandinga, por cuja arte<br /> Logramos o metal rico e luzente,<br /> Que do curvo Gambeia as águas bebe,<br /> As quais o largo Atlântico recebe.<br /> <br /> 11<br /> "As Dórcadas passamos, povoadas<br /> Das Irmãs, que outro tempo ali viviam,<br /> Que de vista total sendo privadas,<br /> Todas três dum só olho se serviam.<br /> Tu só, tu, cujas tranças encrespadas<br /> Netuno lá nas águas acendiam,<br /> Tornada já de todas a mais feia,<br /> De bívoras encheste a ardente areia.<br /> <br /> 12<br /> "Sempre enfim para o Austro a aguda proa<br /> No grandíssimo gólfão nos metemos,<br /> Deixando a serra aspérrima Leoa,<br /> Co'o cabo a quem das Palmas nome demos.<br /> O grande rio, onde batendo soa<br /> O mar nas praias notas que ali temos,<br /> Ficou, com a Ilha ilustre que tomou<br /> O nome dum que o lado a Deus tocou.<br /> <br /> 13<br /> "Ali o mui grande reino está de Congo,<br /> Por nós já convertido à fé de Cristo,<br /> Por onde o Zaire passa, claro e longo,<br /> Rio pelos antigos nunca visto.<br /> Por este largo mar enfim me alongo<br /> Do conhecido pólo de Calisto,<br /> Tendo o término ardente já passado,<br /> Onde o meio do mundo é limitado.<br /> <br /> 14<br /> "Já descoberto tínhamos diante,<br /> Lá no novo Hemisfério, nova estrela,<br /> Não vista de outra gente, que ignorante<br /> Alguns tempos esteve incerta dela.<br /> Vimos a parte menos rutilante,<br /> E, por falta de estrelas, menos bela,<br /> Do Pólo fixo, onde ainda se não sabe<br /> Que outra terra comece, ou mar acabe.<br /> <br /> 15<br /> "Assim passando aquelas regiões<br /> Por onde duas vezes passa Apolo,<br /> Dois invernos fazendo e dois verões,<br /> Enquanto corre dum ao outro Pólo,<br /> Por calmas, por tormentas e opressões,<br />Que sempre faz no mar o irado Eolo,<br /> Vimos as Ursas, apesar de Juno,<br />Banharem-se nas águas de Neptuno.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"></td> <td width="20" height="20"></td> <td valign="top" width="320" height="20"></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/rLMymkphnyQ&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/rLMymkphnyQ&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br />Canto V, 1/15 por Margarida Pinto Correia. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto V</strong><br /> <br /> 1<br /> "Estas sentenças tais o velho honrado<br /> Vociferando estava, quando abrimos<br /> As asas ao sereno e sossegado<br /> Vento, e do porto amado nos partimos.<br /> E, como é já no mar costume usado,<br /> A vela desfraldando, o céu ferimos,<br /> Dizendo: "Boa viagem", logo o vento<br /> Nos troncos fez o usado movimento.<br /> <br /> 2<br /> "Entrava neste tempo o eterno lume<br /> No animal Nemeio truculento,<br /> E o mundo, que com tempo se consume,<br /> Na sexta idade andava enfermo e lento:<br /> Nela vê, como tinha por costume,<br /> Cursos do sol quatorze vezes cento,<br /> Com mais noventa e sete, em que corria,<br /> Quando no mar a armada se estendia.<br /> <br /> 3<br /> "Já a vista pouco e pouco se desterra<br /> Daqueles pátrios montes que ficavam;<br /> Ficava o caro Tejo, e a fresca serra<br /> De Sintra, e nela os olhos se alongavam.<br /> Ficava-nos também na amada terra<br /> O coração, que as mágoas lá deixavam;<br /> E já depois que toda se escondeu,<br /> Não vimos mais enfim que mar e céu.