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A existência de ilhas paradisíacas e fantásticas no Atlântico encontra-se estreitamente ligada à mitologia e ao real, tratando-se de um fenómeno que está registado pelo menos desde a Idade Clássica e que se manteve para lá do Renascimento. Entre essas ilhas, reais ou imaginárias, que surgem nessas primeiras cartas e portulanos, encontram-se as que se poderão identificar como o arquipélago da Madeira.
Apesar da mais antiga representação do arquipélago conhecida se encontrar numa carta-portulano medieval de Angelino Dulcert, de 1339, embora ainda sem a designação que a irá consagrar, o arquipélago, em especial a ilha do Porto Santo, poderá estar ligado à lenda de S. Brandão e às suas viagens, do século VIII. Lenda essa que perdurou até ao século XIX. O naufrágio e a presença de neblinas a ocultar as ilhas, que se encontram nessa lenda, poderá estar muito perto de acontecimentos que possivelmente marcaram o seu descobrimento henriquino, segundo os relatos dos cronistas da época.
Nessa época, em que os navios começavam a se fazer para Sul, as características das embnarcações, da navegação e objectivos das viagens, faziam com que estas se realizassem ao longo da costa de África, sem que se afastassem muito de terra. Assim, é natural que as primeiras ilhas a serem redescobertas tivessem sido as ilhas Canárias, por se encontrarem mais perto. No entanto, para uma viagem de retorno mais rápida, era necessário que os navios se afastassem um pouco mais para o largo para usufruírem de ventos mais favoráveis. Terá sido, talvez, numa situação de um maior afastamento, numa viagem de retorno, ou por acção de um temporal, que o arquipélago da Madeira é trazido, de uma forma definitiva, para a esfera de influência da coroa de Portugal.
Contudo, não é só a sua existência que se encontra envolta nas neblinas da História, pois o mesmo se passa com o seu redescobrimento, em que uma tradição romântica atribui o seu novo achamento a uma aventurosa viagem de dois amantes, no século XIV, em que ele, inglês e de nome aportuguesado Machim, cujo nome teria estado na origem do topónimo Machico, a primeira capital da ilha da Madeira.
Assim, e apesar de existirem cerca de 9 cartas assinadas, antes de Gonçalo Zarco e Tristão Teixeira, aos quais o descobrimento da Madeira é normalmente atribuído, a viagem intencional destes dois homens do Infante D. Henrique, baseada num pré-achamento fortuito anterior de outros ou dos próprios, realizou-se cerca de 1419, tendo a ilha do Porto Santo servido para dar guarita inicial aos descobridores. A descoberta da ilha da Madeira só teria acontecido posteriormente, pois esta encontrava-se normalmente envolta em nevoeiros, conforme teria acontecido com S. Brandão, o que teria dificultado o seu achamento mais cedo.
Augusto Salgado
Bibliografia
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