Navios, Construção e Arquitectura Naval

Barca

O termo “barca” ocorre na documentação portuguesa com tal profusão, em circunstâncias tão distintas, e durante um período de tempo tão alargado, que é possível afirmar a este propósito que na realidade não designa qualquer tipo de embarcação, com características distintivas identificáveis, tratando-se antes de um termo genérico em tudo equivalente a “navio”. Todavia será possível adiantar que, de uma forma muito geral, este último se refere a embarcações de maior porte, sendo “barca” aplicado às de menor dimensão.

Na documentação dos séculos XII a XIX aparecem barcas de todas as dimensões e com todas as funcionalidades, desde a pesca, navegação fluvial e de cabotagem, até às barcas de passagem usadas para garantir o transporte de homens e mercadorias entre as margens dos rios. Nos documentos medievais Maria Alexandra Pico encontrou barcas de carga, de carreto (transporte), do condado, de congregar (que pescavam congros?), de mercadorias, de mercee (pesca), de passagem, de pescam pescar, pescado ou de pescadores, de sardinha, de sal (transporte de sal das marinas), ou taberneira, entre outras.

Nos Descobrimentos a barca protagoniza as primeiras viagens de exploração ao longo da costa africana, sendo numa barca que Gil Eanes tenta passar pela primeira vez o Bojador, em 1433, vindo a consegui-lo no ano seguinte  (“Mas logo no ano seguinte o Infante fez armar outra vez a dita barca”, Crónica dos Feitos da Guiné, cap. IX). Compreende-se que tivesse sido empregue uma embarcação pequena para a exploração de mares cujas condições de navegação eram desconhecidas, mas não é possível tirar daí mais quaisquer ilações quanto às suas características; nem sequer se tinha pano latino ou redondo, sendo muito provável que as houvesse (ou que as tivesse havido ao longo dos tempos) com estes dois tipos de velame. Por outro lado, certamente que as barcas mais pequenas tirariam partido de uma propulsão mista, empregando remos e velas.

Por fim, cumpre acrescentar que não se vê qualquer razão para crer que os termos “barca” e “barcha” pudessem designar embarcações de tipologia diferente, pois se trata, como é vulgar e se verifica em tantas circunstâncias diferentes (e não só relativas aos navios), de grafias diversas da mesma palavra.

 

Francisco Contente Domingues

 

Bibliografia

PEDROSA, Fernando Gomes (coord.), Navios, Marinheiros e Arte de Navegar 1139-1499, Lisboa, Academia de Marinha, 1997.
PICO, Maria Alexandra Tavares Carbonell, A Terminologia Naval Portuguesa Anterior a 1460, Lisboa, Sociedade de Lingua Portuguesa, 1964.

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