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Sousa, Martim Afonso de
Martim Afonso de Sousa nasceu em Vila Viçosa no ano de 1500, sendo filho de Dª Brites de Albuquerque e de Lopo de Sousa, membro do Conselho Real de D. Manuel e fidalgo da casa do Duque de Bragança, D. Jaime. Com a idade de dezasseis anos, passou a ser um frequentador assíduo da corte, integrando uma tertúlia intelectual que se reunia à volta do infante D. Luís e tinha como figura central o Dr. Pedro Nunes, com quem aprendeu Matemática, Astronomia, Cosmografia e, muito provavelmente, Navegação, matérias que estudadas de uma forma teórica e especulativa, que integravam a formação humanista, adequada à jovem nobreza portuguesa, fascinada com a expansão ultramarina.
É natural que tenha feito a sua estreia com armas, nas praças do Norte de África, mas a primeira grande missão de que é incumbido pelo rei D. João III é o comando de uma esquadra de cinco navios, que deveria deslocar-se até ao Brasil com várias missões: a primeira seria a de dar caça aos navios franceses que começavam a surgir por aquelas paragens, em busca de ouro e pau Brasil; e a segunda não menos importante, pela certa era a de proceder ao reconhecimento geográfico de toda a costa, explorando a entrada dos rios mais importantes e abrigados (aqueles que poderiam constituir abrigo para navios em actividade de comércio), procurando estabelecer núcleos populacionais que viessem a ser os futuros centros de colonização (reconheceu de Pernambuco ao Rio da Prata). Apesar de se ter deparado com dificuldades de vária ordem, levou a bom termo todos os objectivos de que tinha sido incumbido, lançando as bases para a formação da capitania de S. Vicente a primeira em terras do Brasil e dando início a uma nova fase da Expansão Portuguesa que entrava definitivamente na América do Sul.
Regressou a Lisboa em Agosto de 1533, mas em Maio do ano seguinte partiu para a Índia, onde o governador Nuno da Cunha o nomeou Capitão-Mor da Armada da Índia e o incumbiu da conquista de Damão, porto que servia de abrigo a forças navais que constantemente atacavam os portugueses em Baçaim. A sua acção militar foi notável, conseguindo juntar o temor que provocara com um certo tacto diplomático que lhe permitiu convencer o rei de Cambaia a aceitar a construção de uma fortaleza em Diu, criando todas as condições para um domínio naval na região do Guzerate. Pelo cargo que lhe fora atribuído, competia-lhe garantir a supremacia portuguesa em toda a costa indiana, e foi nessa condição que no ano seguinte defrontou e venceu o Samorim de Calecut, ancestral inimigo dos portugueses, que voltava a quebrar a paz e a atacar o rei de Cochim, tradicional aliado de Portugal. Deve notar-se que, nesta altura, já era a partir de Goa que eram governados os interesses portugueses na Índia, contudo, Cochim continuava a desempenhar um papel importante e era uma aliança que interessava preservar, na Costa do Malabar.
Em 1539 estava de volta à capital do reino, mas a fama que trazia da Índia aconselhava o seu nome para governador daquelas paragens e para aí voltou em 1541. Desempenhou o cargo por três anos, destacando-se pela habilidade diplomática que aliou ao conhecimento geopolítico da região, permitindo-lhe resolver alguns dos mais graves problemas que afrontavam o Estado Português da Índia. Nomeadamente deu um enorme impulso para a resolução da catastrófica situação económica em que viviam os portugueses no Oriente, não sem ter deixado uma fama de corrupção e de favorecimento de interesses pessoais, sussurrados por Gaspar Correia, e que tanto podem significar que geriu os negócios em seu proveito, ou que apertou os cordões da bolsa do orçamento com vigor draconiano. A Diogo do Couto lhe parece que poupou mais o supérfluo e despendeu melhor o necessário que todos. Quando foi substituído por D. João de Castro, em 1545 e segundo cartas que o próprio escreve a D. Manuel - a esquadra da Índia estava em péssimo estado, como mal estava a artilharia e o armamento ligeiro, todavia, pelas palavras do próprio (na sua auto-biografia) refere que entregou a Índia muito pacífica, e a gente de el-Rei nosso senhor e suas armadas mui acreditadas. E é provável que o tenha feito, embora a ameaça turca já despontasse no horizonte, acabando por cair em cima do novo governador, obrigando-o a um esforço militar que os seus escritos não deixam adivinhar.
Nessa altura voltou a Lisboa, onde integrou o Conselho de Estado, ocupando o cargo durante o resto do reinado de D. João III, as regências de Dª Catarina e do Cardeal Infante, e ainda durante uma parte do reinado de D. Sebastião. Não se sabe exactamente a data da sua morte, podendo estimar-se que fora por alturas de 1570.
Luís Jorge Semedo de Matos
BIBLIOGRAFIA:
ALBUQUERQUE, Luís, org., Martim Afonso de Sousa, Lisboa, Publicações Alfa, S.A., 1989.
CORREIA, Gaspar, Lendas da Índia, 4 vols, Porto, Lello & Irmão, 1975.
CORTESÃO, Armando, ALBUQUERQUE, Luís, org., Obras Completas de D. João de Castro, vol III, Coimbra, Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1976.
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