Navios, Construção e Arquitectura Naval

Barinel

Depois de ter fracassado uma primeira vez, em 1433, Gil Eanes foi exortado pelo Infante a tentar novamente a passagem do cabo Bojador, o que veio a conseguir em 1434. Voltando o navegador à presença do Infante deu-lhe conta do que vira, “e acabado assim o recontamento de sua viagem, fez o Infante armar um barinel, no qual madou Afonso Gonçalves Baldaia – que era seu copeiro - , e, assim, Gil Eanes com sua barca” (Gomes Eanes de Zurara, Crónica dos Feitos da Guiné, cap. IX). O cronista João de Barros foi mais explícito quanto às razões que ditaram o aparecimento do barinel nas viagens de exploração: "O Anno seguinte de trinta e quatro, como o Infante estava informado por Gilianes da maneira da terra, e da navegação ser menos perigosa do que se dizia, mandou armar hum barinel, que foi o maior navio, que té então tinha enviado, por já estar fóra de suspeita, que se tinha dos baixios, e parcel, que diziam haver além do Cabo [Bojador]. A capitania do qual deo a Afonso Gonçalves Baldaya seu Copeiro, e em sua companhia foi Gilianes em sua barca" (João de Barros, Ásia,  Década I, Livro I, cap. V).

Para Barros, portanto, a questão é simples: afastado o receio de navegar para além do Bojador, apareceu ao lado da pequena barca uma embarcação de maior porte, capaz para viagens maiores. Mas, tal como acontece em relação à barca, estas descrições são insuficientes para que se conclua mais àcerca das características deste navio específico que o Infante D. Henrique mandou para Sul.

Por outras fontes, certifica-se a existência de barinéis entre o século XIV e os inícios do século XVI, altura a partir da qual parece ter caído em desuso em Portugal (segundo Gomes Pedrosa, será funcionalmente substituído pelo galeão). Pode ter sido uma embarcação de dimensões variáveis, com um, dois ou três mastros, mas empregando remos as mais pequenas, e há a assinalar a particularidade de um dos negociantes italianos que estavam em Lisboa aquando da chegada de Vasco da Gama, Girolamo Sernigi, ter escrito que a armada que fora à Índia era composta por dois barinéis de 90 tonéis cada, e um de 50 (quando estes navios são normalmente designados por naus em outros testemunhos). Várias outras referências no período considerado dão conta do barinel ser sido empregue nas navegações de corso, de guerra e de comércio.

Francisco Contente Domingues

Bibliografia

PEDROSA, Fernando Gomes (coord.), Navios, Marinheiros e Arte de Navegar 1139-1499, Lisboa, Academia de Marinha, 1997.
PICO, Maria Alexandra Tavares Carbonell, A Terminologia Naval Portuguesa Anterior a 1460, Lisboa, Sociedade de Lingua Portuguesa, 1964.

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