Navios, Construção e Arquitectura Naval

Tonel

Vasilha para armazenagem de géneros sólidos e líquidos, que constituía o principal meio de transporte e conservação de mercadorias e alimentos a bordo dos navios de grande porte, nomeadamente nos da Carreira da Índia.

A dimensão média do tonel era de 1,5m de altura por 1m de largura máxima, valores aproximados dentro da medida das possibilidades da época, que não permitiam a rigorosa padronização das unidades lineares: quer porquanto os processos tecnológicos não o autorizavam (era impossível fabricar em madeira, artesanalmente, dois tonéis absolutamente iguais), quer porque não era necessário.

O tonel servia como meio de cálculo da arqueação dos navios de grande porte, e o seu comprimento máximo correspondia à principal medida linear empregue na construção naval: o rumo. Aliás, na técnica de construção naval portuguesa os navios definiam-se por serem de “x rumos”, ou então de “y tonéis”, correspondendo neste caso a uma determinada medida em rumos, referindo-se esta ao comprimento da quilha. Os valores médios obtidos pela consulta dos principais tratados de arquitectura naval mostram-nos por exemplo que as maiores naus da Índia, pelos finais do século XVI e princípio do século XVII, deveriam andar pelos 17-18 rumos de quilha, correspondendo a c. de 600 tonéis de arqueação. É importante notar que esta medida correspondia a uma capacidade de carga efectiva: quer dizer, uma nau ou galeão diziam-se que eram de 500 tonéis por poderem efectivamente transportar 500 tonéis no espaço considerado, que era todo aquele que estava abaixo do convés. Assim, os castelos de popa e proa não eram considerados para a contagem da capacidade do navio. Para o cálculo final da arqueação considerava-se que os espaços vazios eram preenchidos com pipas, correspondendo cada duas a um tonel. Não se usavam unidades de medida menores para esta contagem.

Francisco Contente Domingues

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