<br /> <br /> 4<br /> "Assim fomos abrindo aqueles mares,<br /> Que geração alguma não abriu,<br /> As novas ilhas vendo e os novos ares,<br /> Que o generoso Henrique descobriu;<br /> De Mauritânia os montes e lugares,<br /> Terra que Anteu num tempo possuiu,<br /> Deixando à mão esquerda; que à direita<br /> Não há certeza doutra, mas suspeita.<br /> <br /> 5<br /> "Passamos a grande Ilha da Madeira,<br /> Que do muito arvoredo assim se chama,<br /> Das que nós povoamos, a primeira,<br /> Mais célebre por nome que por fama:<br /> Mas nem por ser do mundo a derradeira<br /> Se lhe aventajam quantas Vénus ama,<br /> Antes, sendo esta sua, se esquecera<br /> De Cipro, Gnido, Pafos e Citera.<br /> <br /> 6<br /> "Deixamos de Massília a estéril costa,<br /> Onde seu gado os Azenegues pastam,<br /> Gente que as frescas águas nunca gosta<br /> Nem as ervas do campo bem lhe abastam:<br /> A terra a nenhum fruto enfim disposta,<br /> Onde as aves no ventre o ferro gastam,<br /> Padecendo de tudo extrema inópia,<br /> Que aparta a Barbaria de Etiópia.<br /> <br /> 7<br /> "Passamos o limite aonde chega<br /> O Sol, que para o Norte os carros guia,<br /> Onde jazem os povos a quem nega<br /> O filho de Climene a cor do dia.<br /> Aqui gentes estranhas lava e rega<br /> Do negro Sanagá a corrente fria,<br /> Onde o Cabo Arsinário o nome perde,<br /> Chamando-se dos nossos Cabo Verde.<br /> <br /> 8<br /> "Passadas tendo já as Canárias ilhas,<br /> Que tiveram por nome Fortunadas,<br /> Entramos, navegando, pelas filhas<br /> Do velho Hespério, Hespérides chamadas;<br /> Terras por onde novas maravilhas<br /> Andaram vendo já nossas armadas.<br /> Ali tomamos porto com bom vento,<br /> Por tomarmos da terra mantimento.<br /> <br /> 9<br /> "Aquela ilha apartamos, que tomou<br /> O nome do guerreiro Santiago,<br /> Santo que os Espanhóis tanto ajudou<br /> A fazerem nos Mouros bravo estrago.<br /> Daqui, tanto que Bóreas nos ventou,<br /> Tornamos a cortar o imenso lago<br /> Do salgado Oceano, e assim deixamos<br /> A terra onde o refresco doce achamos.<br /> <br /> 10<br /> "Por aqui rodeando a larga parte<br /> De África, que ficava ao Oriente,<br /> A província Jalofo, que reparte<br /> Por diversas nações a negra gente;<br /> A mui grande Mandinga, por cuja arte<br /> Logramos o metal rico e luzente,<br /> Que do curvo Gambeia as águas bebe,<br /> As quais o largo Atlântico recebe.<br /> <br /> 11<br /> "As Dórcadas passamos, povoadas<br /> Das Irmãs, que outro tempo ali viviam,<br /> Que de vista total sendo privadas,<br /> Todas três dum só olho se serviam.<br /> Tu só, tu, cujas tranças encrespadas<br /> Netuno lá nas águas acendiam,<br /> Tornada já de todas a mais feia,<br /> De bívoras encheste a ardente areia.<br /> <br /> 12<br /> "Sempre enfim para o Austro a aguda proa<br /> No grandíssimo gólfão nos metemos,<br /> Deixando a serra aspérrima Leoa,<br /> Co'o cabo a quem das Palmas nome demos.<br /> O grande rio, onde batendo soa<br /> O mar nas praias notas que ali temos,<br /> Ficou, com a Ilha ilustre que tomou<br /> O nome dum que o lado a Deus tocou.<br /> <br /> 13<br /> "Ali o mui grande reino está de Congo,<br /> Por nós já convertido à fé de Cristo,<br /> Por onde o Zaire passa, claro e longo,<br /> Rio pelos antigos nunca visto.<br /> Por este largo mar enfim me alongo<br /> Do conhecido pólo de Calisto,<br /> Tendo o término ardente já passado,<br /> Onde o meio do mundo é limitado.