Navios, Construção e Arquitectura Naval

Fusta

Navio de remo de médias dimensões, de catorze a dezoito bancos por bordo, normalmente de dois remadores. Aparelhava com um ou dois mastros que podiam ser abatidos e envergar alternadamente pano latino ou redondo. A postiça era comum. Apenas as fustas de maiores dimensões tinham arrombada de artilharia, como as galés e as galeotas. A ordenança era ligeira, usualmente não indo acima de um punhado de falcões e berços, por regra dispostos à vante.

O termo, de origem mediterrânica e comum nas narrativas medievais, designou ao longo dos séculos, e segundo o sítio, navios de características diferentes, tão pequenos como bergantins ou grandes como galés. No século XV, o nome fusta valia para um navio de remo colocado logo abaixo da galeota. Nos textos portugueses, as fustas são amiúde citadas com quinze remos por banda e sessenta remadores – sendo birremes, portanto.

No século XVI, encontramos exemplares de catorze até dezoito bancos. As fustas podiam confundir-se no limite inferior com bergantins e no limite superior com galeotas. Por norma, as diferenças residiam na subtileza do casco e no número de remadores por banco. Salvo caso raro, a fusta de dezoito bancos era mais esguia do que a galeota do mesmo calibre, principalmente porque a fusta era birreme e a galeota trirreme. Do mesmo modo, o bergantim de catorze bancos, de voga singela, era mais esguio que a fusta da mesma marca, mas birreme.

As fustas eram navios velozes e manobreiros, mas também suficientemente robustos e poderosos para enfrentar algum mar e encontros inesperados. Esta conjugação fez delas navios favoritos dos corsários e piratas. Sendo navios de remo subtis, podiam retirar sempre que fosse conveniente, não podendo ser perseguidas senão por navios similares. As fustas podiam ser navios temíveis, pois a sua tripulação combatente era sempre muito numerosa; nas fustas que andavam às presas, boa parte da chusma era constituída por marinheiros livres que se somavam ao número de combatentes. O número de remadores de uma fusta de quinze bancos era maior do que o número de tripulantes de boa parte das naus, navios ou caravelas mercantes que andavam no mar, e que representavam as presas maiores.

Esta vantagem tinha custos em termos de autonomia. Como todos os navios de remo, as fustas não podiam manter-se no mar por longos períodos, mas eram muito úteis para operações costeiras.

Navio muito comum no litoral de Marrocos, popular entre os portugueses e principalmente entre os piratas e corsários de Larache e Tetuão.

Na Índia, somente no início da segunda década de Quinhentos se detecta a sua presença. Apesar da introdução tardia, a fusta viria a ser um dos tipos mais numerosos da Armada da Índia e da marinha portuguesa em geral. Era útil não só como navio furtivo, levando a cabo missões de incursão, reconhecimento, patrulha e transporte táctico, mas também como navio secundário em operações de esquadra. Emblema do navio de remo subtil, a fusta deu nome ao conjunto dos navios de remo de porte médio e ligeiro - a fustalha - indispensável às operações navais de todo o Oriente.

José Virgílio Amaro Pissarra


Bibliografia
DOMINGUES, Francisco Contente, “Fusta”, in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol.I, Lisboa, Caminho, 1994, p.439.
PEDROSA, Fernando Gomes (coord.), Navios, Marinheiros e Arte de Navegar. 1139-1499, Lisboa, Academia de Marinha, 1997, pp.59-63.

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