Viagens, viajantes e navegadores

Sintra, Pedro de

Apesar de ser bem conhecida a sua importância no campo das navegações portuguesas do século XV, das origens de Pedro de Sintra, como de muitos outros navegadores do seu tempo, pouco sabemos. João Martins da Silva Marques e Alberto Iria defenderam a possibilidade de este navegador ser filho de Gonçalo de Sintra, descrito por Zurara como tendo sido «moço de estribeyra» e mais tarde escudeiro do Infante D. Henrique, e que, ao seu serviço, juntamente com Dinis Dias, terá descoberto o Cabo Branco e a ilha de Arguim, vindo a falecer em 1444 na ilha de Naar ou de Tíder. Deste modo, e segundo estes autores, Pedro de Sintra seria provavelmente natural de Lagos, tendo continuado a servir D. Henrique nas suas viagens de descobrimento após a morte de seu pai.

Com efeito, é de Luís de Cadamosto que nos chegam os primeiros e mais completos relatos das suas viagens, nomeadamente da exploração do litoral africano entre a foz do rio Geba e o cabo Mensurado, durante a qual terá descoberto e “baptizado” a Serra Leoa, fixando o autor a data desta descoberta após a morte do Infante. No entanto, e segundo Duarte Pacheco Pereira, Rui de Pina e João de Barros, o reconhecimento do litoral africano até à Serra Leoa teria sido feito, sem sombra para dúvidas, ainda durante a vida do Infante. Duarte Pacheco, na sua obra Esmeraldo de Situ Orbis, afirma mesmo que tal lhe foi confirmado pelo próprio navegador, apresentando também a origem do nome atribuído ao limite geográfico das navegações henriquinas: «por ver uma terra tão áspera e brava lhe pôs nome Leoa, e nom per outra cousa; e isto se nom deve duvidar porque é verdade, por que ele me disse assim». Segundo Damião Peres, a explicação para o equívoco de Cadamosto poderá residir na possível fusão numa só viagem de duas efectuadas por Sintra, antes e após a morte do Infante, até ao sul do Cabo Mensurado.

De facto, após a morte do Infante, Pedro de Sintra terá continuado as suas viagens de descobrimento para sul da Serra Leoa, sob as ordens de D. Afonso V, sendo que, pelo valor dos serviços prestados, o monarca veio a conceder-lhe em 1464 carta de mercê, atribuindo-lhe o cargo de recebedor das «cousas de guinee» que chegavam ao Algarve, bem como a quantia anual de 4.000 reais brancos.

Deste modo, terão sido a experiência e as qualidades demonstradas que levaram D. João II a nomeá-lo capitão de uma das duas urcas integradas na frota de Diogo de Azambuja, em 1481, com a missão de edificarem a fortaleza de São Jorge na Mina. No entanto, e segundo Alberto Iria, Pedro de Sintra não teria regressado mais ao reino, uma vez que terá falecido «nas partes de Guiné» em 1484.

Bruno Gonçalves Neves


Bibliografia
GARCIA, José Manuel – “Sintra, Pedro de”, in Luís de Albuquerque [dir.], Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 994-995.
IRIA, Alberto, Estudos Henriquinos, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1989.
MARQUES, João Martins da Silva, Sintra e Sintrenses no Ultramar Português, Lisboa, [s.n.], 1946
PERES, Damião [pref.], Viagens de Luís de Cadamosto e Pedro de Sintra, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1988.
SOUSA, João Silva de, A Casa Senhorial do Infante D. Henrique, Lisboa, Livros Horizonte, 1991.
ZURARA, Gomes Eanes da, Crónica de Guiné, segundo o manuscrito de Paris. Modernizada. Introdução, notas, novas considerações e glossário de José de Bragança, [s.l.], Livraria Civilização, 1973.

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