<br /> <br /> 14<br /> "Já descoberto tínhamos diante,<br /> Lá no novo Hemisfério, nova estrela,<br /> Não vista de outra gente, que ignorante<br /> Alguns tempos esteve incerta dela.<br /> Vimos a parte menos rutilante,<br /> E, por falta de estrelas, menos bela,<br /> Do Pólo fixo, onde ainda se não sabe<br /> Que outra terra comece, ou mar acabe.<br /> <br /> 15<br /> "Assim passando aquelas regiões<br /> Por onde duas vezes passa Apolo,<br /> Dois invernos fazendo e dois verões,<br /> Enquanto corre dum ao outro Pólo,<br /> Por calmas, por tormentas e opressões,<br />Que sempre faz no mar o irado Eolo,<br /> Vimos as Ursas, apesar de Juno,<br />Banharem-se nas águas de Neptuno.<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> Canto V, 16/25 2009-05-08T09:04:38+00:00 2009-05-08T09:04:38+00:00 http://cvc.instituto-camoes.pt/maratona-lusiadas1/canto-v-1625.html Cláudio Vinagre cvinagre@instituto-camoes.pt <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param 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Lago. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto V</strong><br /> <br /> 16<br /> "Contar-te longamente as perigosas<br /> Coisas do mar, que os homens não entendem:<br /> Súbitas trovoadas temerosas,<br /> Relâmpados que o ar em fogo acendem,<br /> Negros chuveiros, noites tenebrosas,<br /> Bramidos de trovões que o mundo fendem,<br /> Não menos é trabalho, que grande erro,<br /> Ainda que tivesse a voz de ferro.<br /> <br /> 17<br /> "Os casos vi que os rudos marinheiros,<br /> Que têm por mestra a longa experiência,<br /> Contam por certos sempre e verdadeiros,<br /> Julgando as cousas só pela aparência,<br /> E que os que têm juízos mais inteiros,<br /> Que só por puro engenho e por ciência,<br /> Vêem do mundo os segredos escondidos,<br /> Julgam por falsos, ou mal entendidos.<br /> <br /> 18<br /> "Vi, claramente visto, o lume vivo<br /> Que a marítima gente tem por santo<br /> Em tempo de tormenta e vento esquivo,<br /> De tempestade escura e triste pranto.<br /> Não menos foi a todos excessivo<br /> Milagre, e coisa certo de alto espanto,<br /> Ver as nuvens do mar com largo cano<br /> Sorver as altas águas do Oceano.<br /> <br /> 19<br /> "Eu o vi certamente (e não presumo<br /> Que a vista me enganava) levantar-se<br /> No ar um vaporzinho e subtil fumo,<br /> E, do vento trazido, rodear-se:<br /> Daqui levado um cano ao pólo sumo<br /> Se via, tão delgado, que enxergar-se<br /> Dos olhos facilmente não podia:<br /> Da matéria das nuvens parecia.<br /> <br /> 20<br /> "Ia-se pouco e pouco acrescentando<br /> E mais que um largo masto se engrossava;<br /> Aqui se estreita, aqui se alarga, quando<br /> Os golpes grandes de água em si chupava;<br /> Estava-se coas ondas ondeando:<br /> Em cima dele uma nuvem se espessava,<br /> Fazendo-se maior, mais carregada<br /> Co'o cargo grande d'água em si tomada.<br /> <br /> 21<br /> "Qual roxa sanguessuga se veria<br /> Nos beiços da alimária (que imprudente,<br /> Bebendo a recolheu na fonte fria)<br /> Fartar co'o sangue alheio a sede ardente;<br /> Chupando mais e mais se engrossa e cria,<br /> Ali se enche e se alarga grandemente:<br /> Tal a grande coluna, enchendo, aumenta<br /> A si, e a nuvem negra que sustenta.<br /> <br /> 22<br /> "Mas depois que de todo se fartou,<br /> O pó que tem no mar a si recolhe,<br /> E pelo céu chovendo enfim voou,<br /> Porque coa água a jacente água molhe:<br /> As ondas torna as ondas que tomou,<br /> Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.