Viagens, viajantes e navegadores

Sousa, Pêro Lopes de

Secundogénito de Lopo de Sousa e D. Brites de Albuquerque, Pêro Lopes terá nascido um ou dois anos depois do seu irmão mais velho, Martim Afonso de Sousa (n.1500), sendo Vila Viçosa a naturalidade mais plausível. Morreu em inícios de 1540, atravessando o Índico, na torna-viagem da Carreira da Índia. Descendia de Martim Afonso Chichorro, bastardo de D. Afonso III, sendo um fidalgo de alta linhagem. Era primo do rei, primo direito do todo poderoso D. António de Ataíde, conde da Castanheira, e de Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil. Foi o primeiro capitão donatário de Itamaracá, Santo Amaro e Santa Ana; comandou várias armadas de guarda-costa do reino e a armada da carreira da Índia de 1539. Casou com D. Isabel de Gambôa, de quem teve dois filhos e uma filha.

As notícias mais antigas que dele se conhecem são a propósito da famosa expedição ao Brasil, de que foi sota-capitão, saída de Lisboa a 3/12/1530 sob o comando do irmão Martim Afonso. As supostas anteriores participações em armadas de guarda costa e na expedição brasileira de 1526-28 de Cristóvão Jacques não foram ainda confirmadas. Certo é que o Pêro Lopes da expedição fundadora de 1530 era um marinheiro experiente que não parecia ignorar a manobra ou a pilotagem, como de resto se pode comprovar pela leitura da sua Navegação – o documento principal sobre a viagem. Conhecimentos invulgares para um capitão de navio da época e mais ainda para um grande fidalgo. Não restam dúvidas de que Pêro Lopes se fez nauta bem antes de 1530, apesar de não podermos registar o seu percurso de aprendizagem.

“Pêro Lopes de Sousa, a quem todos os portugueses devemos confessar vantagem e dar obediência no mister e ofício do mar”, escreveu ao rei, em 1539, D. João de Castro, de um capitão que invulgarmente percorreu uma “carreira” nas armadas do Atlântico, longe da Armada da Índia. De facto, poucos capitães se podiam gabar de uma folha de serviços tão repleta de bonança e vitória como a de Pêro Lopes, o qual, para além das suas qualidades marinheiras, tinha particulares aptidões como militar, como se pode concluir pelos cinco navios franceses capturados no Brasil, pela participação na expedição de Tunes (1535), comandando uma das caravelas redondas, e pela intensa actividade contra o corso desenvolvida na costa portuguesa e Açores, entre 1536 e 1538.

Em 1539, foi-lhe confiado o comando da Armada da Carreira que sem contraste chegou a Goa em Setembro do mesmo ano. Foi implacável no aprestamento dos navios para a torna-viagem, como de resto era exigido (e raras vezes cumprido) a todos os capitães da Carreira, chegando a mandar borda fora fato, mercadorias e mesmo alguns escravos, atitude que lhe mereceu o ódio dos portugueses da Índia. Gaspar Correia chamou-lhe tirano e foi ao ponto de afirmar que a sua morte por naufrágio, pese embora tanto zelo, fora castigo de Deus, mesmo admitindo o preço da vida dos seus companheiros.

Pêro Lopes de Sousa zarpou da Índia em inícios de 1540 mas não chegou a Moçambique. Como tantos outros navios, a sua nau Esperança “galega” terá sido engolida pelo mar na travessia do Índico, sem que se pudesse precisar o local ou a data do desastre.

José Virgílio Amaro Pissarra


Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de (ed.), Martim Afonso de Sousa, Lisboa, 1989.
CASTRO, Eugénio de (ed.), Diário da Navegação de Pêro Lopes de Sousa. 1530-1532, 2ª ed., 2 vols., Rio de Janeiro, 1940.
FREITAS, Jordão de, “A Expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1533)”, in História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol.III, Porto, 1924, pp.97-164.
TRÍAS, Rolando A. Laguarda, “A Viagem de Martim Afonso de Sousa”, in História Naval Brasileira, 1º vol., tomo II, Rio de Janeiro, 1975, pp.349-622.

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