Diogo Gomes de Sintra, almoxarife da Vila de Sintra, foi um dos navegadores da Casa do Infante D. Henrique. O seu nome está indissociavelmente associado a um texto escrito em latim, com o título de De prima inuetione Guinee, inserto no "Manuscrito Valentim Fernandes", nome do códice encontrado por J. A. Schmeller em 1847, na Biblioteca Nacional de Munique. O texto passou a ser conhecido por Relação de Diogo Gomes, sendo um dos primeiros testemunhos sobre as navegações henriquinas. Foi objecto de atenção de humanistas como o alemão Korand Peutinger ou o português Damião de Góis durante o século XVI e constitui uma fonte inultrapassável no que diz respeito à história das primeiras explorações do litoral africano, quando se iniciam as navegações portuguesas no século XV. Começando o Relato na primeira pessoa, Diogo Gomes assume-se como um homem do Infante, contactando povos desconhecidos, encetando com eles relações diplomáticas e de comércio ao mesmo tempo que difunde a fé cristã. Outras informações interessantes são transmitidas: por exemplo, surge-nos a primeira menção directa ao uso do quadrante.
A autoria do Relato tem sido muito discutida, pois um segundo personagem aparece relacionado com o texto: o alemão Martin Behaim, conhecido em português por Martinho da Boémia. Terá Diogo Gomes relatado oralmente o texto ao alemão? Ou escreveu-o pelo seu próprio punho? A nova e última edição do Relato, feita pelo latinista Aires A. Nascimento devolve a Diogo Gomes a autoria do manuscrito, demonstrando a inconsistência de uma opinião contrária. Todavia, a forma como tem sido debatida a autoria do Descobrimento Primeiro da Guiné, leva-nos obrigatoriamente a pensar nos complexos problemas que se nos deparam quando estamos perante textos produzidos durante o período dos Descobrimentos: a autoria, os motivos da redacção, a sua divulgação, a aceitação, as reformulações introduzidas de editor para editor, o papel do relato oral e da escrita, a preservação da memória das navegações, no fundo tudo o que rodeia a concepção e divulgação de um discurso, elaborado por um navegador ou outro intérprete que siga de perto as navegações.
A pouca informação de que dispomos sobre a vida deste navegador permite-nos saber, somente, que era moço da câmara do Infante D. Henrique. Exerceu as funções de almoxarife e vedor dos Paços Reais de Sintra, e ainda de escudeiro e cavaleiro da Casa Real. Os títulos e cargos que ocupou denunciam um curioso percurso social, muito diversificado, espelhando, em parte, as novas funções sociais desempenhadas pela nobreza em finais da Idade Média. Das viagens que efectuou, sabe-se que com Gil Eanes e Lançarote de Freitas participou na expedição militar de 1445 à ilha de Tider. Nomeado, entretanto, escrivão da carreagem real, a 12 de Junho de 1451, presta serviço em simultâneo tanto à Casa henriquina como à Coroa.
Como demonstrou Teixeira da Mota, Diogo Gomes navegou em 1456 até à embocadura do rio Grande, canal do Geba. No regresso subiu o rio Gâmbia até Cantor, em busca de informações sobre o comércio do ouro e das vias que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas saarianas que desembocavam no litoral marroquino. Durante esta expedição, Diogo Gomes capitaneava uma esquadra de três navios. Possivelmente no regresso desta exploração tocou o arquipélago de Cabo Verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano António de Noli. Ainda antes da morte do Infante D. Henrique (1460), regressa à costa africana explorando agora o rio de Barbacins (Salum).
Depois do falecimento do Infante reforça-se a sua ligação à Corte, adquirindo o já citado título de cavaleiro. O cargo de almoxaraife de Sintra está documento desde 28 de Outubro de 1459 até 1480. Desempenhou outras actividades, tais como a de juiz dos Feitos das Coutadas, das Caças e Montaria, também na vila de Sintra e seu termo, por carta de 25 de Março de 1466 - ocupando em acumulação com o ofício de juiz das Sisas da vila de Colares, por carta régia confirmada em 1482. Não se sabe ao certo em que ano terá falecido, ficou registado porém um pagamento que sua mulher fez em 1502 por sua alma, ficando assim provando o seu desaparecimento antes desta data.