<br /> Vejam agora os sábios na escritura,<br /> Que segredos são estes de Natura.<br /> <br /> 23<br /> "Se os antigos filósofos, que andaram<br /> Tantas terras, por ver segredos delas,<br /> As maravilhas que eu passei, passaram,<br /> A tão diversos ventos dando as velas,<br /> Que grandes escrituras que deixaram!<br /> Que influição de signos e de estrelas!<br /> Que estranhezas, que grandes qualidades!<br /> E tudo sem mentir, puras verdades.<br /> <br /> 24<br /> "Mas já o Planeta que no céu primeiro<br /> Habita, cinco vezes apressada,<br /> Agora meio rosto, agora inteiro<br /> Mostrara, enquanto o mar cortava a armada,<br /> Quando da etérea gávea um marinheiro,<br /> Pronto coa vista, "Terra! Terra!" brada.<br /> Salta no bordo alvoroçada a gente<br /> Co'os olhos no horizonte do Oriente.<br /> <br /> 25<br /> "A maneira de nuvens se começam<br /> A descobrir os montes que enxergamos;<br /> As âncoras pesadas se adereçam;<br /> As velas, já chegados, amainamos.<br /> E para que mais certas se conheçam<br /> As partes tão remotas onde estamos,.<br /> Pelo novo instrumento do Astrolábio,<br /> Invenção de subtil juízo e sábio,<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div> <div align="left"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"> <tbody> <tr height="20"> <td valign="top" width="300" height="20"><br type="_moz" /></td> <td width="20" height="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320" height="20"><br type="_moz" /></td> </tr> <tr> <td valign="top" width="300"> <object height="190" width="300" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000"> <param value="true" name="allowFullScreen" /> <param value="always" name="allowscriptaccess" /> <param value="http://www.youtube.com/v/e58bgwgzIpA&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" name="src" /><embed height="190" width="300" src="http://www.youtube.com/v/e58bgwgzIpA&amp;hl=en&amp;fs=1&amp;color1=0x234900&amp;color2=0x4e9e00&amp;border=1" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" type="application/x-shockwave-flash"></embed> </object> </td> <td width="20"><br type="_moz" /></td> <td valign="top" width="320"> <table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="320"> <tbody> <tr> <td csheight="auto" colspan="4" valign="top" width="320" height="auto"> <div style="overflow:auto; height:250px; width:320px; padding-right: 10pt; scrollbar-base-color: #669900; scrollbar-arrow-color: #333300; scrollbar-DarkShadow-Color: #333300;"> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Leitura de <em>Os Lusíadas</em> e poemas de Camões. <br /> Canto V, 16/25 por Teresa Lago. </span></p> <p class="justificado"><span style="color: #444444; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;">Centro Cultural de Belém | Sala Fernando Pessoa Comemoração do Dia da Poesia, 22 de Março de 2009.<br /> <br /> </span></p> <hr /> <p class="justificado"><span style="color: #333333; font-size: 10pt; font-family: Arial,Helvetica,Geneva,Swiss,SunSans-Regular;"><strong>Canto V</strong><br /> <br /> 16<br /> "Contar-te longamente as perigosas<br /> Coisas do mar, que os homens não entendem:<br /> Súbitas trovoadas temerosas,<br /> Relâmpados que o ar em fogo acendem,<br /> Negros chuveiros, noites tenebrosas,<br /> Bramidos de trovões que o mundo fendem,<br /> Não menos é trabalho, que grande erro,<br /> Ainda que tivesse a voz de ferro.