Viagens, viajantes e navegadores

Colombo, Cristóvão

Nascido em Génova em 1451, Cristóvão Colombo tornou‑se conhecido por ter sido o primeiro homem a trazer notícias consistentes sobre as terras existentes na parte ocidental do Atlântico, a América. Pelo facto de ser considerado o descobridor de um novo mundo e também porque sendo originário da península itálica, viveu muitos anos em Portugal e realizou o seu maior feito ao serviço dos Reis Católicos de Aragão e Castela e ainda porque existem alguns passos menos conhecidos da sua biografia, muito se tem especulado sobre esta personagem.

São inúmeras as teses que defendem que ele não seria genovês mas sim galego, catalão, português ou mesmo búlgaro, consoante a origem dos autores destas ideias. Teorias sobre o seu papel como espião ao serviço de D. João II ou sobre interpretações cabalísticas da sua assinatura ou do seu próprio nome também abundam. Não é obviamente sobre essas ou outras ideias fantasiosas elaboradas em redor da personagem de Colombo que tencionamos escrever mas sim sobre os factos que são comprovados por investigações históricas sérias.

Na época em que Colombo viveu eram conhecidas, pela maioria dos Europeus, as extraordinárias riquezas que o Oriente possuía, especialmente em termos de especiarias. Era objectivo de D. João II alcançar essas regiões por via marítima de modo a desviar o comércio que até então se fazia por terra, e que na Europa era controlado pelos mercadores das cidades‑estado da península itálica.

Por outro lado, na mesma época, era aceite que a Terra teria uma forma esférica. Portanto, a viagem para essas terras orientais poderia ser feita por duas vias. Uma delas seria atravessar todo o Atlântico, no sentido Norte‑Sul, de modo a contornar África voltando a subir para Norte até chegar à Índia e daí seguir mais para oriente. Esta era a via que os Portugueses andavam a explorar e que consideravam como possível, recordemos que Bartolomeu Dias já cruzara o Cabo da Boa Esperança

A outra possibilidade consistia na navegação para ocidente, sempre no hemisfério norte, na esperança que no outro lado do Atlântico se encontrasse o Extremo‑Oriente, o reino do Cipango. Uma vantagem evidente desta alternativa era o facto de não ser necessário cruzar o Equador, sendo a viagem sempre feita em regiões de clima mais ou menos temperado, mais favoráveis para os marinheiros europeus.

Viveu bastantes anos em Portugal, mais precisamente no arquipélago da Madeira onde casou com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo. Não admira pois que Colombo acompanhasse de perto os desenvolvimentos que os descobrimentos portugueses iam conhecendo, nomeadamente as notícias algo confusas que relatavam a existência de terras a ocidente. Por outro lado, tomou também conhecimento das novidades da expedição de Marco Polo ao Extremo‑Oriente. Se a tudo isto juntarmos as noções geográficas que adquiriu especialmente por influência das ideias de Toscanelli, que atribuíam para a Terra dimensões inferiores às que realmente tem, fácil será percebermos que para ele a forma mais expedita de atingir o Oriente seria navegar para Ocidente, pois o reino do Cipango “estava já ali, do outro lado deste oceano que lhe era familiar”.

Conhecedor do interesse que o Príncipe Perfeito demonstrava em atingir as terras das especiarias e vivendo em Portugal não é de estranhar que a primeira pessoa q quem apresentou o seu projecto fosse o monarca português. No entanto, este consciente de que a sua opção de contornar África, que vinha desenvolvendo há anos, lhe permitiria atingir o Oriente recusou a oferta. Nesta teria certamente pesado o facto de, tendo em conta os conhecimentos geográficos dos seus conselheiros, D. João II não ter acreditado que a viagem para ocidente fosse tão curta como Colombo sugeria.

Vendo recusada a sua oferta em Portugal, em 1486 Colombo dirige‑se para Castela e apresenta igual proposta aos Reis Católicos. Também estes começam por recusar qualquer apoio ao genovês, que tenta ainda a sua sorte junto das cortes de França e Inglaterra, obtendo também nestas uma resposta negativa. Apenas em 1492 conseguirá que a rainha Isabel, a Católica, se decida a apoiar o seu plano de alcançar o Extremo‑Oriente navegando para Oeste.

Conseguido o necessário suporte, Colombo largou, em 3 de Agosto de 1492, comandando uma armada composta por três naus: Santa Maria, Niña, e Pinta. Passando pelas Canárias dirigiram‑se para Oeste em busca das terras que o genovês tinha por certo que encontraria. Para conseguir convencer os seus marinheiros, apreensivos por navegarem em mares desconhecidos, ocultou o valor da distância realmente percorrida. Finalmente a 12 de Outubro do mesmo ano avistaram terra, uma das ilhas do arquipélago das Bahamas. Nesta viagem exploraram ainda as ilhas de Cuba e do Haiti, sempre convencido que estava nas costas do Extremo‑Oriente. Daí a designação de índios que atribuiu aos habitantes daquelas terras e que se manteve até aos nossos dias.

No regresso, em princípios de 1493, passou por Lisboa onde deu conhecimento dos resultados da sua expedição ao Príncipe Perfeito. Este reclamou para si a posse das terras encontradas por Colombo, pois de acordo com o Tratado de Alcáçovas‑Toledo, assinado pelos monarcas de Portugal e de Castela, pertencia ao monarca português o direito de descobrir terras para sul das Canárias. Foram encetadas negociações diplomáticas entre ambos os reinos e, em última análise, o resultado das mesmas foi a assinatura do Tratado de Tordesilhas que alterou significativamente os direitos de navegação e descoberta de cada um dos reinos. Passou‑se de uma linha divisória definida por um paralelo, para outra definida por um meridiano, ficando Portugal com os direitos sobre o Oriente, enquanto que Castela ficou com os direitos sobre a América, excepto o Brasil, e sobre o Pacífico.

Em Novembro de 1493 voltou a partir para ocidente, desta feita com uma grande armada, destinada a iniciar a colonização destas terras. Explorou mais ilhas das Caraíbas, no entanto não conseguiu encontrar as tão ambicionadas riquezas que ia procurar. Em 1498 tornou a partir, desta vez com intenção de explorar os mares mais para sul, tendo andado nas costas da América Central, na região da actual Venezuela. No regresso desta viagem foi preso, em 1500. O seu prestígio, recordemos que obtivera o título de almirante‑dos‑mares, vice‑rei e governador das terras que descobrira foi bastante abalado.

Apesar destas contrariedades ainda conseguiu o comando de uma quarta armada, que partindo em 1502 explorou as Honduras e a costa do Panamá. O navegador acreditava estar na Indochina, procurando o Estreito de Malaca. Regressou em 1504 vindo a morrer em 1506, abandonado por aqueles que antes o apoiaram, certamente porque teriam percebido que Colombo não atingira o Oriente como se tinha proposto. No entanto, o grande navegador morreu certamente com a convicção de que realmente alcançara terras da Ásia.

António Costa Canas


Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de, “Lá vem Cristóvão Colombo, que tem muito que contar”, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses, vol I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1991, pp. 105163.
COSTA, João Paulo, “Colombo, Cristóvão”. Luís de Albuquerque [dir.], Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, pp. 258260.
FONSECA, Luís Adão da, O Tratado de Tordesilhas e a diplomacia Lusocastelhana no século XV, Lisboa, Edições Inapa, 1991.
GIOFFRÈ, Domenico, “Cristóvão Colombo”, in Joel Serrão [dir.], Dicionário de História de Portugal, vol II, Porto, Livraria Ferreirinhas, [s.d.], pp. 102104.

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