<br /> <br /> 17<br /> "Os casos vi que os rudos marinheiros,<br /> Que têm por mestra a longa experiência,<br /> Contam por certos sempre e verdadeiros,<br /> Julgando as cousas só pela aparência,<br /> E que os que têm juízos mais inteiros,<br /> Que só por puro engenho e por ciência,<br /> Vêem do mundo os segredos escondidos,<br /> Julgam por falsos, ou mal entendidos.<br /> <br /> 18<br /> "Vi, claramente visto, o lume vivo<br /> Que a marítima gente tem por santo<br /> Em tempo de tormenta e vento esquivo,<br /> De tempestade escura e triste pranto.<br /> Não menos foi a todos excessivo<br /> Milagre, e coisa certo de alto espanto,<br /> Ver as nuvens do mar com largo cano<br /> Sorver as altas águas do Oceano.<br /> <br /> 19<br /> "Eu o vi certamente (e não presumo<br /> Que a vista me enganava) levantar-se<br /> No ar um vaporzinho e subtil fumo,<br /> E, do vento trazido, rodear-se:<br /> Daqui levado um cano ao pólo sumo<br /> Se via, tão delgado, que enxergar-se<br /> Dos olhos facilmente não podia:<br /> Da matéria das nuvens parecia.<br /> <br /> 20<br /> "Ia-se pouco e pouco acrescentando<br /> E mais que um largo masto se engrossava;<br /> Aqui se estreita, aqui se alarga, quando<br /> Os golpes grandes de água em si chupava;<br /> Estava-se coas ondas ondeando:<br /> Em cima dele uma nuvem se espessava,<br /> Fazendo-se maior, mais carregada<br /> Co'o cargo grande d'água em si tomada.<br /> <br /> 21<br /> "Qual roxa sanguessuga se veria<br /> Nos beiços da alimária (que imprudente,<br /> Bebendo a recolheu na fonte fria)<br /> Fartar co'o sangue alheio a sede ardente;<br /> Chupando mais e mais se engrossa e cria,<br /> Ali se enche e se alarga grandemente:<br /> Tal a grande coluna, enchendo, aumenta<br /> A si, e a nuvem negra que sustenta.<br /> <br /> 22<br /> "Mas depois que de todo se fartou,<br /> O pó que tem no mar a si recolhe,<br /> E pelo céu chovendo enfim voou,<br /> Porque coa água a jacente água molhe:<br /> As ondas torna as ondas que tomou,<br /> Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.<br /> Vejam agora os sábios na escritura,<br /> Que segredos são estes de Natura.<br /> <br /> 23<br /> "Se os antigos filósofos, que andaram<br /> Tantas terras, por ver segredos delas,<br /> As maravilhas que eu passei, passaram,<br /> A tão diversos ventos dando as velas,<br /> Que grandes escrituras que deixaram!<br /> Que influição de signos e de estrelas!<br /> Que estranhezas, que grandes qualidades!<br /> E tudo sem mentir, puras verdades.<br /> <br /> 24<br /> "Mas já o Planeta que no céu primeiro<br /> Habita, cinco vezes apressada,<br /> Agora meio rosto, agora inteiro<br /> Mostrara, enquanto o mar cortava a armada,<br /> Quando da etérea gávea um marinheiro,<br /> Pronto coa vista, "Terra! Terra!" brada.<br /> Salta no bordo alvoroçada a gente<br /> Co'os olhos no horizonte do Oriente.<br /> <br /> 25<br /> "A maneira de nuvens se começam<br /> A descobrir os montes que enxergamos;<br /> As âncoras pesadas se adereçam;<br /> As velas, já chegados, amainamos.<br /> E para que mais certas se conheçam<br /> As partes tão remotas onde estamos,.<br /> Pelo novo instrumento do Astrolábio,<br /> Invenção de subtil juízo e sábio,<br /> <br /> </span></p> </div> </td> </tr> </tbody> </table> </td> </tr> </tbody> </table> </div>